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Sinopse

O cineasta Jean-Stéphane Bron passou um ano na famosa Ópera de Paris, observando a rotina agitada e os bastidores da preparação de músicos, dançarinos, técnicos e da parte administrativa. Ensaios de grandes espetáculos e a revelação de grandes jovens músicos dão o tom da produção.

Crítica

Assim como a bandeira francesa e a Torre Eiffel, alinhadas emblematicamente no primeiro plano deste documentário dirigido por Jean-Stéphane Bron, a Ópera de Paris é um patrimônio francês. Seu prédio foi projetado no contexto da grande reforma urbana da capital no Segundo Império. Todavia, mesmo que a câmera às vezes se detenha, obviamente admirada, em algum detalhe e/ou estrutura arquitetônicos, o foco de A Ópera de Paris é fazer uma análise, em certa medida, funcionalista. A instituição é encarada como um organismo vivo e pulsante por conta das inúmeras iniciativas humanas, sejam elas operacionais ou artísticas. O afinamento de todas essas instâncias profissionais, cujos empenhos são registrados em colaboração constante, é imprescindível para o desempenho do todo, inclusive como espaço simbólico da cultura francesa. Não há uma disposição para estabelecer núcleos dramáticos determinantes, no máximo alguns personagens pontualmente viram protagonistas dessa investigação parcimoniosa.

A Ópera de Paris fica demasiadamente preso, no começo, aos desígnios do diretor do local, do que deriva uma sensação, logo refutada pelos caminhos tomados, de que o longa-metragem se deterá com afinco na dimensão administrativo-burocrática da organização. Vemos repetidas vezes esse homem negociando com investidores, abrindo diálogo com o Estado, ou seja, esforçando-se para que a Ópera de Paris, também conhecida como Ópera Garnier, permaneça produzindo. Também é permitido ao espectador vislumbrar tratativas sindicais em que são ventiladas possibilidades de greve, em virtude dos déficits salariais. Todavia, Jean-Stéphane Bron não se atém às particularidades, às discussões, inclusive as de ordem social, que poderiam emergir. O olhar do realizador sempre está voltado à imagem ampla, àquilo que é permitido pela junção das frações, não a elas propriamente. Isso gera uma ocasional aura de dispersão, pois os assuntos vêm à tona, mas logo cedem lugares à próxima observação.

Porém, essa vontade de escrutinar o conjunto, em detrimento da atenção estrita, é nutrida pela forma eficiente com que o cineasta vai costurando uma peça na outra. A câmera não se demora, mas demonstra curiosidade pelos detalhes que passam despercebidos frequentemente, como o semblante da ajudante de palco que precisa enxugar o suor da prima-donna que solta a voz para, adiante, receber o calor do público. A Ópera de Paris também ensaia se tornar um documentário sobre esses ânimos de bastidor, pela maneira como, volta e meia, se mostra disposto a deixar de lado as luzes da ribalta para identificar os trabalhadores anônimos ao grande público. Entretanto, a já mencionada dinâmica narrativa, com pautas se entrecruzando nem sempre organicamente, enfraquece esse viés. Com isso, tem-se realmente um painel relativamente amplo da Ópera de Paris, mas não sem o sacrifício da força dramática dos componentes vislumbrados em diversas esferas.

Sobressai a impressão de que A Ópera de Paris, exatamente por falta de um centro definido, se resigna a ser uma peça institucional que narra com competência a interdependência dos vários setores da organização a qual se presta detalhar. Uma figura recorrente é o tenor Mica, russo aceito na Ópera de Paris por conta de suas extraordinárias aptidões vocais. Ele é visto praticando, cobrando-se excessivamente, demonstrando encantamento diante de um cantor famoso, simpático à sua juventude e ímpeto de iniciante, mas não é dado a ele terreno para expandir-se, a fim de assumir uma posição de destaque. Ele é tratado como mais uma peça desse quebra-cabeça que aos poucos revela uma imagem algo nítida, mas não tanto quanto Jean-Stéphane Bron quer nos fazer crer. Os desperdícios enfraquecem o filme, fazendo dele um exemplar valioso pela curiosidade que desperta, por sua capacidade de documentar, mas que alcança resultados pouco além da mera constatação das agruras cotidianas do backstage.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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