Lorna Washington: Sobrevivendo a Supostas Perdas
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Rian Córdova, Leonardo Menezes
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2016
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Brasil / EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Estrela dos palcos gays nos anos 1980 e 1990, Lorna Washington virou um ícone do transformismo carioca. Longe dos holofotes, ela mora num conjunto habitacional, trabalha em saunas e enfrenta problemas de saúde.
Crítica
Atualmente, realizar um filme de média-metragem é uma atitude muito arriscada. O realizador que opta por este formato é um corajoso. E isso por existirem poucos festivais que selecionem obras com quarenta e poucos minutos, uma vez que a grande maioria destas janelas dão preferência por curtas ou longas, que se encaixam mais facilmente em um modelo padrão para suas mostras. Portanto, justamente por exibir médias-metragens, o Rio Festival de Gênero & Sexualidade no Cinema 2016 já merece uma consideração especial, além, é claro, da nossa simpatia. Somado a isso, temos entre os títulos selecionados uma cujo tema é fundamental para entender o começo do movimento transformista. Pois é o que encontramos em Lorna Washington: Sobrevivendo a Supostas Perdas, um retrato da artista carioca Lorna Washington (cujo nome real é Celso Maciel).
O documentário aborda o talento e o estilo que marcaram as performances memoráveis de Lorna, apresentando os bastidores dos shows das boates e saunas, além de tocar em temas como conscientização do HIV e orgulho LGBT. Lorna Washington foi ícone das boates gays do Rio de Janeiro nas últimas décadas do século XX. Uma trajetória iniciada aos 18 anos, numa noite despretensiosa na Galeria Alaska, antigo reduto homossexual em Copacabana. Era o começo dos anos 1980. Enquanto dublava Você não soube me amar, sucesso da Blitz na época, ela não imaginava que estava virando uma drag queen (ou transformista, como se dizia naquele tempo).
A projeção é um grande painel dos anos de ouro de Lorna e outros iguais a ela. Mesclando depoimentos de jornalistas, colegas, frequentadores do circuito e familiares (se destacam as participações de Rogéria, do carnavalesco Milton Cunha, do ativista político Almir França e das transformistas Rose Bombom e Isabelita dos Patins) com diversas imagens de arquivo pessoal e matérias de programas de TV, assistimos a uma análise minuciosa e afetiva sobre Lorna Washington, seus shows pelo Brasil afora e também em Nova Iorque, onde recebeu elogios e reconhecimentos. A linguagem é de documentário tradicional, reunindo na sua montagem depoimentos e cenas de arquivo, tudo num clima muito animado, com destaque para as trilhas sonoras da época.
Mas não é apenas glamour e memória que se tem ao longo do média-metragem. Quando os holofotes se apagam, as câmeras revelam uma rotina menos curiosa. Lorna e os realizadores Leonardo Menezes e Rian Córdova não guardam segredos da vida cotidiana e sem luxo, nem tampouco das dificuldades atuais. Vemos a moradia num conjunto habitacional, o trabalho em saunas e a lida com graves problemas de saúde que levaram a estrela a abandonar os saltos, mas nunca o rebolado. Sempre com o humor e a irreverência que lhes são característicos, vistos ao longo da projeção. Ícone do transformismo no Rio de Janeiro, Lorna Washington é conhecida por sua militância e opiniões polêmicas. Fez história em casas que marcaram época, como Papagaio, Incontrus e a Le Boy. Sua luta contra o preconceito, focada na conscientização sobre o vírus do HIV, também a levou à Assembleia Legislativa do Rio para receber uma homenagem. Um reconhecimento justo a um artista desconhecido do grande público. Cujo talento e atitude merece não apenas aplausos, mas uma celebração digna da sua arte e seu trabalho.
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