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Crítica

Um dos maiores fenômenos recentes do cinema mexicano atende por Los Nobles: Quando os Ricos Quebram a Cara. Só pelo subtítulo nacional é possível se ter uma ideia do porquê de tamanho sucesso – afinal, quem não quer ver uma elite distanciada do povo se dando mal? Infelizmente, o filme escrito e dirigido por Gary Alazraki promete mais do que cumpre, conformando-se com risos comedidos e soluções rocambolescas. Ao investir no lugar comum de enganos e confusões que só no campo da ficção poderiam de fato ganhar espaço, o roteiro opta por se apoiar em uma história em tom de fábula, sem o menor pé na realidade. Constitui-se, assim, num exercício de escapismo social de cores fortes e exageros, que encontra ressonância apenas num espectador menos preocupado e pouco exigente.

Germán Noble (Gonzalo Vega) é um rico empresário que desde que ficou viúvo passou a tratar os três filhos atendendo todos os seus desejos. Hoje, já adultos, são mimados e insuportáveis, que não fazem nada certo e nem parecem preocupados com o negócio da família. Javi (Luis Gerardo Méndez, de Cantinflas, 2014) é um playboy que quer apenas viajar com os amigos e investir tempo e dinheiro em ideias estapafúrdias e sem conexão com a realidade. Barbie (Karla Souza, de Não Aceitamos Devoluções, 2013) é a filhinha de papai que dá bola para o empregado, mas está prestes a se casar com um interesseiro de olho em sua fortuna. E Charlie (Juan Pablo Gil) é um hippie que prefere transar com as professoras ao invés de prestar atenção nas aulas.

O único caminho que o pai enxerga para aplicar-lhes uma lição é fingir um golpe na empresa que os tornariam pobres. Assim, mudam-se para um antigo casebre abandonado e passam a desenvolver hábitos até então desconhecidos, como cumprir horários de trabalho, tratar bem colegas de atividades e economizar seus ganhos. O mais velho se torna motorista de ônibus, a garota vira garçonete e o caçula vai trabalhar como caixa de banco. No entanto, o que o filme entende como lição de vida, para o espectador irá soar como uma continuidade do mesmo modo de ser do trio, porém diante de uma nova perspectiva: o primeiro continua sonhando com meios de mudar de vida, ela segue ouvindo o coração, sem se preocupar com a própria carreira profissional, e o menor volta a encontrar maneiras de levar uma vida mais fácil investindo no seu potencial como galanteador. Mais farsesca a situação se torna quando o noivo da garota reaparece, chantageado o sogro para manter o segredo da armação em troca de uma parte da herança.

Disfarçado de crítica social, Los Nobles resume-se, no entanto, em ser uma comédia ligeira que não deve causar maiores impactos além daqueles percebidos durante sua projeção. As situações apresentadas investem em arquétipos pouco inspirados, e cada reviravolta proposta pela trama se dá sem grandes tropeços, de forma simplista e pouco evoluída. É um filme raso em conteúdo e em intenções, bem similar às comédias brasileiras de maior repercussão nas bilheterias. Uma prova de que esse tipo de produção tão atacada pelos críticos e vista com entusiasmo pelo público não é uma característica somente nossa.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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