Crítica
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Sinopse
Quatro amigas viajam à China em busca de pistas sobre a mãe biológica de uma delas.
Crítica
Por anos – ou melhor, décadas – o cinema feito em Hollywood (e, convenhamos, na maior parte do mundo) era sinônimo de uma produção majoritariamente masculina, que falava de temas e signos relacionados em sua imensa maioria a esse tipo de público. De uns tempos para cá, principalmente após a virada do século, felizmente essa realidade tem começado a mudar. Minorias têm conquistado espaço e voz nesse discurso, e as mulheres são parte dessa transformação. É de se lamentar, no entanto, que muitas ainda se mostrem impregnadas por uma visão antiquada, tal qual era quando apenas os homens estavam habituados a ditar as regras. Adele Lim, diretora e roteirista de Loucas em Apuros, se mostra confortável nessa situação, o que parece ser o de maior a se lamentar diante desta obra que, ao invés de privilegiar um discurso de sororidade e empoderamento – como, de forma enganosa, divulga como peça de marketing – se mostra frágil diante de qualquer tipo de análise mais acurada, revelando contornos incapazes de disfarçar suas reais – e misóginas – intenções.
Por mais que a história tenha como protagonistas quatro mulheres, e elas também estejam em maioria nos bastidores, há um nome envolvido com esse projeto que se confirma como revelador em relação ao que resulta em cena: Seth Rogen. O astro conhecido por comédias escrachadas – e assumidamente masculinas – como O Virgem de 40 Anos (2005), Segurando as Pontas (2008) e Festa da Salsicha (2016), entre tantas outras de teor similar, aparece como produtor de Loucas em Apuros ao lado de alguns dos seus habituais “parceiros de crime”, como James Weaver (produtor de Vizinhos, 2014), Evan Goldberg (diretor de É O Fim, 2013) e Josh Fagen (produtor de Vizinhos 2, 2016). Fica claro, portanto, que a percepção de se estar diante de um manifesto feminista é equivocada, uma vez que quem proporcionou as condições para que elas, de um jeito ou de outro, pudessem se manifestar foi esse grupo de homens. E eles só aprovariam, evidentemente, algo que fosse de encontro com o seu próprio senso se humor.
Eis, portanto, o resultado que agora se apresenta: um quarteto de mulheres asiáticas (para reforçar a representatividade) que agem e se comportam como homens brancos norte-americanos de classe média. Se trocassem uns pelos outros, pouca diferença se perceberia na trama. Se não, vejamos: a protagonista é insegura e não consegue se posicionar diante dos seus superiores no trabalho, se enrolando em mentiras e confusões; a melhor amiga é uma incompetente que acredita que um dia conseguirá viver da própria arte (sem se esforçar nesse sentido) e que, portanto, até hoje só consegue sobreviver graças à caridade daquela que conhece desde pequena; a terceira é a desmiolada e sem noção que no fundo revela uma timidez paralisadora e um bom coração (quase como uma versão oriental de Zach Galifianakis da trilogia Se Beber Não Case); e, por fim, a bem-sucedida nada mais é do que uma ninfomaníaca que finge ser virgem para agradar o namorado de corpo escultural, mas que na verdade esconde um passado mais ousado, que inclui até uma tatuagem erótica proibida para menores (que, mesmo assim, acaba sendo revelada de forma explícita em uma das passagens mais gratuitas e de maior embaraço do conjunto).
Esse quarteto se reúne quando Audrey (Ashley Park, de Emily em Paris, 2020-2022) se oferece para ir até a China fechar um grande negócio para o escritório onde trabalha. Ela visa uma promoção e um aguardado reconhecimento pelos seus contínuos esforços, e seu chefe não ousa contrariá-la, visto que a funcionária teria nascido no outro lado do mundo e sido adotada por um casal nos Estados Unidos ainda criança. Lolo (Sherry Cola – sim, esse é o nome da atriz – vista em Amor à Três, 2019) está ao seu lado desde a infância, mas não deu certo profissionalmente, e por isso mora em um puxadinho no quintal da amiga. Na viagem da colega ela enxerga uma oportunidade para se mostrar útil, e portanto se voluntaria para acompanhá-la (quer a outra queira ou não). O problema é que, por uma questão familiar, terá que carregar consigo a prima ‘Olho-de-Peixe’ (a estreante Sabrina Wu), que pouco faz além de armar confusões e se mostrar arrependida logo em seguida. Uma vez no Oriente, as três se encontram com Kat (Stephanie Hsu, dando um passo em falso após sua indicação ao Oscar por Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo, 2022), que irá ajudá-las nessa peregrinação em busca das raízes chinesas da responsável pela reunião – partem atrás da mãe biológica dela. E nesse caminho se envolverão em situações relacionadas a sexo, intoxicação alimentar, vômitos, drogas, roubos e atrasos. Bem de acordo com a cartilha.
Como se pode perceber, tem-se uma versão de Do Jeito Que Elas Querem: O Próximo Capítulo (2023), trocando a Itália pela China, e o quarteto principal de brancas acima dos 70 por orientais em torno dos 30. Fora isso, é praticamente o mesmo filme, ainda que um pouco mais debochado, menos comedido e sem vergonha de resvalar no constrangimento alheio e no auto-deboche. Pra piorar ainda mais o cenário, há essa infeliz escolha do título brasileiro: Loucas em Apuros (sendo que o batismo original é Joy Ride, ou seja, Viagem Divertida, em tradução livre). Pra começar, qual a razão de chamá-las de “loucas”? Só pelo fato de serem mulheres livres e independentes? E não há nenhum tipo de “apuro” que se metam que não consigam se desvencilhar por si mesmas, sem ajuda de mais ninguém, apenas confrontando seus medos e limitações pessoais. Enfim, há um potencial enorme envolvido, mas que em mais de uma situação se vê desperdiçado por uma necessidade injusta de agradar a um olhar estereotipado e masculino e em outras por não investir com maior profundidade nas diferenças culturais e nas características que apenas as mulheres podem oferecer. Vale o esforço, mas não o percurso percorrido.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Alysson Oliveira | 7 |
Francisco Carbone | 6 |
MÉDIA | 6 |
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