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Sinopse

Depois de passarem uma noite mágica juntos, Adri e Carla vão ter de enfrentar a dura realidade. Ele mora numa instituição psiquiátrica, o que dificulta o cultivo desse amor. No entanto, ela decide se internar para ficar perto dele.  

Crítica

Lembra do clássico Um Estranho no Ninho (1975), filme do Milos Forman que ganhou nada menos do que cinco Oscars – todos os principais: Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro? Se recorda do título, mas esqueceu da história, um rápido resumo: um ladrão condenado (Jack Nicholson) consegue convencer as autoridades de que seria mentalmente instável, e assim, ao invés de ir para a prisão, é mandado para um hospital psiquiátrico. O problema é que lá ele acaba caindo nas mãos da enfermeira Ratched (Louise Fletcher), que transforma sua vida em um inferno, fazendo-o se arrepender da artimanha. Pois bem, agora imagine esse mesmo argumento adaptado para uma comédia romântica. Difícil, não é mesmo? Mas apesar disso, é o que acaba acontecendo em Loucura de Amor, longa que leva ao pé da letra seu título, porém investindo mais na demência dos personagens, e menos na suposta “paixão” que surge entre eles.

Álvaro Cervantes, galã em alta no cinema espanhol, é Adri, um jovem típico de sua geração: trabalha com internet, ainda depende financeiramente dos pais e gosta de afirmar que o segredo do sucesso é acreditar com convicção que tudo é possível de ser alcançado. Seus amigos discordam, mas como ele é daqueles que pensa que o mundo gira em torno do próprio umbigo, não dará o braço a torcer facilmente. É por isso que aceita o desafio de conquistar uma garota escolhida a esmo, pelos parceiros de bar, pois não duvida das suas armas de conquista. Só que quem acaba encantado é o próprio a partir do momento em que é levado pelo charme de Carla (Susana Abaitua, de Pátria, 2020), uma desconhecida disposta a fazer e acontecer ao lado dele por apenas uma noite – e não mais do que isso.

Não que os dois se disponham a fazer muita coisa: invadem uma festa de casamento como penetras, roubam as chaves do quarto de hotel onde os noivos passariam as núpcias e transam por lá mesmo como dois apaixonados. Pegos quando já se preparavam para partir, saem em disparada – ela na frente, deixando-o para trás com apenas seu primeiro nome, e nada mais que lhe permita recordar da experiência vivida. Acontece que Adri, como sempre teve tudo a seus pés, fica de cabeça virada ao se deparar com alguém que não só não estava ali apenas para servi-lo, como pelo contrário – queria dele usar e abusar. Esse psicologismo, por mais interessante que possa se apresentar num primeiro momento, e por mais portas que permitam vislumbrar caminhos possíveis a serem seguidos, no entanto, é logo deixado de lado, sem o devido mergulho que a relação exigia, reduzindo a ligação dos dois a um caso de flerte exagerado.

Sim, pois é nesse ponto que Loucura de Amor se encontra com Um Estranho no Ninho. Carla tinha seus motivos para afirmar, desde o começo, que não estava atrás de nenhum tipo de compromisso – aviso que é solenemente ignorado pelo rapaz. A partir do instante em que pensa ter encontrado a mulher dos seus sonhos – conceito que só existe de modo tão imediato nas comédias românticas – ele parte para um trabalho investigativo, indo atrás de eventuais pistas para encontrar o paradeiro da garota. O que descobre é que se trata de uma paciente de uma instituição para doentes mentais. E o que faz para se reaproximar dela? Decide se internar no mesmo lugar. Porém, o que vem a se dar conta apenas depois, é que uma vez lá dentro, não será tão fácil sair.

Além de irresponsável no retrato que faz de pessoas que, de fato, enfrentam condições de esquizofrenia, hiperatividade, déficit de atenção, transtorno bipolar, obsessivo-compulsivo e ansiedade, o filme de Dani de la Orden (Noite de Verão em Barcelona, 2013) é também medíocre ao desenhar os laços que, aos poucos, vão se estabelecendo entre os protagonistas. A instabilidade que enfrenta surge como se dependesse apenas da vontade dela, enquanto que a solução para os problemas dos dois tem como remédio nada mais do que a determinação dele para que o namoro funcione. E o pior: seja dentro de uma casa de repouso que mais parece um resort de férias ou nas escapadas que ambos dão pela cidade – afinal, entrar e sair de lá, por mais que pareça ser impossível à luz do dia, se mostra absurdamente simples no meio da noite. Enfim, nada é muito consistente em Loucura de Amor, uma história boba e destinada a um desfecho improvável, muito em parte pela incapacidade expressa do realizador em conseguir reverter seus excessos em um conjunto minimamente simpático.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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