Crítica
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Sinopse
Crítica
Astros mirins quase sempre enfrentam uma certa dificuldade ao seguir adiante na carreira, já adultos. O imaginário coletivo ainda remete à fase infantil e é um tanto quanto estranho vê-lo em situações tão típicas à sua idade atual, ainda mais quando mantém traços faciais de quando se era mais jovem. Asa Butterfield se encaixa perfeitamente neste caso. Agora (bem) mais alto, é ele o astro principal desta comédia romântica adolescente onde o tema principal é a felicidade. Ou melhor, o que é necessário para encontrá-la.
Para abordar o tema, o diretor e roteirista Andrew Bowler busca dar uma roupagem pop ao inserir um ícone da ficção científica: a máquina do tempo. Nada a ver com o DeLorean de De Volta para o Futuro (1985), por mais que haja uma breve homenagem à aventura de Marty McFly pela forma como Stillman decifra a fórmula necessária para que tal invenção ganhe vida. Aqui, Bowler também a usa para fins pessoais: um jovem que, após levar um fora, deseja voltar no tempo para impedir o término do relacionamento com a namorada. Simples assim.
De início escancaradamente inspirado em Feitiço do Tempo (1993), Loucura do Tempo oferece uma ingenuidade espirituosa que, aos poucos, envolve. Em parte devido à desenvoltura do próprio Asa, passados os minutos iniciais em que há o choque do amadurecimento, mas também devido à obsessão de quem acredita tão firmemente, e com tão pouca idade, ter encontrado o grande amor de sua vida. Ah, a juventude e suas certezas absolutas... Consciente disto, Bowler insere aqui e ali elementos fofos, como o ukelele com o icônico smile, e a própria imagem de Sophie Turner como uma simpática musa inspiradora, que não se importa nem um pouco com as inúmeras diferenças existentes entre eles. O amor vence tudo, este é o mantra.
Dentro deste espírito, é interessante observar como a narrativa aos poucos migra de foco, de forma bastante sutil. Se a primeira metade é mais voltada aos esforços de Stillman e seu melhor amigo para que consigam mudar o passado, com direito às inevitáveis trapalhadas bem intencionadas, aos poucos o roteiro ganha questões mais profundas em decorrência dos atos da dupla. Apagar os desentendimentos seria a chave para o sucesso de qualquer relacionamento? Sem jamais deixar de lado a leveza, Bowler demonstra habilidade na condução deste tema, apesar de incorrer em um grave problema: o absoluto desprezo pela personagem de Sophie Turner, como voz ativa. Por mais que seja intencional, dentro da personalidade obcecada de Stillman, tal ausência soa estranha em vários momentos.
Da mesma forma, chama a atenção como o diretor posiciona o sexo dentro desta história. Em busca da ingenuidade inicial, ele é completamente alijado da narrativa de forma a dar um tom ainda mais idealizado ao relacionamento existente entre os personagens de Asa e Sophie. Sua inserção na trama é como se fosse um prêmio a algo que acontece - sem spoilers! -, ao mesmo tempo em que se torna um antes e depois dentro do próprio filme. Com um detalhe: os personagens já tinham relações sexuais antes deste momento, o filme é que não as revelava. O que ressalta ainda mais seu uso consciente por parte do diretor como uma divisória acerca dos personagens, ao menos para o público.
Leve e espirituoso, Loucura do Tempo é uma comédia romântica que tem mais a dizer que as produções habituais do gênero, apesar de também possuir problemas, conceituais e até de orçamento, no terço final. Vale também destacar o carisma de Skyler Gisondo como o melhor amigo de Stillman, formando uma boa dupla com Asa Butterfield neste filme de teor fantástico que, no fim das contas, deseja mesmo é mostrar o quão importante é a imperfeição do cotidiano.
Filme visto em Portugal, em maio de 2020.
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