Crítica
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Sinopse
Aryan, um jovem migrante, é baleado enquanto tentava ilegalmente cruzar a fronteira. Depois do choque provocado pelo acidente, acaba descobrindo que agora tem o poder de levitar. Preso em um campo refugiados, ele terá que contar com a ajuda do Dr. Stern, que tem interesses muito específicos em sua habilidade sobrenatural.
Crítica
O potente começo de Lua de Júpiter gera expectativas, no sentido de que a narrativa se paute por uma mescla fértil entre o fantástico/imponderável e a realidade. O drama dos expatriados, especificamente suas travessias de fronteiras vigiadas, na calada da noite, escondidos das autoridades que consideram marginais as suas demandas e, portanto, puníveis, é abordado com urgência pelo cineasta Kornél Mundruczó. Ele lança mão de tomadas longas e claramente bem coreografadas a fim de apresentar a tensão inerente ao deslocamento ilegal. O jovem Aryan (Zsombor Jéger) é destacado da aglomeração pela câmera que acompanha sua corrida desesperada através da escuridão florestal. Três tiros o alvejam, provenientes do policial que dispara à revelia de qualquer ameaça estrangeira. Surpreendentemente, ele sobrevive e começa a flutuar sobre o caos instaurado no terreno repleto de corpos de compatriotas que não tiveram a mesma sorte, assim como dos capturados e depois levados a centros de refugiados.
A força dessa abertura impressionante promete o que Lua de Júpiter, infelizmente, não cumpre no decorrer. O verdadeiro protagonista do filme é o Dr. Stern (Merab Ninidze), médico exonerado do cargo por um erro no exercício de sua atividade, surpreso pela excepcionalidade do sírio, rapidamente motivado a lucrar com sua condição. Determinadas cenas servem apenas para delinear sua personalidade, carregam o intuito de mostrar, propriamente, o ceticismo desse homem que aproveita brechas para faturar. Seu objetivo é livrar-se do processo que lhe impede de clinicar. Deixando de lado as ligações com as questões puramente relacionadas à imigração, o realizador aposta as fichas num percurso relativamente previsível de redenção, em que a presença do estranho serve para chacoalhar convicções e mostrar novas possibilidades, inclusive quanto ao inexplicável. Há um quê religioso na forma dele passar da ironia, ao chamar Aryan de anjo, à crença no preceito cristão.
Na medida em que centraliza a jornada de Stern, Lua de Júpiter vai transformando o forasteiro num mero apêndice, conferindo-lhe pouco espaço para expressar-se ou demonstrar densidade. Kornél Mundruczó prima pelo plano-sequência, fazendo do procedimento uma constante, bem como a iluminação estilizada, com a predominância do amarelo e do verde, o que confere à narrativa uma aura fabular. A despeito da qualidade instrumental, desse encaixe dos elementos visando a construção da atmosfera, o longa-metragem é combalido pela frouxidão do roteiro e a interpelação banal da presença dos sírios, a priori um componente vital, mas rapidamente relegado a um âmbito, quando muito, intermediário. Os voos de Aryan – na verdade, seus “poderes” têm mais a ver com uma anulação da gravidade, vide a influência exercida nos objetos ao seu redor –, são apresentados como epifanias, porém repetidas, intentando provocar estesia, mas sem investimento na significação para além da beleza.
Ainda no que concerne ao desperdício da questão migratória, o canhestro atentado ao metrô (perigoso ideologicamente) surge como gritante sintoma da fragilidade estrutural. Isso acontece porque a explosão, provocada por alguns sujeitos forçosamente exilados, serve tão e somente para guinar a trama rumo ao confronto com László (György Cserhalmi), o agente da lei desenhado como uma espécie de vilão implacável. Embora bonito visualmente, Lua de Júpiter desperdiça bons potenciais, combalindo o elo entre o fantástico e o real ao passo em que se concentra ordinariamente na transformação de Stern. A indeterminação da natureza das habilidades espantosas de Aryan não é suficiente para instaurar, sequer, a curiosidade, decorrência da insistência do companheiro húngaro em associar a subversão da gravidade a Deus. A forma leviana e apressada de resolver a basilar separação familiar acentua o esvaziamento da importância do drama dos refugiados, explorado a priori como fundamental, mas que se torna vulgar quanto mais próximo do fim.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Francisco Carbone | 8 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 6 |
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