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Crítica


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Sinopse

Vivendo na fronteira entre Brasil e Argentina, a jovem Ana não tem opções de lazer e tampouco acesso à internet em casa. Seu refúgio é uma lanhouse conhecida como A Caverna, na qual conhece Murilo, por quem se apaixona.

Crítica

Dois elementos raros no cinema brasileiro se encontram no bem intencionado Lua em Sagitário. Primeiro, temos um longa de ficção escrito e dirigido por uma mulher. Marcia Paraiso, no caso, é uma documentarista com longa trajetória na televisão, aqui assumindo seu primeiro desafio na ficção. Para tanto, contou no texto com as colaborações de William Martins, Glauco Broering e Ralf Tambke (este também diretor de fotografia). Além disso, temos também uma história que se passa longe dos grandes centros, e não só isso, mas também próximo a uma das nossas tantas fronteiras: em uma pequena cidade no oeste de Santa Catarina, próxima à divisa com a Argentina. E se estes dois fatores são suficientes para garantir o interesse do espectador mais curioso, por outro lado temos mais um exemplo que confirma a regra de que, de boas intenções, o inferno está cheio.

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Isso porque a impressão que se tem logo no início do desenrolar da trama – e que em seguida se confirma – é que, ainda que seja perceptível a entrega e o interesse dos envolvidos na realização do projeto, esse se dá de forma mais passional do que bem estruturada. Há mais vontade do que conhecimento. Os protagonistas, vividos pelos novatos Manuela Campagna e Fagundes Emanuel, representam uma parcela cada vez maior de adolescentes aparentemente apáticos, mas que basta que lhes sejam oferecidos uma oportunidade para que enfim se manifestem. Ou seja, são desenhados conforme um clichê recorrente no gênero. Porém, se a menina não parece à altura do personagem que tem em mãos, o garoto se sai melhor, com mais desenvoltura e segurança. Para isso, também contribui o discurso que carrega, outro ponto interessante do filme: a defesa do movimento sem terra. Pena, no entanto, que essa bandeira seja levantada de modo explícito e óbvio, quase maniqueísta, sem nuances envolvidas.

Se temos dois namorados, o conceito explorado é o de Romeu e Julieta: ela é filha de imigrantes europeus que construíram suas vidas e famílias a partir de muito esforço. Já ele tem pais retirantes, mora em um acampamento e não perde nenhuma oportunidade para declarar suas visões de mundo mais globalizadas. Ambos tem como ponto de encontro A Caverna, uma lan house onde conseguem acesso à internet e, com isso, às novidades do momento. O dono do lugar é um argentino andarilho (cortesia de Jean Pierre Noher) que os incentiva a participar de um concurso. O prêmio? Irem ao primeiro show de rock de suas vidas, em Florianópolis, com a chance extra de conhecerem o mar. Uma aventura e tanto, mas que deixará consequências na vida de todos.

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Lua em Sagitário, portanto, tem também seu momento road movie, atravessando o estado de uma ponta a outra e, com isso, cruzando por alguns tipos curiosos, como o casal defendido sem muito esforço pela saudosa Elke Maravilha e pelo alucinado Serguei – estariam os dois interpretando ou apenas sendo eles próprios? Seriam alucinações ou parte da fantasia? Esses questionamentos até seriam válidos, caso suas presenças não fossem tão gratuitas e sem ressonância no resto da trama. E a jornada de amadurecimento que poderia resultar desse processo acaba resultando em um sermão improvisado dos caricatos pais da garota, o que colabora apenas no sentido de ressaltar a ingenuidade de um discurso que prega uma vontade de mudar o mundo, mas pouco parece conhecer além do restrito horizonte que os cerca.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
5
Ailton Monteiro
6
MÉDIA
5.5

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