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Sinopse

Quando a inocente jovem Lucy aceita transportar drogas dentro do seu estômago, ela não conhece muito bem os riscos que corre. Por acaso, acaba absorvendo as drogas, e um efeito inesperado acontece: Lucy ganha poderes sobre-humanos, incluindo a telecinesia, a ausência de dor e a capacidade de adquirir conhecimento instantaneamente.

Crítica

O ser humano aproveita apenas 10% do potencial do cérebro para desenvolver suas habilidades cognitivas. Mas e se fosse possível expandir esse conhecimento sobre a própria mente e o corpo, o que poderia acontecer? Com esta premissa interessante, Luc Besson coloca Scarlet Johansson à frente de Lucy, filme de ação que traz muitos tiros, pancadaria, mas que falha justamente em sua proposta: a inteligência do homem acima de qualquer limite.

O melhor de Lucy é justamente seu início na China. Quando a protagonista é enganada pelo parceiro (que ela conhece há uma semana), é obrigada a entregar uma pasta para Mr. Jang (Min-sik Choi), o chefão do tráfico local, ela cai em outra armadilha. Em uma tensa sequência que envolve descobrir o que há na tal pasta e qual vai ser o destino da personagem principal, demora quase meia hora para o roteiro chegar ao momento crucial: aquele em que Lucy está com um pacote da droga CPH4 inserido no abdômen e é espancada por seus carcereiros. A substância se espalha pelo seu corpo, mas a overdose ativa seu cérebro para além dos limites.

Enquanto a personagem de Scarlet Johansson está envolvida neste esquema, Luc Besson faz um interessante paralelo com a palestra do Professor Norman (Morgan Freeman), especialista que estuda faculdades mentais que explica a um grupo de pesquisadores o que poderia acontecer se o ser humano desenvolvesse o cérebro a níveis inimagináveis. Ao mesmo tempo, são inseridas imagens a la Discovery Channel de animais nos papeis de predador e caça, numa alusão ao que está acontecendo com Lucy.

O problema da história começa a surgir logo a seguir. Se por um lado a protagonista utiliza seus novos dons de maneira explosiva, provocando ótimas cenas de ação (nas quais Scarlet aproveita de todas as maneiras seus “estudos” como a Viúva Negra do Universo Marvel), por outro fica a dúvida se, realmente, as decisões que ela toma são das mais inteligentes. A principal é porque Lucy deixa o principal “vilão” da história vivo quando o encontra, sendo que ele é capaz de causar mais estragos (e o faz) no decorrer do roteiro?

É claro que isto faz parte da marca registrada de Luc Besson, cineasta com boas ideias geralmente subaproveitadas. Os vinte minutos finais chegam a ser confusos tamanha a salada mista em que os elementos principais se encontram. A conclusão não poderia ser mais estranha e, ao mesmo tempo, clichê para um filme do gênero. Por outro lado, é interessante o desenvolvimento dos “poderes” da personagem. Como num videogame, a porcentagem de aproveitamento vai aumentando e sendo mostrada na tela conforme Lucy enfrenta adversidades e utiliza sua capacidade mental para sair das enrascadas das formas mais inteligentes possíveis – dentro da imaginação dos criadores da história, é claro.

Longe de ser uma das obras mais inteligentes dos últimos tempos, Lucy não é um grande filme de ação, mas também não compromete. Apesar dos pesares, a ação é intensa e todos os louros pertencem à protagonista, uma Scarlet Johansson em plena consciência do potencial de seu personagem, mesmo que o roteiro não ajude a desenvolve-la de forma mais ampla. Entretenimento seguro, mas nada além disso. Ainda assim, vale o ingresso e comprova, mais uma vez, que mulheres são ótimas protagonistas de filmes de ação. Talvez até mais do que o habitual “macharedo” que domina as telas há tanto tempo.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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