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Crítica


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Sinopse

Um rapaz desmemoriado aparece em uma praia de Hong Kong. Ele decide assumir o nome de Leon, e aos poucos vai descobrindo em si incríveis habilidades de artes marciais.

Crítica

O personagem principal de Lutador Misterioso como um rapaz que, após ser nocauteado em uma festa a bordo de um iate, amanhece no dia seguinte na beira de uma praia, em Hong Kong, sem saber sua própria identidade e nem lembrar como foi parar ali. Resgatado por um ancião, é tratado e se recupera. Esse, no entanto, após cuidar dele, arrumar suas roupas e lhe dar comida, decide cobrar por toda ajuda prestada. E o que pega para si é um medalhão com o símbolo de um dragão que o jovem trazia consigo. Mas, depois disso, lhe oferece algum dinheiro: “para você comprar comida”. Bom, se essa sequência de atos não soa compreensível, é melhor ir se acostumando: daqui pra frente, a lógica será um elemento cada fez mais rarefeito.

Em outra passagem, o protagonista começa a ser seguido por um grupo de homens, todos de ternos escuros e caras fechadas. Quando decide encará-los, após um ou dois segundos de tensão, os perseguidores começam a rir e a lhe oferecer cartões, anunciando que trabalham em hotéis da região. O que se percebe é que o filme inteiro é estruturado a partir da repetição exaustiva dessa mesma fórmula de expectativas frustradas: cria-se uma situação nervosa, tanto pelas tentativas de atuações – que seriam somente risíveis, se não fossem constrangedoras e irritantes – como pelo uso de uma edição picotada e de uma trilha sonora que induz ao perigo, para que na sequência o clima gerado seja descartado sem maiores cerimônias. Já a origem do rapaz sem nome, que assume o apelido de ‘Leon’ após olhar a figura do ator Leonardo DiCaprio em um pôster do filme Titanic (1997), é uma questão que não passará de mero detalhe introdutório, sem voltar a ser mencionada.

É quando o espectador se vê diante do inusitado proposto pelo título: Lutador Misterioso. Ok, ‘Leon’ não sabe quem é (o que acaba não fazendo a menor diferença), mas também é hábil em se livrar de qualquer ameaça. Porém, considerá-lo um ‘lutador’ é, no mínimo, forçar a barra. Pois, tudo o que faz é seguir uma coreografia tão ensaiada que será impossível disfarçar o quão artificiais são cada um destes embates. Há momentos em que ele simplesmente começa a dançar, como se estivesse em mais um dos tantos shows e apresentações que já estrelou ao longo de sua carreira. Falando de modo que o público brasileiro consiga ter uma melhor ideia, é como se esse fosse um filme dos Trapalhões ou da Xuxa, nos quais a única intenção fosse agradar aos fãs, relegando à trama (e a verossimilhança) a uma segunda – ou terceira – instância.

O conjunto poderia ser um pouco mais palatável caso o protagonista se apresentasse como um exímio atleta de artes marciais, capaz de feitos miraculosos, como aqueles vistos em Matrix (1999) ou O Tigre e o Dragão (2000), por mais farsesco que tais artifícios fossem empregados. No entanto, ainda que o inacreditável seja corrente na narrativa, a história gira em torno de uma conspiração promovida por um restaurante de lámen que tenta sabotar seus concorrentes e o verdadeiro dom do desmemoriado é ir relembrando seu passado a partir das coisas que come! Sim, é exatamente isso: ele passa comendo tudo o que vê pela frente, e chega a se justificar: “somente assim vou descobrir quem sou de verdade”. Quando o absurdo parece ter tomado conta e nada mais faz sentido, Lutador Misterioso chega, felizmente, ao fim, mas não sem mais uma surpresa: um videoclipe do garoto é exibido durante os créditos finais, colocando em evidência a quem, de fato, esse filme se destina.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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