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Crítica


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Sinopse

Uma jovem deseja lutar wrestling profissionalmente. Antes, contudo, precisa convencer seus pais de que pode suportar a dura rotina de treinamentos.

Crítica

O universo esportivo sempre foi um terreno fértil para histórias de superação, no qual os marginalizados – os azarões – têm a chance de vencer apenas pelo mérito próprio. Foi no esporte, mais precisamente na esfera da luta livre, bastante próxima à sua trajetória, que o ator, e ex-lutador profissional, Dwayne “The Rock” Johnson, se deparou com a história real de Saraya-Jade Bevis, mais conhecida por Paige, seu nome nos ringues, decidindo levá-la para as telas numa versão dramatizada. Em Lutando pela Família, escrito e dirigido por Stephen Merchant, Paige (Florence Pugh) é uma jovem de 18 anos que desde a infância respira o mundo da luta livre por influência dos pais, Julia (Lena Headey) e Ricky (Nick Frost), que encontraram no esporte a salvação para uma vida de crimes. A família, dona de uma academia e fundadora da associação profissional de luta livre da cidade de Norwich, Inglaterra, conta ainda com Zak (Jack Lowden), irmão com quem Paige mantém uma relação muito próxima, dividindo o sonho de entrar para a WWE, organizadora da modalidade nos EUA.

Tal esperança começa a se tornar realidade quando a dupla é convocada para uma seletiva britânica da WWE. Contudo, apenas Paige acaba selecionada para participar da próxima fase do processo, na Flórida, o que, de imediato, gera sentimentos conflitantes por parte do irmão, cuja namorada está grávida. A partir deste acontecimento, a narrativa se divide entre a trajetória de Paige nos Estados Unidos, batalhando para alcançar seu objetivo, e o cotidiano da família na Inglaterra, com os pais, orgulhosos, já capitalizando o sucesso da garota – com merchandising e agendamento de lutas – enquanto Zak, agora pai, se afunda no desgosto. Praticamente todos os passos destas jornadas se mostram bastante familiares, não fugindo muito aos arquétipos deste tipo de história: o inevitável conflito entre os irmãos, o sentimento de não-pertencimento de Paige longe de sua realidade, suas dúvidas sobre se o que busca é uma vontade realmente sua ou apenas projeção dos desejos de seus familiares, etc.

Apesar de caminhar por ambiente seguro, o roteiro de Merchant consegue inserir personalidade dentro dos clichês trabalhados por meio daquilo que é sua especialidade, o humor tipicamente britânico – irônico, ácido. O primeiro ato, em particular, que introduz a dinâmica dos Bevis, é muito bem-sucedido, criando imediatamente uma empatia entre o público e esta família aparentemente disfuncional, mas que se mostra unida e afetiva, mesmo com seu comportamento pouco ortodoxo. O contraste com a família conservadora da namorada de Zak, por exemplo – trazendo o próprio Merchant no papel do sogro – rende ótimos momentos cômicos, assim como as tiradas de embates culturais (EUA x Inglaterra). Além disso, o cineasta também cria pequenas quebras de expectativa que enriquecem a trama e a construção de personagens, tornando alguns conflitos menos óbvios, caso da relação de Paige com as outras lutadoras ou com o treinador, interpretado por Vince Vaughn, que possui muitas das melhores frases de efeito do longa.

A qualidade do texto de Merchant é valorizada pelo ótimo elenco, com destaque para Pugh, capaz de expressar as nuances de Paige – o choque entre sua força e fragilidades – de forma carismática, reafirmando seu lugar como uma das atrizes mais promissoras de sua geração. O empenho dos atores se traduz na construção natural da citada dinâmica familiar, além de transmitir um sincero sentimento de respeito em relação aos personagens reais que interpretam, tomando cuidado para que a comicidade não se transforme em uma caricatura depreciativa. Até mesmo a participação de Dwayne Johnson, produtor do longa, vivendo uma versão de si mesmo, que poderia soar forçada ou como mera autopromoção – e promoção publicitária da WWE, cuja dimensão na cultura norte-americana talvez ainda seja desconhecida por grande parte do público internacional – é explorada com resultados realmente divertidos.

Atingindo um bom equilíbrio entre a comédia e o tom emocional do conto edificante de superação, sem exagerar no sentimentalismo, Lutando pela Família ainda aborda algumas questões importantes sobre o papel do esporte como ferramenta de inclusão social, com os jovens treinados pelos Bevis e tirados do contato com a marginalidade – incluindo um garoto cego – e também por meio da própria jornada de aceitação da protagonista, tratada desde o inicio como a “aberração” fora dos padrões de feminilidade, trazendo o tópico da presença das mulheres em um ambiente majoritariamente masculino, como o da luta livre. Ainda que não se aprofunde, os créditos finais, que apresentam imagens reais do arquivo dos Bevis, afirmam que Paige teve participação fundamental na mudança de paradigmas na WWE relacionados a este tema. Assim, Merchant entrega um produto final que manipula habilmente fórmulas já conhecidas, oferecendo algumas doses de novidade. Tal qual uma boa luta livre, cujos movimentos ensaiados, mesmo já sendo quase todos conhecidos, ainda garantem o entretenimento.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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