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Sinopse

Durante as filmagens de uma comédia erótica, o diretor, perturbado pelas cenas mais quentes, perde-se de paixão pela estrela do filme, Vivian, e busca conquistá-la de todas as maneiras. Ela, a princípio, resiste a seus encantos, dizendo-se casada e fiel ao marido, mas, por fim, acaba cedendo.

Crítica

Pornochanchada é um termo bastante vago usado para se referir às comédias eróticas produzidas no Brasil entre o final da década de 60 (muitos consideram Os Paqueras, de 1969, dirigido por Reginaldo Faria, como o primeiro representante desse “gênero”, mas é possível voltar até 1966, quando Roberto Farias, irmão de Reginaldo, dirigiu Toda Donzela Tem um Pai que é Uma Fera) e o início da de 80. Apesar de boa parte dessa produção ter sido realizada em São Paulo, na famosa região da Boca do Lixo, os primórdios do estilo estão ligados ao Rio de Janeiro e a uma tradição de comédias cariocas que remetem, claro, às chanchadas dos anos 1940 e 1950. Luz, Cama, Ação!, de Cláudio MacDowell, encarna perfeitamente o espírito dessa primeira fase do movimento.

Longe do erotismo exacerbado e das reflexões mais densas do cinema paulista, o filme de MacDowell aposta num humor leve, rasteiro, cheio de piadas de duplo sentido sobre o ato sexual, o adultério e a homossexualidade. São piadas em sua maioria muito bobas, que, no caso daquelas envolvendo a figura do marido traído da protagonista do filme que está sendo rodado dentro do filme, alcançam o ridículo. É coisa que, em tempos atuais, remeteria ao humor de programas como Zorra Total (antes da mudança recente de roteiristas) e A Praça é Nossa e de algumas comédias da Globo Filmes. Mas é preciso reconhecer que esse humor pouco ou nada refinado dialogava e dialoga muito diretamente com parcelas consideráveis do público de cinema e TV no Brasil. Compreender isso é pressuposto para compreender o sucesso gigantesco mesmo das piores chanchadas, pornochanchadas e globochanchadas.

Curiosamente, Luz, Cama, Ação! tenta se vender como um filme consciente de si, do gênero em que encaixa, das limitações, esquemas e repetições desse gênero. É que Cláudio MacDowell está contando a história de um diretor de comédias eróticas (interpretado pelo próprio MacDowell) que, durante as filmagens de seu novo trabalho, se apaixona perdidamente pela atriz principal do filme (Tânia Scher) e passa a não medir esforços para levá-la para a cama. No meio do caminho, sobretudo nas conversas do diretor com o produtor, surgem comentários irônicos sobre as pornochanchadas, em que o último pede por mais cenas de nudez, mais malícia, diálogos de duplo sentido e alguns elementos que constituiriam a “fórmula de sucesso” das comédias eróticas: mulheres nuas, maridos traídos e patrões que levam suas secretárias para motéis. Exatamente o que será visto dali em diante na narrativa.

Trata-se do tipo de brincadeira metalinguística que poderia elevar o filme a um patamar criativo talvez não esperado, confirmando as interpretações generosas com a pornochanchada que a veem como um nicho em que também foram realizadas obras de valor. Mas se essa última afirmação é, hoje, quase incontestável, parece difícil estendê-la de fato a Luz, Cama, Ação!. Aqui, a autoironia é apenas uma piscadela engraçadinha para o público, nunca uma tentativa de refletir minimamente sobre os vícios do gênero em questão para, quem sabe, extrapolá-los. No fim das contas, MacDowell segue as mesmas regras e quer fazer o mesmo filme que o produtor fictício presente na narrativa de Luz, Cama, Ação!.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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