Crítica
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Sinopse
Dois meninos conhecem o amor, o cinema e o medo num colégio religioso. No início dos anos 1960, o padre Manolo é parte desses descobrimentos. Os três personagens voltam a se cruzar adiante.
Crítica
Cada “novo trabalho de Almodóvar”, que nem precisa mais ser chamado de Pedro, é aguardado com ansiedade por seus milhares de fãs ao redor do mundo. Mas, como diz o ditado, “quanto maior a expectativa, maior será a queda”. Em Má Educação, um dos seus longas mais controversos, não se vai nem tanto ao céu, nem ao inferno. Ainda que não seja sua melhor realização (título ainda disputado por Tudo Sobre Minha Mãe, 1999, e Fale com Ela, 2002), está longe de ser um equívoco, como chegaram a afirmar alguns apressados em atacá-lo na época do seu lançamento. É, sim, uma obra séria e relevante, que merece máxima atenção e intensa reflexão posterior.
Em determinado momento de Má Educação, um dos personagens, ao sair de uma sala de cinema após ver um filme noir, afirma: ”parece que todos na fita estavam falando de nós mesmos”. Essa fala pode ser encarada como a chave do enigma desta narrativa intrincada, genial e perturbadora. O astro mexicano Gael Garcia Bernal aparece em dois papéis simultâneos, que podem ou não ser o mesmo personagem: um misterioso candidato a ator e um travesti disposto a tudo para resolver um trauma do seu trágico passado. Aliás, é neste período quando tudo começa: dois garotos estudantes em um internato religioso veem a paixão que surge entre eles ser interrompida devido a ação ciumenta do padre-diretor, que expulsa um enquanto, apaixonado pelo outro, passa a abusá-lo sexualmente. Anos mais tarde, esse jovem reaparecerá em busca de vingança, e aos poucos vamos descobrindo que sua determinação nesse sentido engloba uma visão muito maior do termo.
Os discursos paralelos, as referências cinematográficas, as brincadeiras inteligentes de linguagem: tudo indica que estamos diante um trabalho digno de um cineasta diferenciado e singular em sua visão de mundo. Almodóvar, no entanto, afirmou em mais de uma de ocasião que encarou Má Educação como uma espécie de “acerto de contas com sua própria história”. A revolta católica, o embaraço homossexual, o preconceito velado, a necessidade de expressão: os ingredientes são os mesmos vistos no decorrer de sua carreira; porém, a intensidade aqui é que faz a diferença. Outro ponto de destaque é o fato de se tratar de uma história assumidamente masculina, algo que chama atenção dentro de uma filmografia tomada pelo ponto de vista e delicadeza feminina. A mudança de posicionamento é perceptível desde o início, e se seu desconforto ao contar essa história é um tanto pela falta de tato ao gênero, muito indica sobre sua proximidade com os dramas vividos na tela.
Se nos filmes que revelam a maturidade do diretor, muito em especial a partir do subestimado A Flor do Meu Segredo (1995), a intenção era transmitir uma mensagem, fazendo proveito para isso de uma trama que o possibilitasse explorar essas sensações almejadas, mas sem se satisfazer somente nelas, deixando no ar um ambiente de continuidade, em Má Educação esse sentimento está presente para resolver um episódio específico, objetivo este que é atingido com precisão. Não que seja melhor ou pior – afinal, não se trata de uma questão qualitativa, e, sim, apenas diferente. O que importa é sua natureza intrínseca, o que o faz ser o que é. Alguns finais se dão por ressonância, aqueles em que o espectador leva consigo a história para preenchê-la de acordo com o seu universo e sua interpretação. Não seria bem este o caso, pois essa conclusão é por resolução, ou seja, uma vez terminado, encerra-se o dilema. É muito provável que seja justamente o que Almodóvar busque aqui, o que faz desta realização um dos seus contos mais intensos e pessoais. E, justamente por isso, um dos menos universais.
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