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Crítica


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Sinopse

Maggie e seus amigos, todos menores de idade, estão tentando descolar bebidas alcoólicas em um mercado quando conhecem Sue Ann, uma mulher adulta que oferece a própria identidade para ajudá-los. Além disso, ela também oferece sua casa para que os jovens organizem uma festa com o pessoal do colégio. Os eventos acabam se tornando uma rotina do grupo, até que começam a identificar um comportamento estranho na nova amiga, que se torna cada vez mais controladora e obsessiva.

Crítica

A hereditariedade é um elemento sobressalente em Ma. Os jovens que sofrem em virtude da irresponsabilidade dos pais e a menina sedada pela mãe perturbada são indícios desse fundamento que, todavia, poderia ser mais bem aproveitado pelo cineasta Tate Taylor. Apenas quando uma vítima grita “eu não sou a minha mãe” diante da sanha assassina da antes menina oprimida pelo bullying escolar é que o filme escancara tal substrato, no mais das vezes tratado com certa displicência. A protagonista é Maggie (Diana Silvers), apreensiva por conta da rotina na nova escola, uma vez que ela e a mãe, Erica (Juliette Lewis), voltam à cidade natal desta para recomeçar. Passando batido pelas convenções das dificuldades de adaptação, o realizador apressa a estruturação de uma turma que, constituída de jovens inconsequentes, acaba negligenciando sinais óbvios de perigo. Sue Ann (Octavia Spencer) compra-lhes bebida, oferece-lhes sua casa e eles nem desconfiam.

O enredo importa pouco em Ma, o que acaba diminuindo as possibilidades dramáticas das heranças feitas de pecados e deslizes. O realizador se concentra na delineação de um bom ambiente aditivado de tensão, para isso engendrando peças cuidadosamente, postergando revelações a fim de manter a dúvida como nutriente. Faz parte dessa bem-sucedida articulação de componentes a cessão de mais informações ao espectador que aos personagens em cena. Os flashbacks, principalmente, são utilizados com esse fim de embasar as atitudes descompensadas de Sue Ann, atendente numa clínica veterinária, que demonstra os efeitos da deturpação da solidão pela mesquinhez alheia. Portanto, o filme vale o quanto pesa essa atmosfera de thriller que se desdobra para adiante estabelecer o horror. Apenas os incautos – e que por isso devem “pagar” – não percebem que a anfitriã afeita a parecer descolada com os convidados é, na verdade, uma vingativa personalidade local.

Octavia Spencer encarna com gosto a mulher de olhar enigmático, dona do semblante sempre anuviado por um sem número de mágoas que motivam planos inomináveis. Há um sabor perceptível de produção B em Ma, algo escancarado na cena da antagonista andando entre as labaredas, como se fosse entidade indestrutível, e na forma como ela coloca em prática a desforra direcionada aos filhos daqueles que a brutalizaram no secundário. Tate Taylor, no entanto, faz a motivação da personagem oscilar entre a carência doentia e o desejo, não menos nocivo, de impingir indiretamente dores lancinantes nos adultos outrora formadores da galera que não media consequências para humilhá-la. Apesar dessa inconsistência, da forma meio desajeitada com que as peças se encaixam, o conjunto tem personalidade e arrisca em alguns movimentos, como na iminente extirpação de um pênis e na tortura dos adolescentes dopados. É bem construído esse clima de inquietação.

Ciúmes, inveja e ressentimento são as motrizes de Sue "Ma". Octavia se sai muito bem como a cidadã aparentemente comum que vira suspeita, a priori, por suas consultas digitais. Aliás, a forma como ela se apropria do itinerário dos alvos, encontrando tudo o que almeja em contas pessoais nas redes sociais, aproxima o horror da realidade, tornando crível a antecipação dos passos do grupo preocupado com curtir a vida e, eventualmente, questionar a autoridade adulta. Ma fomenta com habilidade expectativas em torno de uma figura que não tarda a se revelar completamente, mas adia milimetricamente a demonstração visual da violência. Graficamente, o conjunto se equilibra competentemente entre o mostrado e o sugerido, fazendo bom uso do extracampo. O risco e a comodidade convivem de forma relativamente harmoniosa na encenação proposta por Tate Taylor. O filme exibe, em semelhante medida, cotas de intensidade e fragilidade, mas se beneficia de ter encabeçando o elenco alguém do calibre de Octavia Spencer, que faz do limão uma limonada.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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