Crítica
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Sinopse
Movido pela profecia que anunciou o seu reinado e instigado pela ambição desmedida de sua esposa, Macbeth elimina todos os seus inimigos, mas sem perceber que gradativamente se aproxima ele mesmo do abismo.
Crítica
Tu serás rei, entoam as bruxas a frase que acenderá em Macbeth uma chama antes insuspeitada. O que seria desatino se dito ao vento torna-se sublinhado quando o corajoso soldado é avisado de que o rei gostaria de lhe agradecer os esforços prestados, nomeando-o Conde de Cawdor. Tendo sentidas desamarradas as cordas da ambição, Macbeth galgará uma dos mais famosos caminhos de ascensão e descida já conhecidos. Adaptado do clássico de William Shakespeare, Orson Welles leva o personagem às telas sete anos após a realização de Cidadão Kane (1941), sua obra-prima. A missão o cineasta, que encenou a trama junto a uma companhia de teatro antes de começar as filmagens, era provar a Hollywood o equívoco em considerá-lo um diretor perdulário e megalomaníaco - e, na esteira disso, livrar-se do peso de ter de entregar um Kane a cada produção.
Depois de levar o texto ao palco, Welles filmou a trama em menos de um mês, usando o mínimo de recursos possíveis, dispensando, inclusive, um nome de peso para o papel principal, que tomou para si. A limitação financeira é visível no filme. A depuração técnica dos cenários de outrora dá lugar à economia cenográfica. Os movimentos de câmera costumeiramente bem construídos são substituídos por um trabalho enxuto, de ângulos muitas vezes oblíquos. O espaço cênico acaba consideravelmente diminuído e alterado, fazendo com que a perspectiva teatral ocupe o lugar da profundidade cinematográfica.
Há dois caminhos para levar uma peça teatral ao cinema. Fixar-se no conteúdo, interpretar e encenar cinematograficamente o texto, como fez Roman Polanski, em Deus da Carnificina (2011), ou fixar-se no conteúdo, reproduzir e encenar teatralmente o texto, como fez Alain Resnais, em Amar, Beber e Cantar (2014). A intuição de Orson para o métier, que o fez criar um grande filme com apenas 26 anos, sabia identificar a diferença entre os métodos, e como a primeira opção é a mais indicada. Por isso, o que temos no Macbeth de Welles é, apesar das limitações financeiras, um resultado de alto nível, conservando a beleza da história sem abrir mão de um fluxo propriamente cinematográfico.
Exemplo da consciência cinematográfica exercida pelo diretor em sua história está na divisão psicológica que permeia o filme. A drástica abertura das bruxas, citada no início, surge no prólogo do ato inicial de maneira a servir justamente para prender o espectador, que, dali em diante, seguirá junto ao Conde de Cawdor durante o calamitoso percurso da sua consciência. Ainda quando se dá o surgimento de Lady Macbeth (Jeanette Nolan, em atuação histriônica e sem grande brilho), propulsora dos mais íntimos desejos de poder do marido e responsável por adicionar novas cores de tensão, a trama desdobra-se esteticamente na preponderância de tons escuros e alto contraste, aplicados pelo fotógrafo John Russell (Psicose, 1960), apenas em seu segundo trabalho. A força do primeiro ato é evidentemente rompida após a morte do rei Duncan. O registro fotográfico abranda e a narrativa, que havia iniciado e se mantido em alta por metade do filme, encontra os momentos mais irregulares.
Mesmo sendo a melhor adaptação de Macbeth no cinema, o resultado proporcionado pelo diretor estava longe de ser considerada uma obra nos moldes do que a indústria norte-americana esperava. Desta forma, a peça do bardo inglês (que ainda renderia Otelo, 1952, e Falstaff, 1965, nas mãos do diretor) selou a despedida de Orson Welles de Hollywood, iniciando nova trajetória em solo europeu.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Willian Silveira | 8 |
Chico Fireman | 8 |
MÉDIA | 8 |
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