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Sinopse
Paramédica ocupada na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, Cassandra Webb descobre que tem habilidades especiais. Diante de um confronto forçado com revelações de seu passado, ela forja uma aliança com três jovens.
Crítica
Há mais de 20 anos ditando as regras industriais do cinemão norte-americano, o filão dos filmes de super-heróis tem demonstrado esgotamento, talvez acusando o golpe da superexposição. De tanto ver longas-metragens e séries protagonizados por homens e mulheres extraordinários, estaria o público se cansando deles? Ou o problema está mais localizado na escassez de boas ideias? Exceção feita a iniciativas esporádicas que apresentam algum frescor, as recentes tramas envolvendo os super têm sido frequentemente decepcionantes. Então, se, por exemplo, as produções de primeira linha da Marvel e da DC, que contam com investimentos milionários e expectativas bilionárias, não estão dando certo, o que diremos das tentativas da Sony Pictures de explorar personagens do universo do Homem-Aranha ao qual tem direito por licenciamento? São exemplos dessa frente, Venom (2019) Venom 2: Tempo de Carnificina (2021) e Morbius (2022), todos sofríveis em suas execuções, alguns ainda assim bem-sucedidos nas bilheterias – para se ter uma ideia, o primeiro filme do simbionte Venom quase chegou a US$ 900 milhões de arrecadação, mesmo alvo de críticas negativas em sua maioria. Agora, Madame Teia chegou para se juntar à “segunda divisão” da Marvel com um roteiro que parece ter sido escrito por uma inteligência artificial pouco inteligente e um conjunto estético-narrativo adequado às paródias.
O primeiro grande problema de Madame Teia é a escalação de Dakota Johnson para viver a superpoderosa Cassandra Webb. Primeiramente, a atriz estadunidense não convence como a garota com dificuldades de socialização que, de uma hora para outra, testemunha o despertar de poderes de vidência que nunca tinha experimentado. Dakota utiliza quase o mesmo tom para compor a introspeção, a presteza diante de alguma nova emergência médica (Cassandra é paramédica) e, mais tarde, ao começar a compreender do que se tratam aqueles flashes antecipatórios que turvam a sua percepção da realidade presente. Nada muito diferente de quando ela aceita proteger os mais fracos. Sempre com o mesmo tom. Assim, a intérprete descredibiliza Cassandra como humana repleta de problemas e enquanto super-heroína que tem questões a resolver com o passado. Mas, uma pista de que as interpretações fracas podem ser, ao menos em parte, creditadas à forma como a diretora S.J. Clarkson conduz esse roteiro assinado por ela própria em parceria com Matt Sazama, Burk Sharpless e Claire Parker é que não há membro do elenco capaz de se salvar. Até Tahar Rahim, ator francês de reconhecido talento, é soterrado em seu papel estereotipado, um vilão repleto de frases prontas, a casca oca que não representa perigo real e tampouco uma sombra maior por se conectar ao passado de Cassandra.
Madame Teia coloca Cassandra sem demora para ser uma espécie de protetora de três jovens, Julia (Sydney Sweeney), Anya (Isabela Merced) e Mattie (Celeste O'Connor). Não há atenção ao fardo pesado carregado pela protagonista, sobretudo no que diz respeito ao guiamento das garotas por uma situação perigosa e bizarra que nem ela compreende totalmente. O enredo principal coloca Cassandra como a encarregada de garantir a sobrevivência das três meninas que pouco agregam em conjunto, sobretudo porque suas personalidades não são exploradas. Julia está caracterizada como se fosse um cosplay da cantora Britney Spears no clipe Baby One More Time – ou seja, a colegial tímida que tem um lado oculto menos dócil e mais provocador. E essa dualidade (superficial) em nenhum momento é elaborada. Já Anya parece existir na trama apenas para garantir a latinidade dentro da construção insignificante da diversidade, pois toma um amontoado de atitudes que não a individualizam. Por fim, Mattie é aquela cujo caráter vem um pouco mais à tona, pois é a revoltada que desconta a frustração pela ausência dos pais numa postura defensiva/ofensiva. S.J. Clarkson nem conecta as jovens à protagonista por meio da orfandade. Pesando as diferenças, todas sentem falta dos pais. Contudo, isso não é desenvolvido, o que torna o longa-metragem uma demorada viagem por situações e diálogos desinteressantes.
E quanto às cenas de ação? De tão mal orquestradas, elas confirmam o status de Madame Teia como um genuíno exemplar série B da Marvel, vide a utilização de computação gráfica (de baixa qualidade) em momentos capitais e até a ausência de uma noção do ridículo. O filme tenta nos empolgar com circunstâncias que beiram o risível. Cassandra e o vilão estão sempre esmiuçando os próprios sentimentos, descrevendo percepções, planos e dúvidas como se estivessem fazendo um simples checklist ou pronunciando em voz alta uma lista de necessidades para ir mais tarde ao supermercado. Não é diferente de Morbius, outra produção da iniciativa empresarial conjunta da Sony Pictures e da Marvel Studios para faturar uns trocos com coadjuvantes pouco memoráveis do Amigão da Vizinhança. No entanto, não nos enganemos, porque o problema de ambos os filmes não é a natureza frágil dos personagens, mas o modo displicente como eles são apresentados e desenvolvidos em cena. As duas superproduções chegam perto da caricatura, porém sem partir conceitualmente da representação caricatural desse universo. Essa distorção é involuntária. Prova disso é o constrangedor retorno de Cassandra ao Peru para falar com os guerreiros lendários Las Arañas. Sem dificuldades, ela os encontra, recebe uma aula providencial e ganha a chave da vitória. Como perceber o mérito da jornada numa dinâmica tão banal assim?
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 3 |
Robledo Milani | 4 |
Arthur Gadelha | 4 |
Ailton Monteiro | 2 |
Francisco Carbone | 4 |
Alysson Oliveira | 2 |
Chico Fireman | 3 |
MÉDIA | 3.1 |
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