Crítica
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Sinopse
Denis Dumar é um maestro de prestígio que acaba de ganhar um prêmio pela excelência de sua carreira. Filho de François Dumar, maestro internacionalmente conhecido, ele precisa desfazer um mal-entendido para ter paz.
Crítica
Em Maestro(s), Denis (Yvan Attal) é um regente bastante respeitado que acaba de ganhar um reconhecimento público por sua excelência artística. A câmera passeia do palco onde o prêmio está sendo entregue à plateia, onde pessoas próximas ao homenageado demonstram orgulho. No entanto, uma cadeira importante está vazia, a do pai e também maestro François (Pierre Arditi), que testemunha a ocasião festiva à distância, de casa, diante da televisão com um olhar claramente desgostoso. Não demora muito para percebermos que entre eles há uma série de senões, a começar pela rivalidade – aparentemente, o pai nunca reconheceu devidamente a excelência do filho que, por sua vez, sempre ficou à espera de aprovação. Esse cenário remete imediatamente a Sonata de Outono (1978), um dos filmes mais densos do cineasta sueco Ingmar Bergman, no qual Liv Ullmann interpretava uma filha pianista que seguiu os passos de uma mãe (Ingrid Bergman) reconhecida como verdadeiro gênio musical. Entre elas também existia uma coleção de ressentimentos alimentados por expectativas mal elaboradas e outras coisas referentes a essa busca por aceitação. No entanto, se Bergman optou por uma abordagem áspera e dolorosa, em meio à qual as conciliações não são sequer possíveis, o diretor Bruno Chice opta por um tom menos duro, deixando evidente que há margens para os perdões e afins.
Denis se relaciona com uma de suas violonistas, Virginie (Caroline Anglade), enquanto François tem casamento de meio século com Hélène (Miou-Miou). Destacar esse aspecto é importante porque ambos personagens demonstram, em alguma medida, que são sujeitos sem coragem de admitir certas coisas às suas parceiras, isso quando não as utilizam para resolver questões que eles próprios não conseguem. Aliás, essa condição passa meio batido pelo radar de Bruno Chiche, a julgar pelo fato de que o cineasta o situa como parte do contexto, não desenvolvendo suas particularidades para conferir mais espessura dramática a pai e filho. Denis não consegue dizer à sua amada que ela tem talento mediano, alimentando o desejo alheio por uma posição de destaque na orquestra. No entanto, isso não é nada importante à trama, servindo apenas como motivo para a briga que antecede a reconciliação. Por que ele faz isso? Por amor? Para manter ela ao seu lado, ou seja, por medo de perdê-la? O filme não se interessa por isso, pois está estritamente focado na distância entre pai e filho, algo que precisa ser resolvido para a ocorrência do final feliz. Diferentemente de Bergman, que isola suas personagens e as faz travar diálogos cortantes, Bruno prefere cercar os protagonistas de coadjuvantes, mas não cuida para que eles sejam mais do que partes do cenário, pois não têm muita importância para a história.
Ainda sobre a relação dos protagonistas litigantes com as mulheres. Denis não tem coragem de dizer ao pai que houve um mal-entendido e que na verdade ele foi o escolhido para reger uma das orquestras mais importantes da Itália. Dentro da covardia antes sinalizada, ele dá um jeito de transferir a tarefa inglória à sua mãe, encarregando-a de enfrentar o patriarca ressentido. François, por sua vez, expõe o passado íntimo da esposa para ver se machuca o filho, assim demonstrando também uma vocação por tirar o corpo fora. Os papeis femininos de Maestro(s) servem apenas para variar a paisagem e oferecer tanto a Denis quanto a François áreas de escape emocional e amparo (forçado) às dificuldades de diálogo mútuo. Outro aspecto mal resolvido e que diz respeito aos coadjuvantes é a relação de Denis com o próprio filho, Mathieu (Nils Othenin-Girard). A presença do garoto poderia funcionar como elemento complicador (no bom sentido) a Denis, uma vez que ele é visto com dificuldades diante do seu pai, mas frente ao menino ocupa a função do genitor. No entanto, como Mathieu não representa nenhum problema a ele – nem sequer a inclinação pela gastronomia, ou seja, a negação da tradição de musicistas, cria algum tipo de tensão –, Mathieu se torna outro apoio moral ao pai, e não mais do que isso. Aos poucos, tudo está montado para que os turrões Denis e François façam as pazes.
O ambiente musical é visto esporadicamente em Maestro(s) como naturalmente competitivo, algo que se encarregaria por si só de acirrar a disputa de egos entre pai e filho. Bruno Chiche não aproveita essa realidade competitiva para conferir outras tintas a uma disputa que poderia ser melhor desenvolvida entre íntimo e profissional. Em algum momento, parece que o enredo englobará essa ideia de que Denis e François são arrastados pela natureza dura de uma atividade que precisa de disciplina e exige graus de excelência (além de renúncias) daqueles que querem sobressair. Mas, isso acaba não acontecendo. O contexto facilmente poderia ser substituído sem a necessidades de mudanças significativas, pois o filme não se apega tanto às especificidades da música clássica. Além disso, há uma boa vontade quase inocente com a ideia de que, uma vez aparadas algumas arestas, mágoas profundas começariam a sumir como num passe de mágica. Voltando a Sonata de Outono, Bergman não está preocupado em garantir um final feliz, mas em mergulhar profundamente nesse manancial de amarguras e desgostos acumulados por décadas e mostrar que há certas marcas impossíveis de apagar. Já Bruno, tendo em vista um cenário semelhante, prefere olhar tudo com uma perspectiva mais positiva e até romântica, priorizando a noção confortável de que basta um pouquinho de boa vontade para apagar todos problemas.
Filme visto no 14º Festival Varilux de Cinema Francêsv
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 5 |
Celso Sabadin | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 5.7 |
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