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Sinopse

Wade encontra sua filha desaparecida numa ala hospitalar em quarentena. Ela está infectada com um vírus zumbi. O médico, amigo da família, permite que ela saia para ter seus últimos momentos em vida com os seus. O pai permanece ao lado da filha em gradativa transformação, mas sabe que em breve será a hora de tomar uma decisão.

Crítica

Arnold Schwarzenegger estrela seu primeiro filme de zumbis em Contágio: Epidemia Mortal. Para o fã do astro dos anos 80, esta ideia pode surgir como algo com grande potencial de ação, com Arnie trucidando mortos-vivos enquanto verbaliza frases de efeito com seu inconfundível sotaque austríaco. Por mais divertido que isto poderia ser, o ex-governador da Califórnia não está buscando repetir seus papéis de outrora nesta produção. Portanto, quem for buscar pelo herói de ação robusto e infalível sairá totalmente decepcionado do filme. Por outro lado, quem acredita que Schwarzenegger pode sair de sua zona de conforto e estrelar algo muito diferente do que vem fazendo ao longo dos anos, pode sair surpreso e até satisfeito com esta guinada.

É importante que se diga que o diretor Henry Hobson nunca cogita comandar um filme clássico de zumbis. Aqui ele dirige algo bem mais introspectivo e reflexivo. Alguns inclusive apontaram que Contágio: Epidemia Mortal seria como se Terrence Malick se aventurasse a assinar um filme de zumbis. Mas não sejamos tão exagerados. Em sua estreia na direção, Hobson ainda está longe de ser um Malick, mesmo que seja clara esta vontade de emular algumas características do cineasta. O roteiro é do também estreante John Scott.

Em um mundo onde as pessoas foram infectadas por um estranho vírus que as transformam lentamente em zumbis, Wade Vogel (Schwarzenegger) está preocupado com o destino de sua filha. Depois de buscar por todos os lugares por Maggie (Abigail Breslin), ele a encontra em um hospital, com uma mordida que significa um desfecho triste e agonizante. A lei determinar que o correto é levá-la para uma zona de quarentena, onde todos os outros infectados são praticamente abandonados. Mas Wade não concebe tal ação, levando a garota para sua casa, local em que será tratada pelo pai e pela madrasta, Caroline (Joely Richardson). Cada caso é um caso, mas a transformação tende a demorar umas duas semanas para ser completada, tempo que os Vogel poderiam usar para se despedir de Maggie. Enquanto a doença progride, Wade se vê cada vez mais angustiado no que deve fazer com sua filha. Ela, da mesma forma, precisa decidir o que será feito para que não contamine ou machuque seus parentes.

Diferente de seus amigos brutamontes do passado, Schwarzenegger sempre tentou e, com algum sucesso, conseguiu fugir dos projetos mais óbvios. Ele foi um dos primeiros astros de ação a tentar a sorte na comédia, com Irmãos Gêmeos (1988), enquanto todos os seus colegas continuavam nos tiros e explosões. Por isso, não é nada estranho que em seu retorno ao cinema, depois de ter deixado a política de lado, ele tente assumir alguns riscos. Mais do que ninguém, o astro sabe que não pode mais encarnar aquele herói imbatível do passado e, com isso, busca projetos que se encaixem melhor com sua idade. Portanto, vê-lo abatido, sem esperanças e até chorando em cena é algo não só curioso, como positivo.

Para o ator, é um grande exercício e a prova de que ele pode pensar em abandonar os projetos de ação em um futuro próximo. Para o público, poder vê-lo em outro tipo de registro é interessante e até cativante. Quem sofre com isso, no entanto, é o filme. É difícil se desligar do fato de estarmos vendo Schwarzenegger como um sujeito que sofre pelo destino da filha. Por melhor que ele esteja no papel, ele não desaparece. Estamos sempre cientes do ator que está ali. Contágio: Epidemia Mortal poderia ter um resultado melhor caso buscasse um ator desconhecido como protagonista. Por outro lado, talvez não tivesse ganhado metade da atenção fosse qualquer outra pessoa naquela posição. Com isso, acaba parecendo muito mais uma carta de intenções para Hollywood do que um filme propriamente dito. Mostra que Schwarzenegger é capaz de fazer drama e apresenta aos estúdios o trabalho pouco convencional de Henry Hobson.

O roteiro peca ao incluir personagens que nunca vão mostrar o porquê de sua existência. O melhor exemplo disso são os outros dois filhos de Wade, que são abandonados no início da trama. Também nunca somos informados exatamente o porquê dos médicos e dos policiais tratarem com tanta cortesia o personagem de Schwarzenegger, quando ele está pondo em risco sua comunidade ao não seguir a lei. São pecadilhos de um roteirista novato, que consegue ao menos instigar o espectador com outros tipos de discussão ao longo do filme. A zumbificação das pessoas e a escolha entre a quarentena ou a execução não deixa de ser uma alegoria para a eutanásia. É direito da família escolher? Ou da pessoa que está sofrendo com a doença? O desfecho longe do final feliz hollywoodiano é corajoso e faz Contágio: Epidemia Mortal ganhar pontos valiosos.

Abigail Breslin está correta como a personagem título e os demais nomes, em sua maioria pouco conhecidos, também convencem em seus papéis. Existe um trabalho esmerado em manter a fotografia sempre cinza, pesada e o filme ganha um ar de desesperança muito grande através disso. Méritos do diretor de fotografia Lukas Ettlin. A narrativa é lenta e o clima de angústia é forte. Henry Hobson dirige seu primeiro filme e concebe uma obra irregular, mas que tenta fugir sempre do lugar comum. Pode alienar o público que espera os zumbis clássicos ou uma fita de ação capitaneada por Arnold Schwarzenegger. Mas isso seria culpa das expectativas do público do que do longa-metragem em si.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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