Crítica
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Sinopse
Um falso mágico com talento para desmascarar charlatões é contratado para revelar a "verdade" sobre uma médium. No entanto, seu ceticismo vai dando lugar a um encantamento que ele não consegue explicar.
Crítica
Magia ao Luar começa com um número de mágica, assunto caríssimo para Woody Allen. O cineasta nunca escondeu seu apreço pelo ilusionismo, tendo passeado por este mundo em outros de seus trabalhos como Scoop: O Grande Furo (2006) e O Escorpião de Jade (2001). Como era de se esperar, os assuntos tratados em seu novo longa-metragem não fogem do universo conhecido do diretor. Estão ali as discussões acerca da religião, do significado da vida, da egolatria. Tópicos que são unidos em um belo pacote, aproveitando muito bem o que as paisagens do sul da França têm a oferecer, com um elenco afiado e uma história que vai conquistando o espectador aos poucos.
A trama começa em 1928, em Berlim. Em um grande show de mágica, o grande Wei Ling Soo mostra ser o maioral no seu ofício. Faz desaparecer um elefante, corta mulheres ao meio e se teletransporta de um lado ao outro do palco. A identidade chinesa é só mais uma parte do truque do britânico Stanley Crawford (Colin Firth), assumindo outra persona em seu espetáculo. Figura irascível, perfeccionista e incrivelmente egocêntrica, Stanley apenas se desarma quando encontra um de seus poucos amigos, o colega de profissão Howard Burkan (Simon McBurney). Este vem com um convite tentador: viajar à Riviera Francesa para desmascarar uma pretensa figura mediúnica que estaria dando o golpe em uma rica família. O mágico aceita de pronto o convite e parte para conhecer a moça, Sophie (Emma Stone), uma figura interessantíssima. Sem conseguir explicar, ela tem informações e visões a respeito das pessoas que ninguém poderia ter. Cético, Stanley faz de tudo para desmascarar a garota, lutando uma batalha interna para não se deixar levar pelos encantos da bela médium.
Colin Firth é mais um ator a se unir a uma lista extensa de alteregos de Woody Allen em seus filmes. Curiosamente, ele é um dos poucos a não tentar emular nenhuma das características marcantes do diretor/ator como já o fizeram Kenneth Branagh em Celebridades (1998), John Cusack em Tiros na Broadway (1994) ou Owen Wilson em Meia-Noite em Paris (2011). Esqueça a gagueira ou o jeito nervoso de falar. Firth interpreta um homem seguro de si, uma pessoa que se considera acima do bem e do mal, um gênio em pessoa. Essa confiança esconde alguns esqueletos no armário e, claro, assim que Sophie aparece e Stanley começa a perceber que a menina é mais do que pensava, o castelo de cartas começa a cair.
O mágico não é o alterego de Allen por esta segurança, mas por outras características: a falta de fé, o gosto pela música, a certeza da inexistência do além, o próprio apreço pela mágica. Em dado momento, um dos personagens faz uma larga explanação de quem Stanley é e, basicamente, poderia ser o próprio cineasta expondo suas características. Por escolher uma forma diferente e muito singular de interpretar o personagem, Colin Firth ganha muitos pontos.
Emma Stone está muito segura como a jovial Sophie, caprichando na inequívoca canastrice de uma médium. Adorável como poucas atrizes de sua geração, Stone faz uma boa dobradinha com Firth, sendo o raio de sol que aquele personagem tanto precisava para se encontrar. O relacionamento entre os dois começa às turras, como se podia imaginar. Stanley quer de todas as formas desmascarar a pretensa vidente, sendo esnobe e ácido com todos à sua volta. Isso não impede que floresça uma admiração mútua, que não demora em virar algo mais. Ainda que Firth e Stone estejam muito bem em seus papéis, o destaque de Magia ao Luar vai para a veterana Eileen Atkins, que vive a tia de Stanley, Vanessa. Mãe postiça e espécie de consciência para o mágico, a personagem é defendida com sapiência pela atriz, que parece não se esforçar para trocar diálogos certeiros com seu sobrinho. Em uma cena muito bem construída, ela leva Stanley onde quer com suas frases, enquanto não tira seus olhos do jogo de baralho. Outra veterana, a australiana Jacki Weaver, ganha pouco o que fazer, assim como Marcia Gay Harden. Já Hamish Linklater convence como o almofadinha bem intencionado, mas enfadonho.
Capturando novamente a França da década de 1920, Woody Allen se alia ao mesmo diretor de fotografia de Meia-Noite em Paris, Darius Khondji, ressaltando as belezas daquele país. A direção de arte é caprichada e a festa que acontece em meio à trama, ainda que não chegue perto de um Grande Gatsby (2013), mostra muito apuro e valor de produção. Porém, um dos fortes de Woody Allen, o roteiro, acaba por deixar a desejar em Magia ao Luar. Muitos diálogos expositivos, como não se via há tempos em tramas do diretor, podem ser facilmente reconhecidos. Não chegam a incomodar muito, mas denunciam um script que poderia ter passado por uma ou duas revisões antes de ser filmado. De qualquer forma, é sempre interessante acompanhar as maquinações do cineasta a respeito da religião (o ato da reza tem papel importante no filme) e a certeza de que não existe uma continuação para a vida depois da morte. De novo, muitos pontos já abordados em trabalhos anteriores, mas que não perdem a validade de forma alguma.
A boa notícia para os fãs é que Magia ao Luar, ainda que tenha alguns pequenos problemas, consegue ser um ótimo exemplar na filmografia do diretor. Tem boas piadas, um elenco longe de estar no automático e uma trama bastante otimista – principalmente ao levamos em conta quem a escreveu. O filme é, ao fim e ao cabo, uma comédia romântica bem executada, ainda que não pareça ser pertencente ao gênero até metade do segundo ato. Divertido e cativante.
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Gosto muito do Wood Allen, porém estão colocando muitas palavras na boca dele. Ele simplesmente pegou a história de vida do Houdini e adaptou. Simples assim. É difícil de entender como os gênios são o que são. Simples.