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Sinopse

Em Malévola: Dona do Mal, Malévola e sua afilhada, Aurora, começam a questionar os complexos laços familiares que as prendem. Os anos foram gentis com as duas. O relacionamento delas, nascido pelo desgosto, vingança e finalmente amor, floresceu. No entanto, o ódio entre o homem e as fadas ainda existe. Com Angelina Jolie.

Crítica

Existe alguma razão de ser para Malévola: Dona do Mal, sequência de Malévola (2014), além da óbvia tentativa de capitalizar em cima do sucesso do longa original? Após assistir ao filme de Joachim Ronning (o mesmo do naufrágio Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, 2017), é difícil encontrar qualquer motivo para sua existência – a não ser a financeira, é claro. Se o primeiro projeto havia sido uma escolha um tanto arriscada – afinal, sua intenção foi pegar uma figura tradicionalmente conhecido por suas vilanias e transformá-la em heroína inesperada, essa segunda incursão pelo universo clássico da Bela Adormecida transita por caminhos absolutamente seguros. Apesar da inserção de novos personagens, a trama é a mesma do anterior, com iguais motivações e desfechos. É mais do mesmo, com menos, aliás. Um triste desfecho (ou não?) para um conto que merecia ser tratado com maior respeito e reverência.

Há tempos demonstrando forte indecisão entre ser atriz ou estrela, Angelina Jolie parece ter se conformado com a segunda opção. Sem fazer um filme de destaque por sua atuação desde A Troca (2008) – ou seja, há mais de uma década – pelo qual, inclusive, foi indicada ao Oscar, desde então se manteve ocupada com projetos de ação (O Procurado, 2008, Salt, 2010), que serviram para aumentar seu status comercial, ou com títulos voltados para suas crianças (a trilogia Kung Fu Panda, o próprio Malévola), além, é claro, de incursões como diretora (o mais recente foi o malfadado À Beira Mar, 2015). Como já anunciou que irá ingressar no Universo Cinematográfico Marvel em Eternos (2020), Malévola: Dona do Mal surge como uma distração passageira apenas para manter seu nome em alta. Ao assisti-lo, tem-se a impressão de se estar diante de algo feito às pressas, apenas para aproveitar esse momento tanto da intérprete principal como também da Disney, que tem investido pesado nesse tipo de produto – este é o quarto do gênero apenas neste ano, após Dumbo (2019), Aladdin (2019) e O Rei Leão (2019).

Quase uma assinatura de Angelina Jolie, Malévola ainda sofre, nesse segundo filme, do mal de se tornar coadjuvante do seu próprio espetáculo. O protagonismo da trama está nas mãos da rainha má interpretada por Michelle Pfeiffer, que volta ao tipo da megera enlouquecida que tão bem lhe caiu em obras como Stardust: O Mistério da Estrela (2007) ou Hairspray: Em Busca da Fama (2007), por exemplo. Ela aparece como a mãe do príncipe Philip (Harris Dickinson), por quem Aurora (Elle Fanning), a filha adotiva de Malévola, está apaixonada. A união dos dois jovens é também um bom pretexto para que se estabeleça um elo entre mundos tão distantes: os dos humanos e o dos mors, as criaturas mágicas que vivem na floresta do outro lado do rio. O que ninguém sabe, no entanto, é que essa aproximação tem sido vista pela Rainha Ingrith como a oportunidade perfeita para colocar um fim àqueles que vê como ameaça simplesmente por não compreendê-los. Caberia aqui um apropriado comentário social sobre preconceito e outras questões tão urgentes hoje em dia, mas exigir tal paralelo em uma produção Disney talvez fosse pedir demais.

Quando os próprios personagens começam a ter reações, no mínimo, incompreensíveis (para não dizer idiotas), é difícil estabelecer qualquer possibilidade de identificação por parte do público. É exatamente o que acontece nas relações que Aurora estabelece com aqueles ao seu redor: manipulada por Ingrith, sua futura sogra, mal percebe seu papel como joguete nas mãos dessas, sendo usada para dar fim justamente àquela que cuidou da sua criação. A aproximação das duas famílias termina em desastre, e com Malévola fora do quadro, a verdadeira bruxa – sem asas ou chifres, mas com intenções muito mais perversas – se vê livre para dar início à guerra que tanto sonhou. O que não imaginava era descobrir que Malévola não é a única da sua raça – outras figuras míticas iguais a ela, há muito confinadas às profundezas na terra, veem nesse ataque o momento para também partirem para o combate. Não querem mais se esconder, portanto. Como se vê, todo mundo em cena parece ter intenções bastante claras. Mas e a protagonista – ou, ao menos, personagem-título? O que ela quer?

Pois então, essa parece ser a grande questão ao redor de Malévola: Dona do Mal. Angelina Jolie simplesmente passeia pela tela, e com não mais do que vinte frases para dizer durante todo o filme, tem muito pouco a dizer – literalmente. Até o fato de chamá-la de “dona do mal” parece um tanto absurdo – no mínimo, exagerado – pois o argumento desenvolvido em ambiente tão rarefeito já foi mais do que visto: todo mundo pensa que ela é a vilã, apenas para no final aparecer salvando todos do verdadeiro perigo e revelando ter, sim, um bom coração. Nada muda quanto a isso. Seus irmãos de sangue não são mais do que imagens interessantes visualmente, mas sem qualquer profundidade. A rivalidade com os humanos recai no velho clichê do “não entendo, então quero destruir”, e o próprio desfecho é tão feito às pressas, repleto de sequências ilógicas, que parece nem ao menos se esforçar para fazer sentido. Sem funcionar nem mesmo junto ao público infantil – sequências por demais violentas deverão afastar essa audiência – e sem a dose de fantasia necessária, termina por recorrer a um humor pastelão e deslocado. Uma grande – e desnecessária – bobagem, na melhor das hipóteses.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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