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Sinopse

Malévola leva uma vida idílica, crescendo em um pacífico reino, até o dia em que um exército invasor de humanos ameaça a harmonia da região. Ela tenta proteger aquele lugar mágico, mas acaba sendo vítima de uma traição — um acontecimento que começa a transformar seu coração, outrora repleto de pureza, em pedra. Determinada a se vingar, amaldiçoa a filha recém-nascida do rei dos humanos, Aurora.

Crítica

Após tantos filmes nos últimos anos que recriam os contos de fadas – a começar por Alice no País das Maravilhas (2010) -, não é de se estranhar que uma produção como Malévola cause muito mais curiosidade pela escolha de sua protagonista do que pela expectativa real de que o longa fosse ser uma obra-prima do gênero. Muito pelo contrário. A história baseada na vida da vilã de A Bela Adormecida (1959) até tem pontos interessantes, porém tão mal explorados que o melhor de tudo não poderia ser outra coisa senão a presença de Angelina Jolie.

O início (cansativo) de Malévola conta como uma das mais temidas vilãs da história da Disney vivia como a grande fada de seu reino Moor, terra em conflito constante com o reino dos humanos que queriam se apossar da magia do local. Após ficar amiga de um garoto humano, Stefan, e, consequentemente, ser abandonada por ele, que tinha grande aspirações a se tornar rei, a garota passa seus dias sem muita confiança. Fato que ainda piora quando, já adulto, Stefan (Sharlto Copley) retorna à terra mágica para reconquistar Malévola (indecifrável ela ter esse nome de nascença sem nenhuma vilania aparente) e cortar suas asas fora, o que a deixa (obviamente) possessa e o reino se torna pura escuridão. A partir de então, segue-se a cartilha da história original: Stefan se torna rei, Aurora nasce, a maldição do sono eterno e do beijo são lançadas, etc.

O que torna o roteiro preguiçoso são as ideias mal trabalhadas. É claro que é interessante o fato de Malévola se tornar maligna a partir de uma traição não só sentimental, mas com direito a agressão física. Porém, seu desenvolvimento começa a ficar frouxo pois a dualidade da protagonista é colocada à prova assim que Aurora (a filha de Angelina quando pequena e Elle Fanning já na fase adolescente) começa a crescer e a “vilã” nutre uma simpatia pela menina. O modo como ela trata a garota (“praguinha”) acaba por se tornar uma espécie de apelido carinhoso, já que Malévola e seu corvo fiel sempre cuidam da pequena. Ainda mais que as fadas-guardiãs - Flittle (Lesley Manville), Knotgrass (Imelda Staunton) e Thistletwit (Juno Temple) – se mostram totalmente incompetentes e incapazes de realizar o ofício. Algo bem diferente da graciosidade com que o trio realizava suas tarefas na animação original.

O diretor estreante Robert Stromberg (vencedor do Oscar pelo Design de Produção de Alice no País das Maravilhas, 2010, e Avatar, 2009) peca pelo excesso. Se, por um lado, realmente, a direção de arte é magnífica, capaz de criar um mundo mágico crível – o que os efeitos especiais ajudam a melhorar ainda mais ao dar vida a árvores, fadas e afins -, por outro a direção geral falha ao apostar no excesso de close ups, quase como se fosse um produto televisivo. O pior ainda fica por conta das cenas de ação. Planos fechados que não dão a dimensão do que acontece ao redor, com direito a imagens borradas pelo excesso de velocidade com que as coisas acontecem.

Ironicamente, a melhor cena do filme é, justamente, a recriação live action do nascimento de Aurora, praticamente a mesma de A Bela Adormecida. A entrada das três fadas, os presentes concedidos, a chegada triunfal de Malévola e seu tom ameaçador (inclusive com as mesmas falas da animação dos anos 1950): está tudo lá. Aliás, o melhor mesmo de Malévola fica por conta de Jolie, que realmente se diverte fazendo a personagem. Quando ela é boa, está bem. Na fase mais “vilanesca”, assim digamos, o nível sobe ainda mais e até o tom de voz lembra o da vilã original.

Ainda assim, é pouco. O conflito com o rei parece ser esquecido por um bom tempo até ser reacendido no final, que deixa um furo inexplicável na relação entre pai e filha que só os mais desavisados não hão de notar. O clímax do beijo, ainda por cima, copia, descaradamente, a ideia de outra animação recente dos estúdios que fez muito sucesso. Nem preciso dizer qual é. No fim das contas, o que falta em Malévola é emoção. E, num conto de fadas, recriado para um tom mais sério e sombrio (ou não), sentimento é o que não pode faltar. Uma pena.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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