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Sinopse

Preocupada com o repentino comportamento estranho e violento de seu filho, Sarah inicia uma investigação por conta própria para entender o que está acontecendo. Mas o que descobre é que alguma espécie de força sobrenatural está agindo sobre ele, influenciando, cada vez mais, suas ações.

Crítica

Maligno poderia ser um grande filme. O que lhe falta, portanto? Coragem para se assumir além do que normalmente é ditado pelas cartilhas do gênero. Os elementos para tanto estão a seu dispor. E não que, necessariamente, se veja obrigado a trilhar um caminho absolutamente original. Aliás, muito pelo contrário. As referências estão por todos os lados, das mais óbvias, como A Profecia (1976) e O Bebê de Rosemary (1968), até outras não tão evidentes, mas ainda assim pertinentes, como os recentes O Babadook (2014) e até mesmo Invocação do Mal (2013). No entanto, mesmo com ‘a faca e o queijo na mão’, o diretor Nicholas McCarthy frequentemente dá sinais de ignorar opções mais ousadas, contentando-se com o susto rápido e o retorno imediato. Com isso, perde a oportunidade de se tornar referência dentro de um cenário cada vez mais escasso de boas ideias.

Logo nas primeiras cenas somos apresentados ao caso de um serial killer que sequestrava garotas e tinha como ‘assinatura’ arrancar as mãos delas antes de matá-las. Uma delas, no entanto, consegue escapar, a ponto de levar a polícia ao encalço do assassino. Ao cercá-lo, ele acaba morto. No mesmo instante, muitos quilômetros de distância dali, Sarah (Taylor Schilling, que transita entre a apatia e o desespero forçado na maior parte do tempo) está dando à luz. Não precisa ser nenhum gênio para se dar conta de que está nesse paralelo o segredo para tudo o que será visto a seguir: a alma de um foi parar no corpo do outro. Como? Ninguém sabe. O certo é que há algo de estranho com o recém-nascido, e não tardará para os pais se darem conta disso. O problema é que talvez seja tarde demais para que possam fazer qualquer coisa para impedir o pior.

Apesar de deixar claro desde o começo o que teria acontecido com o pequeno Miles (Jackson Robert Scott, de It: A Coisa, 2017), McCarthy prefere seguir apostando num suspense vazio, como se ainda não estivesse óbvio àqueles minimamente atentos o que, de fato, estaria se desenvolvendo em cena. Com isso, perde-se um tempo considerável que poderia ter sido aproveitado no aprofundamento dos personagens, por exemplo, pois estes acabam não indo além das reações imediatas e expressando apenas as emoções mais básicas, entre a temeridade de, talvez, não conseguir salvar o próprio filho, e a cada vez mais urgente necessidade de se livrar de um mal surgido no âmago do lar. E por mais que seja perturbador presenciar uma criança tão pequena tendo que defender diálogos e situações que abalariam até mesmo adultos experientes, nota-se nestas mesmas passagens que o jovem protagonista parece ser o único disposto a levar à sério a responsabilidade que lhe foi depositada.

Entre uma figura paterna que nunca chega a representar qualquer tipo de autoridade (e essa culpa é dividida entre o roteiro, que não lhe oferece melhores oportunidades, e o fraco desempenho de Peter Mooney, que por muitas vezes parece nem saber bem o que fazer em cena) e um dito especialista que opta por se afastar do problema diante da menor complicação (Colm Feore já teve dias melhores), Maligno volta-se ao velho esquema do sacrifício materno em prol da cria. Neste momento, resta a dúvida: do que, exatamente, Sarah estaria abrindo mão? Do filho ou de si mesma? Das suas convicções, ou haveria uma ordem maior a lhe guiar? O debate suscita questionamentos pertinentes. Lamentavelmente, nenhum chega a ser percorrido da maneira que merecia.

Por mais que alguns possam apontar que a conclusão encontrada pelo roteirista Jeff Buhler (o mesmo da nova versão de Cemitério Maldito, 2019) é, ao menos, corajosa, o fato é que ela não é nem mesmo inovadora – basta recordar muitos dos escritos de Stephen King para se deparar com desfechos, no mínimo, similares. Assim, os tropeços que Maligno apresenta em sua narrativa acabam na conta, mesmo, daquele responsável por tamanha mediocridade: Nicholas McCarthy. Os assombramentos da infância, a questão sobrenatural e até mesmo os embates religiosos aqui apenas tangenciados permitiriam um percurso mais tenso – sem falar numa conclusão ainda mais assombrosa. No entanto, resigna-se a percorrer ambientes conhecidos, desvendando uma ou outra possibilidade digna de nota, mas nada que justifique um esforço maior. Ou seja, está tudo lá. Porém sem cuidado, muito menos interesse.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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