Crítica
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Sinopse
A Coronel Honorine Munyole é uma robusta viúva de quarenta e quatro anos e mãe de sete filhos pequenos. Ela usa seu uniforme, boina e bolsa preta como um escudo protetor, no trabalho diário de dirigir uma unidade policial dedicada a proteger mulheres estupradas e crianças vítimas de abusos nas regiões do Congo assoladas pela guerra.
Crítica
Quantos filmes do Congo você já viu nos cinemas brasileiros? Quantas destas obras foram filmadas no local, e dirigidas por um cineasta congolês? O primeiro contato com este documentário ocorre na chave da curiosidade em relação a uma cinematografia modesta, e praticamente invisível dentro do nosso país. Por esta razão, é de se felicitar que, em período de árdua disputa por espaço nas salas de cinema, o documentário pouco conhecido desbrave o caminho do circuito comercial, fruto de um trabalho cinéfilo de curadoria e exibição. O tema também chama a atenção, ao se concentrar na rotina de uma mulher policial, especializada em lidar com casos de abuso contra mulheres e crianças nas áreas mais pobres do país africano.
No entanto, apesar de todos os esforços envolvidos, incluindo aquele do diretor Dieudo Hamadi, o resultado é bastante deficiente. A limitação de recursos poderia ser compreendida caso utilizada a favor da produção do filme, ou seja, se o tom de urgência justificasse esta linguagem, e caso os criadores obtivessem o melhor agenciamento possível apesar das restrições, como ocorre em tantas obras do circuito alternativo. Ora, Mama Colonel é movido por um trabalho fraquíssimo de câmera na mão, tremendo ao ponto de perder de foco sua personagem, sem saber ao certo quem filmar durante um diálogo – a câmera desliza de um rosto para outro nervosamente, perdendo o foco de quem fala ou deixando de se concentrar na ação que lhe interessa. O ângulo parece ser decidido na hora, sem preparação prévia ou qualquer forma de reflexão, o que independe da pequena câmera digital na mão, que poderia ter sido mais bem empregada. A luz natural estoura ou mergulha os personagens na escuridão, enquanto a captação de som provém da própria câmera.
Outro problema considerável da direção diz respeito ao ponto de vista: a coronel Honorine jamais se torna protagonista, sendo vista à distância, em cenas que parecem espiadas (a filmagem da fachada da delegacia) ou tão próximas que interferem na ação em curso. Existe desconforto evidente de alguns policiais filmados, ao passo que os close-ups no rosto de crianças agredidas e a filmagem ao vivo de mulheres sendo agredidas por policiais na delegacia despertam um questionamento essencial a respeito da postura ética diante de cenas de violência. Ao se deparar com casos de abuso – na maior parte dos casos, crianças espancadas por serem consideradas alvo de feitiçaria -, a câmera se aproxima a ponto de se colar ao rosto das crianças espantadas, cujas histórias ou personalidades são ignoradas. Quando mulheres estupradas durante a guerra pedem asilo, um homem questiona a veracidade de suas histórias e a protagonista logo assume o posicionamento acusador perante às vítimas: “Que garantia que vocês conseguem me dar [de que foram estupradas de verdade]?”.
Parte do incômodo face a essas imagens pode ser atribuído aos nossos olhos ocidentais, para quem as investigações baseadas apenas na palavra de um contra a palavra de outro podem refletir a pobreza de recursos do sistema policial congolês. No entanto, o documentário jamais explicita seu ponto de vista em relação àquela realidade: ele parte em defesa o trabalho bem-intencionado, porém limitadíssimo, da Coronel? Percebe alguma raiz específica para os problemas, alguma possibilidade de mudança? De que maneira aquela autoridade feminina se inscreve num sistema patriarcal rígido, no qual os estupros – de bebês, inclusive – são frequentes? Ela está sozinha neste combate, visto que ninguém mais manifesta ideias semelhantes? O projeto permanece no âmbito da observação e descrição: esta realidade existe, ela é grave, e a protagonista faz o que pode para combatê-la. Para um filme em evidente busca de denúncia social, dirigido por um cineasta que conhece a fundo a realidade local, esta postura soa muito limitada enquanto política e enquanto arte.
“Vocês vão pagar por isso, nem que seja com o castigo divino!”, grita a Coronel a duas mulheres violentas, antes de puxar seus filhos agredidos para fora da cena. Então é assim que funciona o sistema legal no Congo? Ameaças, promessas e poucas consequências efetivas? Nenhum único caso é acompanhado do início ao fim no projeto de Hamadi. A policial tampouco é vista em sua vida pessoal, onde talvez pudéssemos compreender o impacto psicológico destas imagens chocantes (a única cena caseira revela a protagonista passando maquiagem antes de ir ao trabalho, numa representação simplória de sua condição feminina). Infelizmente, terminamos o filme conhecendo muito pouco sobre a Mama Coronel, e ainda menos sobre as circunstâncias dos crimes contra mulheres e crianças no Congo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Bruno Carmelo | 3 |
Alysson Oliveira | 7 |
MÉDIA | 5 |
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