Sinopse
Margaret perde seu filho e desenvolve um relacionamento não convencional com um rapaz indigente. A confiança entre eles é abalada quando o homem se envolve com uma violenta gangue.
Crítica
Protagonista de Mammal, Margaret (Rachel Griffiths) é uma mulher solitária que vive seus dias no processo rotineiro entre a casa, o trabalho e algumas idas ao clube local para a prática de natação. Esse universo apático entra em crise quando ela encontra Joe (Barry Keoghan), um jovem mendigo problemático, ferido nos fundos de sua casa após uma briga entre gangues.
A relação que se desenvolve a partir dessa convergência inesperada de mundos é o que faz a diretora inglesa Rebecca Daly desenvolver uma história de tom delicado sobre perdas, confiança e recomeços. Em um drama crescente e de tensão constante, Daly explora sua narrativa entregando poucos fatos ao espectador. Não existem respostas exatas, e o subtexto que se apresenta reflete muito da complexidade de Margaret, interpretada de forma magistral por Rachel Griffiths. Keoghan também constrói Joe de maneira concisa e instável. Ficamos apreensivos com o personagem que é uma verdadeira bomba-relógio.
Em uma performance minimalista, de poucos diálogos, com muitos gestos e olhares, Griffiths entrega uma das grandes atuações de sua carreira. Mammal é da atriz australiana de ponta a ponta. É seu veículo, e Daly parece ter consciência total desse aspecto ao buscar a cada enquadramento e plano uma forma de ressaltar o olhar da atriz, que é duro e atravessa o espectador de forma brutal. Afinal, Margaret é uma personagem enigmática que se despe de sua armadura, mostrando marcas de um passado, mais especificamente do luto, de forma progressiva. O máximo que se apresenta, como dito anteriormente, no início do filme, é a sua rotina e muito pouco sobre seus temores e justificativas para uma vida tão passiva.
Porém, é com o envolvimento entre ela e Joe, uma relação volátil que acrescenta um clima de suspense à história, que aos poucos descobrimos o luto da personagem pela perda do filho, a dificuldade tanto sua como de seu ex-marido para superar a tragédia, cada qual ao seu modo. A complexidade que Daly busca apresentar é de que o luto se mostra de formas diversas. Se Matt, o ex-marido, embarca em uma raiva avassaladora, Margaret tateia o mundo e se envolve em uma rotina para buscar esquecer o passado. Existe um distanciamento da possibilidade de criar laços. A chegada de Joe, com personalidade rebelde e instável, faz a personagem, gradativamente, compreender e destruir essa insegurança aliada a um renascimento da maternidade.
Exibido no Festival de Sundance de 2016, Mammal poderia se tornar um filme melodramático e apelativo nas mãos erradas. Contudo, por meio de uma direção muito madura de Daly e da atuação minuciosa de Griffiths, é desenvolvido um trabalho de grande impacto e apelo emocional equilibrado. O roteiro de Glenn Montgomery é um estudo de personagem excepcional que nos faz pensar o quanto materiais deste tipo fazem falta no cenário atual em que o audiovisual busca, cada vez mais, destacar propostas que ampliem o retrato de mulheres nas telas.
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