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Sinopse

Nelson Mandela passou sua infância em um meio rural. Ao crescer, no entanto, através de uma eleição democrática, alcançou o posto de presidente da República da África do Sul.

Crítica

Um homem com a importância de Nelson Mandela, com uma história de vida e de luta tão impressionantes, só poderia ser protagonista de diversas cinebiografias. O cinema tem este gosto por contar a trajetória de pessoas notáveis e Mandela: O Caminho para a Liberdade é mais uma produção que se propõe a recontar o caminho pelo que percorreu Madiba, desde seu início como advogado, seu engajamento pela igualdade racial, a prisão e sua libertação. Diversos filmes já contaram sua história, com ênfases em diferentes aspectos da vida de Mandela (e o Papo de Cinema fez um especial compilando esta lista quando ele faleceu), mas esta nova produção assinada por Justin Chedwick se propunha a ser mais abrangente, adaptada da autobiografia do líder africano. Por tentar abraçar mais terreno em um longa-metragem de pouco mais de 140 minutos, o filme ganha ares episódicos, não conseguindo se aprofundar em momento algum. No entanto, só pela força da trajetória e pela boa atuação de Idris Elba, esta produção já mereceria uma olhada com mais cuidado.

O roteirista William Nicholson ficou responsável por adaptar a autobiografia de Mandela para os cinemas e tenta fazer o possível para não deixar nada de fora. Como o título original pressupõe, acompanharemos Madiba (Elba) até sua libertação do cárcere – e ganhamos como bônus sua candidatura e eleição ao cargo de presidente da África do Sul. Portanto, não espere acompanhar algo parecido com Invictus (2008). O Mandela de Elba é anterior a isso. Bastante anterior, inclusive. Vemos aquele homem muito antes de ser o líder que o conheceríamos. Madiba se tornou uma voz ativa em relação a igualdade racial em uma África do Sul destruída por conflitos. Preso junto de seus companheiros após lutar contra o governo, Mandela amargou 27 anos trancafiado, crescendo cada vez mais na opinião popular como um líder nato para as questões raciais. O filme mostra isso e um pouco da vida pessoal daquele homem, com destaque para a sua segunda mulher, Winnie (Naomie Harris), uma força na luta contra o apartheid, mas um voz um tanto contrária aos mandamentos pacíficos de Mandela.

Justin Chadwick dirige uma cinebiografia convencional, sem nenhum arroubo criativo, talvez pensando que não necessite muitas firulas para contar uma história cheia de momentos impactantes como a de Mandela. Por um lado, o cineasta está certo. O filme é didático na medida, consegue abranger diversos importantes períodos da vida do retratado e é respeitoso, como poderíamos imaginar. Talvez um dos trechos mais espinhosos na cinebiografia seja a separação de Mandela e Winnie. Como contar aquela história sem manchar o nome do líder ou sem colocar uma luz muito ruim em cima de sua ex-esposa? Isso, Chadwick  consegue contornar com elegância, mostrando o final do relacionamento como um evento (quase) recíproco.

Mandela: O Caminho para a Liberdade tem na atuação de Idris Elba um de seus destaques, ainda que o ator não tenha conseguido capturar a alegria de viver que tanto observávamos em Madiba. Quando jovem, Elba captura bem o ímpeto daquele homem, quando mais velho, a maquiagem lhe ajuda a convencer como Mandela. No entanto, faltou aquele sorriso franco que acostumamos ver a cada aparição do líder africano. Sorriso esse pego com precisão por Morgan Freeman em Invictus. É verdade que a trajetória que acompanhamos neste filme não existe muito espaço para risos e momentos de alegria. Mas algo tão contagiante e presente na vida de Mandela não poderia ficar de fora. Naomie Harris também é uma presença interessante no filme, conseguindo defender bem um personagem que teria tudo para cair no desgosto do público.

Muitos apontavam Mandela: O Caminho para a Liberdade como um possível concorrente a prêmios importantes no Oscar em 2014, indicações que acabaram não aparecendo. O filme, ainda que correto e cheio de boas intenções, não teria espaço realmente em grandes categorias do prêmio da Academia. Apareceu como coadjuvante de luxo na festa, indicado pela bela música do U2 ("Ordinary Love"), que fecha com uma nota alegre a trajetória do grande Madiba, que estava vivo quando a produção foi rodada e faleceu, coincidentemente, poucos minutos antes da première do longa em Londres. Esta produção até pode não ser a definitiva em contar a trajetória de Nelson Mandela, mas tem qualidades e é um respeitoso tributo a um grande homem.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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