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Sinopse

James Gregory enxerga os negros como seres inferiores, assim como a maioria da população branca que vivia na África do Sul sob o apartheid dos anos 1960. Crescido no interior, fala bem o dialeto Xhosa. Exatamente por isso, não é um carcereiro comum: atua, na verdade, como espião do governo com a missão de repassar informações do grupo de Nelson Mandela para o serviço de inteligência. Mas a convivência com Mandela cria um forte laço de amizade entre eles.

Crítica

Morgan Freeman, Danny Glover, Sidney Poitier e, mais recentemente, Idris Elba interpretaram o líder sul-africano Nelson Mandela em produções que contaram episódios da vida de Madiba. Alguns com mais, outros com menos sucesso, mas todos respeitando a figura quase mítica do homem que mudou a história de seu país. Menos lembrado, mas igualmente competente é o trabalho de Dennis Haysbert – conhecido como o presidente Palmer no seriado 24 Horas (2001-2007) – em um longa-metragem interessante, dirigido por Bille August, mas que acabou não ganhando a atenção do público à época da sua estreia - mesmo tendo saído premiado do Festival de Berlim. Mandela: Luta pela Liberdade pode não ter o status de grande produção como Invictus (2009) ou Mandela: O Caminho para a Liberdade (2013), mas tem qualidades suficientes para ser relevante.

A história é contada pelo ponto de vista do carcereiro James Gregory (Joseph Fiennes), o homem responsável por censurar as cartas que saíam e chegavam do presídio onde Mandela (Haysbert) e seus asseclas estavam encarcerados. Gregory e sua mulher, Gloria (Diane Kruger), acreditavam que o emprego traria prosperidade para a família. Mas não é fácil ter tamanha responsabilidade e conviver com Mandela, um homem íntegro e idealista, que acaba conquistando a confiança de Gregory com o passar do tempo. A relação entre os dois é o ponto principal da trama de Mandela: Luta pela Liberdade.

O roteiro de Greg Latter, baseado no livro de James Gregory, acerta em pontuar o longa-metragem com os encontros e conversas entre Mandela e seu carcereiro. Ajuda o fato de os atores estarem muito bem em seus papéis, conseguindo inclusive desempenhar de forma correta o sotaque característico dos sul-africanos. Haysbert aposta em uma interpretação terna e confiante, nunca deixando Mandela parecer menor apenas por estar na prisão. Já Fiennes trabalha bem com a evolução de seu personagem. Gregory possuía um amigo negro, quando criança, o que o ajudou a entender o dialeto e a cultura de Mandela e sua família. Mesmo assim, quando conhecemos o carcereiro, sua visão é preconceituosa para com seus prisioneiros. É a convivência com Mandela que o faz mudar aos poucos.

Saber o quanto da história é real e o quanto é fantasia pode ser complicado. O biógrafo de Mandela, Anthony Sampson, chegou a afirmar que Gregory havia se aproveitado das cartas que lia para criar uma relação fictícia com seu prisioneiro. No entanto, quando o líder sul-africano escreveu sua própria biografia, citou seu carcereiro em algumas partes, ressaltando que ele diferia dos demais por ser cortês. Como a história deste filme é contada sob o ponto de vista de James Gregory, fica para o espectador a responsabilidade de acreditar ou não nos relatos.

Mas este não é o maior problema do filme. O orçamento pequeno pode ter prejudicado um pouco esta produção, já que ela não consegue trabalhar bem a passagem de tempo da trama. Acompanhamos Gregory e Mandela por mais de 25 anos. Simplesmente não convencem os cabelos brancos de Dennis Haysbert e a adição de apenas um bigode para o personagem de Joseph Fiennes é uma solução pouco engenhosa por parte dos maquiadores. Além disso, o diretor tenta mostrar Mandela como uma figura mítica adicionando música em certas cenas – como acontece em sua primeira aparição, na solitária – transformando o momento em algo artificial, exagerado. Haysbert consegue transmitir a grandeza daquele homem sem estes artifícios.

Desculpando pequenos equívocos e o ritmo irregular de Mandela: Luta pela Liberdade, o filme acaba sendo um interessante panorama sobre o apartheid e sobre dois homens diferentes, que se conhecem em condições adversas, mas que acabam respeitando um ao outro com o passar do tempo. Nada mal para um diretor que, no passado, conseguiu transformar a reunião de Meryl Streep, Glenn Close, Jeremy Irons e Vanessa Redgrave em uma ode ao sono em A Casa dos Espíritos (1993).

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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