Crítica
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Sinopse
Um escritor se depara com a ex-mulher publicando um livro em que as intimidades deles são reveladas. Simultaneamente, está apaixonado por uma jovem de 17 anos e por uma mulher mais velha, esposa do seu amigo.
Crítica
Manhattan é um dos mais bem sucedidos filmes de Woody Allen. No quesito premiações, por exemplo, a produção levou duas indicações ao Oscar, venceu o BAFTA de Melhor Filme, venceu o César como Melhor Longa-Metragem Estrangeiro e ficou na lista dos melhores do ano de 1980 em diversos prêmios da crítica mundo afora. Nem por isso, Manhattan é bem quisto pelo seu diretor. Reza a lenda que o cineasta teria oferecido ao estúdio um novo filme, e que ele trabalharia de graça nesta produção caso Manhattan nunca visse a luz do dia. Felizmente, isso não aconteceu e pudemos observar toda a beleza da big apple em um linda fotografia preto e branco assinada pelo habitual colaborador do cineasta, Gordon Willis, atrelada à trilha de George Gershwin.
Isaac Davis (Allen) é um escritor divorciado que, no momento, tenta escrever um livro sobre sua adorada Nova York enquanto empurra com a barriga um trabalho detestável em um programa cômico de tevê. Davis está nervoso porque sua ex-mulher, Jill (Meryl Streep), está dando os últimos retoques em um livro que contará o relacionamento conturbado que os dois tiveram. Este e outros assuntos são pauta de um corriqueiro encontro entre Isaac, sua namorada, a jovem de 17 anos Tracy (Mariel Hemingway), e o casal de amigos Yale (Michael Murphy) e Emily (Anne Byrne) em um bar nova-iorquino. Mal Isaac sabia que Yale jogaria uma bomba no seu colo depois de deixar as mulheres em casa: ele está tendo um caso fora do casamento com a jornalista Mary Wilkie (Diane Keaton) e sente-se muito mal com isso. Seu amigo fica pasmo, já que sempre pensou que o casamento de Yale era perfeito. Certo dia, Isaac conhece Mary e, em um primeiro momento, a detesta. Esse sentimento, no entanto, mudará com o passar do tempo nesta ótima história assinada por Woody Allen e Marshall Brickman.
Dizer que Manhattan é uma personagem no filme é uma obviedade, mas precisa ser dito dado o cuidado com que Woody Allen e Gordon Willis fotografam a cidade. Pela primeira vez trabalhando com fotografia preto e branco, Allen captura Nova York de forma romântica, não sem mostrar o lado sujo e decadente da cidade. É uma carta de amor e, ao mesmo tempo, um registro da situação de sua adorada big apple. Nas ruas de Manhattan seus personagens riem, sofrem, choram, se apaixonam – vivem, basicamente.
Woody Allen, que sempre interpretou uma versão de si mesmo na telona, tem sua melhor performance em Manhattan. Pode parecer paradoxal, mas nunca Woody Allen esteve tão bem como ele mesmo quanto nesta produção. Fiel ao seu amigo, apaixonado por Mary e consciente de que seu caso de amor com Tracy não tem futuro algum, Isaac é um dos personagens mais responsáveis da carreira do cineasta. Nem por isso, ele é o João do passo certo. Ele erra, se engana, dá maus conselhos. Ou melhor, dá ótimos conselhos, mas os inverte tempos depois ao notar seu engano. É uma figura incrivelmente humana, que passeia pela vida em busca do amor e percebe que nem sempre a escolha mais óbvia é a mais acertada. Diferente de personagens anteriores, que sempre tinham na morte e no sexo seus principais interesses, Isaac parece ter outras coisas em mente – mesmo que, claro, o sexo ainda seja um assunto importante.
Novamente contracenando com Diane Keaton, Woody Allen constrói mais uma ótima personagem para a atriz. Vejam que ele se repete muitas vezes com seus papeis, mas sempre consegue escrever novidades para Keaton. A atriz nunca fez um personagem igual nos filmes do cineasta. E a jornalista Mary Wilkies é mais uma figura diferenciada nesta gama de papéis. Inteligentíssima – a ponto de ser arrogante – Mary está infeliz com o seu caso com Yale e vê em Isaac uma companhia perfeita. Mas como o cérebro nem sempre manda no coração – principalmente em comédias românticas – o relacionamento entre Isaac e Mary pode não ter o final que todos esperam.
Por incrível que pareça, uma das personagens mais maduras de Manhattan é a jovem Tracy, vivida com doçura por Mariel Hemingway. Apaixonada por um homem mais velho que seu pai, a garota faz de tudo para conquistar o coração de Isaac, mas percebe que seu namorado nunca a leva a sério por conta da idade. Em atuação indicada ao Oscar, Hemingway emociona na cena em que é dispensada por Isaac, em uma performance de cortar o coração de qualquer pessoa com algum sentimento. Certamente, sua indicação ao prêmio da Academia se explica, principalmente, por causa daquela cena. Michael Murphy também tem uma atuação destacada, vivendo o confuso Yale, homem que está claramente vivendo uma crise de meia idade e não consegue esquecer a amante, mesmo amando a esposa. Fechando o elenco principal, Meryl Streep ganha pouco o que fazer – mesmo convencendo como a fechada ex-mulher de Isaac.
Com tantas qualidades, fica difícil entender o que Woody Allen viu de tão ruim em Manhattan para querer deixá-lo enterrado. Felizmente, o estúdio não aceitou a proposta do cineasta e mostrou ao mundo um dos trabalhos mais interessantes da carreira do diretor. Quer ele queira ou não.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 10 |
Robledo Milani | 8 |
Chico Fireman | 10 |
Wallace Andrioli | 10 |
Francisco Carbone | 9 |
Lucas Salgado | 10 |
Sarah Lyra | 9 |
Marcelo Müller | 10 |
Ailton Monteiro | 10 |
Maria Caú | 10 |
MÉDIA | 9.6 |
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