Crítica
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Sinopse
Gabbie se muda com seu filho pequeno para uma nova residência. No entanto, eles logo percebem que não estão sozinhos na mansão comprada por um preço incrivelmente baixo. Como lidar com vários fantasmas e aberrações?
Crítica
Embora renove a possibilidade de contar histórias a partir de um famoso brinquedo dos parques Disney, a versão 2023 de Mansão Mal-Assombrada é uma iniciativa desperdiçadora de talentos, sobretudo os dos atores e atrizes escalados para essa empreitada malsucedida. Remake do filme homônimo estrelado por Eddie Murphy – cá entre nós, uma produção que não deixou tanta saudade –, ele começa sugerindo que a ambientação em Nova Orleans será muito importante. Infelizmente não é. O cineasta Justin Simien celebra nas cenas iniciais a localidade marcada culturalmente pela vida noturna feita de música e boa gastronomia, mas não vai além disso no que diz respeito ao cenário, logo o descartando. Até porque grande parte da trama acontece na tal mansão do título, o novo lar de Gabbie (Rosario Dawson) e seu filho Travis (Chase Dillon). Eles compram a propriedade remota (e enorme) por um valor irrisório, mas na primeira noite se deparam com inúmeros fantasmas assombrando o local e, o pior, impedindo-os de ir embora. Por uma conjunção de fatores, logo o casarão está repleto de personagens excêntricos que precisam encontrar um modo de apaziguar os desencarnados para se libertar da maldição. Entre eles o antissocial Ben (LaKeith Stanfield), cientista cético quanto à existência de fantasmas, mas que criou a lente fotográfica capaz de registrar assombrações. O tom é o de uma aventura leve.
A sabotagem de um elenco tão talentoso, que conta ainda com Danny DeVito, Owen Wilson, Tiffany Haddish, Jamie Lee Curtis, além das participações de Jared Leto, Winona Ryder e Dan Levy, começa na concepção dos seus respectivos papeis. Tentando equilibrar aventura, horror e comédia, o roteiro assinado por Katie Dippold transforma os personagens em meras desculpas para diversificar os perfis, embora não sublinhe e nem valorize as características de cada um deles. Por exemplo, Ben é encarado como alguém em meio a um processo doloroso, adiante percebido como o sujeito enlutado cuja dor servirá de ponto fraco à ação do principal vilão. Ele terá de aprender para vencer. No entanto, isso não é fundamental ao seu comportamento e tampouco às suas tomadas de decisão, quando muito servindo convenientemente para conectá-lo emocionalmente ao menino também triste por conta da perda de alguém. O padre de Owen Wilson é apenas uma rubrica, coadjuvante que aparece de vez em quando para falar meia dúzia de gracinhas e afastar a ideia de um sacerdócio ortodoxo/comum – a revelação sobre ele é tão desimportante que não faz a mínima diferença. Enquanto colocam em prática os planos para compreender, primeiro, contra o quê estão lutando e, segundo, como vencer inimigos vindos do além, as pessoas se tornam simples peças no tabuleiro previsível e sem um pingo de emoção.
É uma pena que um ator como LaKeith Stanfield receba um papel tão ingrato em sua primeira grande produção como protagonista. Um dos astros da série Atlanta (2016-2022) e indicado ao Oscar de Melhor Ato Coadjuvante por Judas e o Messias Negro (2021), ele poderia deitar e rolar por conta do potencial de Ben, esse aprendiz de bom coração com vocação ao heroísmo. Porém, o realizador o sabota ao fracionar a ação genérica entre tanta gente. Ben nunca engrena como líder das vítimas dos fantasmas, nem convence como homem torturado disposto a tudo para contatar uma falecida. No fim das contas, ele é motivado pelo tropo da “mulher na geladeira”, ou seja, é a morte da amada que o mobiliza. Rosario Dawson é outra prejudicada pela fragilidade do roteiro, reduzida quase completamente ao modelo da mãe zelosa sem o que fazer para além de cuidar do menino e se colocar à disposição do herói enlutado que pode se beneficiar do novo amor. Justin Simien aponta à formação de uma nova família como produto dessa batalha contra criaturas obsessoras, mas faz disso outro protocolo “sem alma” (com o perdão do trocadilho infame). A vidente extravagante de Tiffany Haddish, o pesquisador Danny DeVito e o menino vivido por Chase Dillon são igualmente desgastados pela elaboração de uma aventura fraca, desprovida de intensidade. Trata-se de um filme perdido, sem uma âncora que possa o segurar.
Portanto, um dos principais problemas de Mansão Mal-Assombrada é tratar as naturezas dos personagens como meros utensílios sem relevância narrativa. Desse modo, luto, solidão, medo, valentia, arrependimento, amizade e outros estados de espírito são minimizados em meio a perseguições sem graça, progressões carentes de espessura emocional, além de uma ideia de aventura pobre e xoxa. Um exemplo da displicência na condução do filme está na explicação DO NADA surgindo para esclarecer a situação até então truncada. Assim como essa, há várias conveniências, “jeitinhos” para o enredo seguir avançando até os pingos serem colocados nos is de modo burocrático. A sincronicidade entre Ben e Travis não é algo gradual, mas lançada como se fosse tão óbvia que nem merecesse uma preparação. Aliás, cada integrante da turma especial tem de atingir um objetivo pessoal em prol do sucesso dessa demanda coletiva. Uns descobrem força própria; outros entendem que é preciso deixar os entes queridos irem; há também aqueles que fortalecem suas convicções acerca de talentos adormecidos. E nada disso importa tanto. O resultado dessa empreitada não é uma aventura divertida, tampouco um terror congelante e sequer um drama convincente. Sendo assim, se assemelha ao filme anterior. Se era para retomar essa ideia que já não tinha vingado nas telonas, que ao menos ousassem, né?
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 3 |
Francisco Carbone | 5 |
MÉDIA | 4 |
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