
Mãos Talentosas: A História de Ben Carson
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Thomas Carter
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Gifted Hands: The Ben Carson Story
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2009
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Em Mãos Talentosas: A História de Ben Carson, desde menino Ben sempre foi muito aplicado e estudioso. Egresso de uma família negra e pobre, lutou contra tudo e todos, venceu preconceitos e outros obstáculos, para ser um dos maiores médicos dos Estados Unidos. Estrelado por Cuba Gooding Jr.
Crítica
Há cineastas que abordam as emoções como fenômenos complexos e aqueles que as tratam como munição para chantagem. Estes estão em busca do choro fácil, da catarse imediatista sem qualquer compromisso com a profundidade humana. Mãos Talentosas: A História de Ben Carson é um desses filmes que extorquem constantemente a sua plateia em busca de uma comoção simplória. Nem que para isso seja preciso reafirmar chavões inspiracionais de autoajuda e passar por cima de elementos importantes obscurecidos por uma visão artificial. Seu protagonista é Ben Carson (Cuba Gooding Jr.), um dos principais cirurgiões neurológicos do mundo. Chamado às pressas para avaliar o caso de gêmeos xipófagos unidos dramaticamente pela cabeça, ele sabe que está diante do maior desafio de sua carreira. Afinal de contas, o procedimento para a separação dos alemães recém-nascidos tem probabilidade mínima de sucesso – sendo um dos agravantes a séria tendência de os dois terem uma hemorragia fatal durante a cirurgia. Poderia se imaginar que a partir disso veríamos a história de um homem da ciência ultrapassando os limites para fazer algo impossível. Porém, o roteiro assinado por John Pielmeier resolve voltar à infância do protagonista e mostrar sua trajetória de superação, assim transformando a inédita separação dos pequenos alemães numa espécie de troféu que coroa toda uma história de vida.
Mãos Talentosas: A História de Ben Carson é um filme apelativo de discurso problemático que condiciona os sucessos do protagonista estritamente à sua força de vontade. Na infância, Ben tinha sérias dificuldades de aprendizado. Acompanhado de perto pela mãe, Candy (Aunjanue Ellis-Taylor), o garoto coleciona dissabores na escola por conta das notas baixas e da incapacidade de assimilar as matérias. Descoberta a sua insuficiência visual, ele passa a crescer em termos intelectuais com o auxílio dos óculos que o permitem enxergar a matéria. Mas, a trama se concentra na relação de Ben com a mãe solo que cria dois filhos de maneira valente. O irmão de Ben é praticamente um figurante no longa. Embora esteja ao lado do protagonista em quase todas as cenas mais emocionalmente importantes desse longuíssimo flashback da infância, o primogênito não é mais do que um enfeite que será praticamente esquecido quando o enredo mostrar novamente a vida adulta do Dr. Ben. Sabemos que o menino que apresenta notas baixas vencerá na vida, se tornando um renomado profissional numa área do conhecimento que demanda talento e esforço contínuos. Mas o roteiro continua tratando a ascensão do garoto como algo improvável, sublinhando de maneira maniqueísta cada pequena vitória escolar como se confirmasse que basta muito trabalho duro para tudo dar certo na vida.
“Tudo pode ser, basta acreditar” é o trecho de uma das mais famosas canções de Xuxa Meneghel, mas também poderia ser o subtítulo de Mãos Talentosas: A História de Ben Carson. O cineasta Thomas Carter cria uma fantasia desconjuntada que parece resultado da sessão de mentoria com um coach picareta, um desses capazes de arrastar multidões com meia dúzia de sensos comuns e negação da história, da psicologia e dos contextos econômicos de seus interlocutores. Ben é um menino negro crescendo nos Estados Unidos dos anos 1960, uma das décadas mais conturbadas, justamente, porque grupos de defesa dos direitos civis exigiam o fim da segregação no país. Mesmo assim, não há qualquer resquício dessa tensão racial no entorno do garoto, o que permite a existência de um conto de fadas somente questionado pela manifestação preconceituosa da professora quando Ben sobressai diante dos demais colegas que tiravam sarro das dificuldades de aprendizado. Candy também é somente a mãe-coragem disposta a tudo para garantir um futuro melhor aos filhos, nem que para isso fosse vista como uma megera insensível obrigando os meninos a trocarem as horas diante da TV pelo costume da leitura. Os personagens do filme são rasos e existem somente para confirmar o ideal bastante norte-americano de que basta esforço para alguém vencer obstáculos que não dizem respeito apenas ao âmbito pessoal.
Mãos Talentosas: A História de Ben Carson vai deixando toneladas de coisas importantes pelo caminho e/ou as tornando banais. Candy é internada numa instituição psiquiátrica para tratar o que parece ser uma depressão, mas o filme não está interessado realmente nos efeitos disso. Thomas Carter utiliza a condição mental da mãe unicamente como agravante pontual na situação que deve ser contornada para o menino ser um cidadão respeitável. Mais à frente, as dificuldades na universidade, os desafios numa das residências hospitalares mais exigentes dos Estados Unidos, a dor resultante da perda de filhos em gestação, nada disso importa. O roteiro toma todos os atalhos possíveis para fazer do filme uma ode quase fanática ao esforço pessoal. E para isso se nega a enxergar todos os obstáculos que independem da força de vontade de Ben (pobreza, contexto racial, doença da mãe, desejos da esposa, barreiras profissionais, etc.). O que vemos na tela não é uma pessoa de carne e osso, uma vez que até os seus instantes de vulnerabilidade são utilizados para reafirmar o discurso ideológico que orienta o enredo. Por fim, a cirurgia de separação dos gêmeos é tratada como um feito praticamente sobre-humano, uma confirmação de que Ben venceu por méritos próprios. O filme não informa que, na realidade (sim, a trama é baseada em fatos) um dos meninos morreu sem sair do coma e o outro nunca teve sequer autonomia. Como o interesse é celebrar os “vitoriosos”, isso não é nem mencionado.
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