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Crítica


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Sinopse

A poluição sistemática do meio ambiente reflete-se quando a contaminação chega à praia, com uma estranha mancha negra que se aproxima trazendo morte e destruição para uma vila de pescadores. Albino parte para uma desesperada fuga pela sobrevivência, ao mesmo tempo em que luta pelo seu grande amor, arriscando a própria alma.

Crítica

Mar Negro fechou em alto estilo a trilogia de “eco-terror” de Rodrigo Aragão, que teve início com Mangue Negro (2008) e sequência com A Noite do Chupacabras (2011). Com este novo longa, o cineasta capixaba firma-se como principal nome do cinema brasileiro de horror atual. Assim como seus filmes anteriores, Mar Negro também abriu o Fantaspoa, em Porto Alegre. Ao mesmo tempo, o festival realizou sua première mundial, consolidando a parceria entre o evento e o realizador, cada vez mais respeitado no exterior. De início, percebe-se na obra um cuidado especial com maquiagem e efeitos visuais, itens importantíssimos em se tratando de terror na telona. Não há exageros nas soluções gory apresentadas, apesar dos litros de gosma e sangue artificial e nas toneladas de make-up utilizados em cena. A dosagem é ideal para o que se propõe. Se o diretor consegue esse resultado bravamente, filmando sem incentivo fiscal, o que poderia fazer com um orçamento maior?

No entanto, os esforços do diretor não ficam centrados apenas em estética. Há também uma preocupação genuína com elementos indicativos do bom cinema, como a própria direção, a narrativa (apenas comprometida por uma frágil trama paralela à principal) e a fotografia do longa – incluindo aquela límpida, nítida e colorida aplicada aos créditos de abertura, apresentando comicamente (e contemplativamente) um universo tranquilo e convidativo, que em nada se aproxima do teor trash do filme. Sim, Aragão tem a liberdade de utilizar o humor em seu longa sem transformá-lo necessariamente em uma comédia de horror. Por isso, dá início à obra apresentando uma localidade idílica, um verdadeiro paraíso à beira-mar, no qual um barco navega calmamente por águas tranquilas indicando que naquele vilarejo vivem simples famílias de pescadores.

As coisas vão muito bem até que um homem é mordido por um monstro marinho mutante em alto-mar. Sem saber, leva para a vila um agente biológico que o transformará em um zumbi faminto. A praga se espalha rapidamente, colocando em risco a população local. Paralelamente ao enredo principal, desenrola-se uma trama satânica na qual estão inseridos um homem albino, um livro raro e um caçador de relíquias. Apesar do encontro das duas histórias, o encaixe delas poderia ter sido mais trabalhado, deixando essa interseção mais fluida.

Alguns outros escorregões poderiam ter sido evitados, pois se a maior parte da captação de imagens e da montagem está bem alinhada, há momentos cênicos que destoam do todo. Dois exemplos são marcantes, como a importante cena em que uma personagem escorrega em um material viscoso ao sair de um bar. O resultado é realmente tosco, com planos e contraplanos que remetem a um cinema de quatro décadas atrás, distanciando-se muito da qualidade geral do filme. Em outra ocasião, os efeitos visuais propostos para representar um monstro gigante que ataca a praia são muito fracos, o que provavelmente deve-se aos custos de produção – ou, na melhor das hipóteses, serve como uma homenagem aos filmes de monstro das décadas de 1960-1970. Seja como for, a existência desse personagem não faz muito sentido. Ficou deslocado.

Os descompassos, no entanto, não chegam a prejudicar a totalidade do longa que, assim como os dois outros anteriores do diretor, aborda a poluição sistemática do meio ambiente. Acima de tudo, fica explícito o empenho quase artesanal de uma ação coletiva que objetivou a realização de mais um filme do gênero fantástico que, atualmente, conta com pouquíssimo apoio financeiro estatal e privado. Como Aragão afirmou à plateia lotada em Porto Alegre, antes da sessão, a equipe se divertiu fazendo o longa, e ele espera que as pessoas também se divirtam quando o assistirem. A parte deles foi feita. Agora, é preciso que o público tenha a chance de ver Mar Negro. Trabalho difícil, levando-se em conta o sistema de distribuição de filmes nacionais independentes no Brasil.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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