Mar Verde
Crítica
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Sinopse
Após um breve relacionamento, a jovem rica Lutie Cameron (Katharine Hepburn) casa-se com o fazendeiro James Brewton (Spencer Tracy) e o casal vai morar na fronteira dos Estados Unidos. Uma nova realidade se apresenta para o par, e Lutie tem dificuldades para adaptar-se aos hábitos do marido.
Crítica
Quarto dos nove filmes estrelados pelo casal Spencer Tracy e Katharine Hepburn, Mar Verde é também aquele com a pior avaliação tanto no IMDb (oferecida pelos leitores do site, ou seja, público em geral) como no Rotten Tomatoes (concedida por críticos de renome). Aliás, este filme representa o ponto baixo de qualquer um dos envolvidos, tanto dos protagonistas quanto do diretor Elia Kazan – que, em sua biografia, chegou a afirmar que este era o único título de sua vasta filmografia que se arrependia de ter realizado. Porém, para qualquer um que duvide destas avaliações, basta se deparar com os quase 120 minutos de duração desta história para entender o porquê destas conclusões tão negativas. De fato, há muito pouco que se salva na produção.
Assim como muitos outros faroestes da primeira metade do século XX, o centro da história de Mar Verde está na luta entre os pecuaristas – os vilões, que querem uma quantidade infindável de terras (a referência óbvia do título) para a pastagem do gado – e os agricultores – os pobre coitados, que tudo que almejam é viver do cultivo daquilo que conseguirem plantar. Ainda que esta temática tenha sido explorada exaustivamente por outros longas do gênero, o problema desta adaptação do romance de Conrad Richter (que se tornaria popular, nos anos 1960, como roteirista do programa Disneylândia, 1961) é o absurdo maniqueísmo entre estes dois extremos. Todos olham para o Coronel Brewton (Tracy, em interpretação morna e apagada) com desconfiança e temor, como se ele fosse um sanguinário conquistador dotado de ambição cega, ao passo que Chamberlain (Melvyn Douglas) e aqueles que se colocam ao seu lado na defesa da causa agrária são uns infelizes que soam mais como vítimas do destino do que merecedores de uma maior dose de confiança.
A história começa com Katharine Hepburn interpretando aquele papel pelo qual ficou consagrada durante quase toda a sua carreira: da mulher dona do próprio nariz e à frente do seu tempo. Já com 40 anos na época das filmagens, a atriz aparece no começo da trama como uma jovem prometida em casamento ao fazendeiro Brewton, a quem está ansiosa para se reunir. Após uma viagem de trem antecipada, que lhe dá tempo suficiente para ter os primeiros contatos com a fama não muito boa do futuro marido em sua cidade natal – e também lhe oferece a oportunidade de conhecer o galante Brice Chamberlain – ela encontra o homem que será seu companheiro nos próximos anos. O conflito entre os dois não se dá de início: ela está apaixonada, entregue aos braços do noivo que promete fazer de tudo para agradá-la. Será somente com o passar do tempo que as diferenças entre eles começarão a importar.
Elia Kazan, em seu segundo trabalho como realizador, entrega um filme convencional e contraditório, que se propõe como um épico romântico – inevitável a comparação com a grandiosidade e, principalmente, superioridade, de ...E O Vento Levou (1939), lançado menos de uma década antes – ao mesmo tempo em que se contenta a explorar apenas os interiores da casa grande, onde moram os protagonistas, deixando para a imaginação dos espectadores vislumbrarem o tal mar verde que é motivo de tanta discussão. O filme é problemático também em seu registro fotográfico, que ficou sob responsabilidade do premiado Harry Stradling (nada menos do que 14 vezes indicado ao Oscar e premiado por O Retrato de Dorian Gray, 1945, e por Minha Bela Dama, 1964), que sentiu o orçamento reduzido da produção e acabou tendo que se contentar com um registro escuro e limitado.
Se toda a primeira parte de Mar Verde se ocupa em observar os conflitos entre os ocupantes da terra e o desconforto crescente de Hepburn naquele ambiente, logo o triângulo amoroso entre ela, Tracy e Douglas se consolidará, abrindo espaço para uma dinâmica forçada e nada convincente. Sem muita sutileza, os intérpretes principais são jogados para fora da cena, oferecendo um destaque inoportuno aos herdeiros, a cordata e estudiosa Sara Beth (Phyllis Thaxter) e o rebelde Brock (Robert Walker). Mas, nesse ponto, poucos serão os motivos de interesse que o filme ainda reserva. Em resumo, temos uma obra que não soube envelhecer, e que hoje deve ser vista apenas como uma curiosidade de época, exemplo dos erros necessários que qualquer grande artista deve incorrer no seu caminho rumo à consagração.
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