Crítica

A final da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, no recém-construído Maracanã, pode ser considerada um dos eventos esportivos mais traumáticos no país. Com clima de campeão antecipado, o escrete brasileiro enfrentou o Uruguai e precisava apenas de um empate para levantar a taça. Depois de goleadas contra as seleções da Suécia (7x1) e da Espanha (6x1), a tarefa não parecia difícil. Os jornais já davam como certa a vitória. A soberba, no entanto, não fez bem a equipe comandada por Flávio Costa. Um Maracanã abarrotado (200 mil pessoas, alguns dizem) observou atônito o naufrágio do sonho de vencer o mundial em casa. O chute de Ghiggia que invadiu a meta defendida por Barbosa fechou os 2x1 necessários para que o Uruguai conquistasse seu segundo campeonato. Esta história é a temática do documentário Maracanã: O Filme, co-produção entre os dois países rivais naquela final.

Os diretores Sebastián Bednarik e Andrés Varela se debruçam em imagens de arquivo – muitas delas inéditas – e trazem ao espectador uma forma diferente de contar aquela trama. Dizem que a história é contada sempre pelos vencedores. Neste caso, o foco da narração é dividido. Ora sob a ótica dos campeões, ora sob a ótica dos perdedores. Deste modo, temos como ver os dois lados da questão e observar que, por mais que seja traumática a final da Copa de 1950 para os brasileiros, os boleiros do nosso país conseguiram dar a volta por cima, vencendo outros cinco campeonatos. Já do lado do Uruguai, aquela final histórica representou seu último sucesso. Por essas e outras que Andrés Varela, em entrevistas, tem mencionado que o fantasma uruguaio não espanta apenas os brasileiros.

A pesquisa de imagens de época é o ponto alto de Maracanã: O Filme. São 64 anos que nos separam daquele mundial e o documentário propõe este passeio ao passado. Além de cenas históricas dos jogos, os bastidores são mostrados. A concentração das seleções é um toque interessante. O filme mostra a diferença entre a badalação dos brasileiros em relação à tranquilidade dos uruguaios em suas acomodações, afastadas do fervo do mundial.

O arquivo não é apenas de imagens. Entrevistas com os principais nomes daquela partida, com destaque para Barbosa, goleiro do Brasil, e Ghiggia, o ponta-direita uruguaio que fez o gol do título, são importantes complementos para a história sendo contada. No caso do defensor brasileiro, os dois gols tomados naquela partida o assombraram a vida toda. Assim como o resto dos jogadores, nunca mais foi escalado para representar o Brasil. Do lado uruguaio, descobrimos que o país saia de uma época dura, com greves que paralizaram o futebol no país. O retorno da seleção do Uruguai foi difícil e o torneio se transformaria em um triunfo sem igual.

Ainda que impressione pelas imagens, o documentário acaba caindo no lugar comum em diversos momentos. A generalização de afirmações (“O Brasil inteiro estava identificado com a seleção”) joga contra o filme. Como saber isso? Quem disse? O clima de “já ganhou” pode ser um parâmetro, mas não é o único para entender aquele momento.

Maracanã – O Filme foi exibido no Brasil em festivais e até na tevê fechada, no canal ESPN. Deve ganhar a chance de chegar aos cinemas, mas só depois do mundial. Em tempos de Copa do Mundo novamente no Brasil, com o Uruguai chegando como uma das principais seleções a disputar o torneio, existe aquela possibilidade de a história se repetir. Uma nova decisão entre as duas seleções que disputaram o Maracanaço (como ficou conhecida a partida final do campeonato de 1950) é pouco provável, mas teria seu charme poético. Qual seria o resultado?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *