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Sinopse

Inserida no universo da dança desde os três anos, Márcia Haydée usou de seu talento para sair da realidade suburbana e migrar para a Europa, na intenção de perseguir o seu sonho. Após arriscar uma carreira internacional sem ter certeza do que estaria por vir, foi descoberta por um importante coreógrafo e passou a ser uma das bailarinas mais disputadas do mundo. Depois de sua aposentadoria, decidiu que não conseguiria viver sem se apresentar, e voltou para os palcos aos 62 anos.

Crítica

A senhora que surge contemplando o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e depois o adentrando, no início de Márcia Haydée: Uma Vida Pela Dança é uma das personalidades brasileiras de maior prestígio internacional. Seu encontro armado pelo longa-metragem com a edificação, portanto, é a comunhão entre dois símbolos da arte. Márcia Haydée, nascida em Niterói, começou a ter aulas de balé clássico aos três anos de idade, então traçando desde bem cedo o seu caminho à futura glorificação mundial. É o depoimento de Bibi Ferreira que aponta ao evento definidor à saída da adolescente protagonista a Londres a fim de aprimorar-se tecnicamente. Num jantar improvisado, oferecido aos cineastas Michael Powell e Emeric Pressburger, responsáveis, entre demais clássicos, por Os Sapatinhos Vermelhos (1948), as portas de abriram a ela de modo insuspeito. A diretora Daniela Kallmann começa, nesse momento, a correlacionar a carreira centralizada e a força criativa de outros artistas maiúsculos. Ao longo do documentário, vários nomes de muito peso são mencionados.

O grande trunfo de Márcia Haydée: Uma Vida Pela Dança, elemento vital a sua relevância e efetividade, é a vastidão do material e arquivo à disposição. De maneira privilegiada, testemunhamos ensaios da famosa companhia de Stuttgart, na qual Márcia conheceu colaboradores de valor inestimável à sua trajetória. Um deles, o coreógrafo sul-africano John Cranko, que teve na brasileira o corpo e a graciosidade necessários para colocar em prática as inovações pretendidas. Os diversos depoentes, entre eles as referências Ana Botafogo e Deborah Colker, citam a imprescindibilidade da mescla desses talentos para que a instituição alcançasse respeito sem igual na Alemanha. Outro dos parceiros determinantes foi Richard Cragun, seu mais afinado colega de palco. A realizadora posterga a informação de que eles foram casados e os motivos da separação. Depois, demonstra pouco interesse pelos pormenores conjugais, focando-se na colaboração da dança.

Márcia Haydée: Uma Vida Pela Dança entrecruza depoimentos laudatórios e imagens resgatadas de um legado de notoriedade nos teatros. Dessa forma, Daniela Kallmann ilustra os elogios com indícios de sua autenticidade. Cobrindo um espaço relativamente longo de tempo, o documentário permite que tenhamos boa noção da envergadura de Márcia Haydée, a posição merecida que alcançou no cenário da dança. Ela permitiu, além de outras coisas, que ao repertório clássico de certas companhias fosse agregado o viés contemporâneo e a encenação. Evitando render-se à dinâmica famigerada das “cabeças falantes”, a produção trafega formalmente entre passado e presente, atrelando-os na essência, com o intuito bastante evidente de desenhar um painel de celebração. Não há espaços para arestas ou objeções quanto à retratada. É, portanto, conferido terreno somente àqueles que se propõe a exaltar o imenso talento de Márcia Haydée, bem como a sua herança.

Embora deixe a desejar em alguns vieses, especialmente no que tange à atividade de Márcia como diretora da companhia de Stuttgart após a morte de John Cranko e às parcerias com nomes incontornáveis, como Mikhail Baryshnikov e Maurice Béjart – ambos citados e devidamente contemplados de passagem –, Márcia Haydée: Uma Vida Pela Dança equilibra satisfatoriamente as diversas etapas de uma carreira que ficou marcada entre as mais influentes da dança. Apropriando-se bem dos registros de outrora, criando uma narrativa nutrida de intimidade, principalmente por conta dos vislumbres dos ensaios e alguns instantes de descontração, Daniela Kallmann faz uma verdadeira homenagem a uma artista que, felizmente em vida, colhe os louros de seu esforço e capacidade. A leitura das cartas enviadas à mãe dá uma boa ideia de como, enquanto menina, já era excepcional, tendo consciência de sua competência, chamando para si a responsabilidade que poderia atender.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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