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Crítica
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Sinopse
Ilustradora botânica reconhecida mundialmente, Margaret Mee viveu 36 anos no Brasil. Ela realizou 15 expedições à floresta amazônica e deixou um legado iconográfico e artístico incomensurável.
Crítica
Muito antes do ambientalismo ser uma bandeira a ser levantada e os problemas do desmatamento da Amazônia estarem em todos os jornais e de conhecimento público, uma mulher talentosa e extremamente engajada colocou o holofote sobre a questão. Curiosamente, esta pessoa não tinha qualquer raiz verde amarela, muito menos falava nosso português. Britânica, nascida em 1909, Margaret Mee conheceu o Brasil em 1952 e acabou apaixonada pela flora de nossa “rain forest”, como os estrangeiros conhecem e chamam nossa grande floresta. Artista botânica, Mee não só deu às exóticas plantas lá encontradas uma bela representação pictórica, mas também começou a chamar a atenção para os maus tratos que a Amazônia vinha sofrendo com o passar dos anos. É isso que mostra o documentário Margaret Mee e a Flor da Lua, dirigido e roteirizado por Malu de Martino.
Com narração de Patrícia Pillar, que dá voz aos diários de viagem de Miss Margaret (como era chamada pelos amigos brasileiros), o longa-metragem faz um grande apanhado das 15 expedições realizadas pela artista. Apaixonada pela variedade e pelas cores das flores e plantas encontradas na Amazônia, Margaret fez um trabalho ímpar ao desenhá-las e lançá-las em livro – sua mais respeitada obra Flowers of the Brazilian Forests lhe deu dinheiro o suficiente para comprar uma casa em São Paulo, uma vontade de longos anos. Mas dentre seus principais objetivos como artista, conseguir captar um momento de beleza incomparável era algo crucial: o desabrochar da Flor da Lua, vista apenas durante a noite e sem qualquer aviso, em um raro cacto. Diante das anotações de Margaret e de entrevistas realizadas com diversos amigos da artista, Malu de Martino pinta um mosaico interessante da retratada, mostrando a intensa vida de Mee.
Imagens da época, realizadas para capturar a 15ª expedição da ilustradora, abrem o filme e mostram o carinho dos amigos pela intrépida exploradora. Pois, como um de seus amigos brasileiros mais chegados aponta, era exatamente isso que Margaret era: uma explorada de alma bravia. Pessoa que tinha desejo em conhecer o – para muitos – inalcançável, pisando em locais onde poucos já estiveram. Por isso, seus trabalhos pictóricos são tão interessantes e referência até hoje para botânicos de todo o mundo. O que chama a atenção nesta história é que Margaret não tinha formação em Biologia – informação, aliás, que é revelada tardiamente pelo documentário. Sua sede por conhecimento, sua paixão pela natureza e seu talento nato para o desenho são as ferramentas usadas por Mee para expressar sua arte.
Com idade avançada em suas últimas expedições, Margaret teve de lutar para conseguir chegar ao seu objetivo – e capturá-lo em vídeo, visto que BBC e National Geographic negaram-se a fazer um documentário sobre sua busca, temendo que a retratada morresse durante sua aventura. Mal eles sabiam que a artista não sucumbiria aos “perigos da floresta”, mas sim à selva de pedra londrina, vítima de um acidente de carro meses depois de sua última viagem ao Brasil. Felizmente, seu amigo de longa data, o escritor Toni Morrison, conseguiu fazer com que o registro da viagem virasse realidade. Ele é um dos depoentes deste rico documentário, que ainda traz as palavras de especialistas na obra de Margaret, bem como amigos que conviveram de forma bastante próxima com a britânica.
Malu de Martino é inteligente em costurar o documentário com esta busca de Miss Margaret pela flor do título. Todo bom personagem tem objetivos claros e, em documentários, é mais difícil fazer uma narrativa voltada a uma busca. Ainda que a história, por vezes, pareça estar fora do lugar, com algumas informações aparecendo antes de outras mais importantes, a curiosidade que surge no espectador ao tomar contato com Margaret Mee perdoa qualquer pequeno deslize de Martino, uma ótima cineasta, mas documentarista de primeira viagem.
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