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Sinopse

Laila é uma adolescente com paralisia cerebral que usa cadeira de rodas. Ela estuda na Universidade de Delhi, escreve poesias e cria sons eletrônicos para uma banda indie da universidade. Laila se apaixona pelo vocalista e fica de coração partido quando é rejeitada.

Crítica

Encontrar um lugar no mundo é o desejo de todos. Se para quem a vida abriu portas, mais que colocou pedras no caminho, muitas vezes não é fácil se aceitar, imagine aos que cresceram protegidos de tudo, inclusive do direito de errar. Margarita com Canudinho, filme dirigido pela indiana Shonali Bose, é mais que uma homenagem da cineasta à sua prima, uma importante ativista dos direitos dos portadores de deficiência, pois não se reduz a um retrato das agruras e da alegria da vida de alguém com necessidades especiais.

A protagonista, Laila (Kalki Koechlin), é uma jovem com paralisia cerebral que estuda música na Universidade de Deli. Apesar da dependência da mãe para questões básicas do cotidiano, como tomar banho e ir para a aula, parece lidar bem com tal condição. As primeiras cenas do longa-metragem apresentam a rotina de universitária, inclusive as piadas com um amigo cadeirante. Shonali Bose segue a linha de outras mulheres que assumem a direção no machista mercado de cinema indiano e deixa clara a sua assinatura. Laila, antes de ser “deficiente”, é uma mulher como outra qualquer. Isso inclui ter desejos. A cena dela se masturbando após conversar com um colega de faculdade é dotada de um erotismo sutil, quase romântico. Vemos gestos e ouvimos gemidos. Todavia, a câmera respeita a privacidade. Esse olhar delicado sobre as questões sexuais da personagem é uma constante no filme. Motivada por uma decepção amorosa, Laila vai estudar em Nova York. Novos ares, novo clima, novas pessoas. E novas experiências. As mais intensas que ela vive, na verdade.

A paixonite por um colega de classe norte-americano é deixada de lado após o encontro com Khanum (Sayani Gupta), ativista de origem paquistanesa. Além de estrangeiras na América, há mais semelhanças entre elas. Khanum é cega, mas responsável por Laila enxergar novas possibilidades, atiçar outros sentidos. O envolvimento entre as duas garante as melhores cenas de Margarita com Canudinho, tendo como base demais romances: o passeio de barco, a correria banhada em risadas num dia de chuva e o carinho no sofá. Porém, não basta se descobrir, é preciso se revelar. Contar à família sobre a sua orientação sexual é um desafio tornado ainda mais pesado após o anúncio do câncer da mãe. Mesmo sem descambar para o choro a qualquer custo, o filme acumula dramas e acaba não dando atenção necessária para cada um deles. A parte final é bastante cansativa.

Algumas cenas, em especial as ambientadas antes da mudança de Laila para Nova York, poderiam ser resolvidas de forma mais rápida. Há um excesso de códigos para demonstrar o interesse dela no colega de faculdade. Desde princípio, percebe-se que não é um sentimento mútuo. Só que a diretora apresenta isso como uma novidade, deixando a desejar quem gostaria de ver a história andar com mais conteúdo. Defeitos compensados pela atuação tocante de Kalki Koechlin, jovem atriz que já mostra ser um dos nomes notáveis do cinema indiano, em especial, do voltado às temáticas femininas. Seu sorriso, grande e expressivo, ganha a tela e o público até quando a tristeza e a solidão rondam. É o símbolo da esperança que a cineasta não esconde no quadro, pelo contrário, pois almeja que ninguém a esqueça, um segundo sequer.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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