Crítica
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Sinopse
Crítica
A primeira cena de Maria Luiza, posteriormente ressignificada pelo relato da protagonista quanto aos subterfúgios utilizados para brincar às escondidas dos pais conservadores, assinala o principal tom do documentário, a sobriedade nele prevalente. Um plano detalhe mostra mãos marcadas pelo tempo fazendo uma trança nos cabelos de uma espiga de milho. Maria Luiza da Silva é a primeira transexual das Forças Armadas brasileiras. Militar de carreira, com mais de 20 anos de serviços prestados à aeronáutica, ela sofreu o pão que o diabo amassou ao decidir, contra tudo e todos, inclusive de encontro ao regimento interno alimentado por preconceitos enraizados, buscar reconhecimento como mulher e, quem sabe, poder vestir a farda feminina. O cineasta Marcelo Díaz preserva a intimidade da personagem, se colocando, até como interlocutor, no lugar de ouvinte. Isso fica mais evidente no cuidado ao delinear situações delicadas.
As explanações são articuladas em ordem cronológica, começando com histórias de infância, dificuldades para compreender a identificação com um gênero que não o biológico e um panorama relativamente consistente da juventude. A menção à paternidade, ao casamento enquanto Maria Luiza ainda se chamava José e acreditava ser possível reprimir seu âmago, cria um espaço de curiosidade que não é propriamente alimentado pelo documentário. Talvez por falta de oportunidade, ou em virtude de restrições da retratada, o realizador não se detém nesse dado íntimo, passando muito longe de trazer minúcias de tal aspecto. No mais das vezes, a câmera captura a aflição da militar, estado que sobrevém às rememorações de instantes de dor, como as ameaças de colegas e superiores tão logo se prontificou a externar sua essência e a brigar para ser reconhecida como mulher. Não há inclinação a sensacionalismos ou a algo que o valha. O comedimento perpassa a narrativa.
Os depoimentos de ex-colegas são basicamente burocráticos, mas funcionais. Porém, entremeando-os com o desvelamento do processo enfrentado pela protagonista no início da transição de gênero, quando ela ainda não havia sido reformada, Maria Luiza estabelece um panorama crítico da instituição que deveria prover segurança aos cidadãos, não se interpor entre eles e as suas devidas felicidades. Como qualquer vanguardista, a transexual sofreu psicologicamente os danos da discriminação, da tacanhice alheia. Ela demonstra as chagas permanentes desse período, de luta praticamente solitária, nos diversos instantes em que, ao falar, tem a voz embargada pela emoção. Um componente que reforça a candura da condução do conjunto é o congelamento de imagens, como instantâneos flagrantes de alegria ou, ao menos, de distanciamento da angústia de outrora. Isso é somado com o vislumbre dos desenhos da militar, expressões artísticas que fornecem certas pistas.
A beleza de Maria Luiza está na maneira respeitosa com a qual aborda a protagonista, evitando ultrapassar barreiras de intimidade. O caráter lacunar gera pontas demasiadamente soltas, como as ligações familiares – aqui apenas bem exploradas no testemunho da irmã que menciona a demora para aceitar Maria Luiza. O longa-metragem traça uma linha reta entre o calvário da transexual e os excludentes valores tradicionais que regem uma instituição como as Forças Armadas, cujos regimentos confundem legado e reacionarismo. Marcelo Díaz cria, concomitantemente, uma camada lírica, mas ela tem impacto circunstancial, nem sempre logrando êxito no sentido de sublinhar ainda mais um exemplo de persistência como o centralizado, mas se encarregando de momentos bonitos visualmente, como o supracitado pentear do “brinquedo” da infância asfixiada pelas convenções sociais. Ocasionalmente vago, o filme, porém, fomenta a empatia e gera comoção.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Lorenna Montenegro | 7 |
Francisco Carbone | 7 |
Bianca Zasso | 7 |
Alysson Oliveira | 7 |
Diego Benevides | 7 |
MÉDIA | 6.8 |
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