Crítica
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Sinopse
Maria Madalena é uma jovem que busca uma nova maneira de viver. Contrariada pelas hierarquias, ela desafia sua família tradicional para se juntar ao profeta Jesus de Nazaré. Logo, Madalena encontra um lugar para si mesma dentro de um movimento que a levará para Jerusalém.
Crítica
Numa das primeiras cenas de Maria Madalena, primeiro longa do cineasta australiano Garth Davis após o maior sucesso de sua carreira até então – Lion: Uma Jornada para Casa (2016), que recebeu seis indicações ao Oscar, inclusive a Melhor Filme – a personagem-título está no campo ao lado de uma amiga, ocupada em suas tarefas diárias quando, ao longe, um rapaz surge gritando pelo seu nome. A reação dela é imediata e natural: olha para o horizonte, tentando distinguir quem a chama e qual o motivo do alvoroço. Já a colega, ao invés de fazer o mesmo – o que seria de se esperar – prefere fazer uma cara de espanto e fixar seu olhar na companheira à sua frente. Esse pequeno detalhe deixa claro o tom do filme que veremos a seguir: a Maria Madalena que aqui encontramos é tão importante e revestida de uma aura especial que todos os olhos estão voltados a ela, mesmo que suas ações não justifiquem tamanho interesse. Será, portanto, através desse viés artificial e por vezes forçado que o cineasta se propõe a contar a história de uma das figuras mais polêmicas da Bíblia.
E se esses passos iniciais já podem gerar preocupação aos mais atentos, tudo irá piorar assim que o verdadeiro protagonista entrar em cena: Jesus Cristo. Maria Madalena, que durante uns 15 ou 20 minutos até havia conseguido centrar a trama ao seu redor, logo é rebaixada à condição de acompanhante de luxo. É mais ou menos como se fosse uma releitura desprovida de bom humor e/ou criatividade do clássico A Vida de Brian (1979), do Monty Python. Nesta comédia anárquica, Brian é um infeliz que nasceu na manjedoura ao lado da de Jesus e passa o resto da vida sendo confundido com o filho de Deus e pagando o preço pelas pregações do Messias. Aqui, no entanto, também se segue pelas mesmas passagens bíblicas velhas conhecidas de todos. A única diferença, na maior parte do tempo, é perceber uma figura além daquelas que habituamos a nos deparar nestes relatos. E uma presença feminina, diga-se de passagem.
Pois é justamente isso que as roteiristas Helen Edmundson (An Inspector Calls, 2015) e Philippa Goslett (How to Talk to Girls at Parties, 2017) pretendem: inserir Maria Madalena em todos os principais momentos da jornada de Jesus, como se ela tivesse ali estado e, portanto, desempenhado papel fundamental nestes acontecimentos. Jesus invade os templos para afugentar os vendilhões? Maria Madalena está com ele nesta empreitada. Jesus faz o Sermão da Montanha? Maria Madalena está ao seu pé de ouvidos atentos. Jesus organiza a Última Ceia? Maria Madalena está sentada à sua direita. Jesus beija Judas? Maria Madalena está entre os dois, observando tudo com cuidado. E se causa surpresa essa constância, assim que o filme termina várias páginas de texto se encarregam de explicar mudanças propostas pelo Vaticano nos últimos anos, dando conta de que é possível que Madalena tenha sido, de fato, uma das apóstalas.
Bom, é possível. Afinal, a Bíblia nada mais é do que um livro de contos, e acredita quem quer, por sua livre e espontânea vontade. Agora, se por dois mil anos você foi levado a crer em uma ordem dos fatos, não será um filme qualquer, por mais bem intencionado que seja – e, como diz o ditado, de boas intenções o inferno está cheio – que de uma hora para outra irá mudar tudo. Por isso que apenas essas explicações finais não são suficientes. E nem Davis, muito menos suas roteiristas, parecem perceber isso, da importância de se construir uma narrativa em torno dessa nova visão desde o começo, sem impor como algo já de domínio público. É uma postura radical, que termina mais por afastar do que por agregar os afeitos a estas histórias. Aos demais, desconfiados ou céticos, tudo irá soar por demais rocambolesco, sem fundamento crível nem mesmo lógico.
Mas nada disso importaria caso tivéssemos uma Maria Madalena que soubesse se impor em cena. No entanto, o que temos é uma Rooney Mara apagada, de olhar apático e atitudes moderadas. Ao invés de tomar o filme para si, ela prefere se manter em uma postura coadjuvante, mais como observadora do que como norte das ações dispostas em cena. Não encontramos em Maria Madalena um filme sobre ela, sobre sua influência e importância junto à Cristo – que teria se valido melhor de um ator mais jovem e vigoroso, ao invés de um sonolento Joaquin Phoenix, que aos 43 anos não só está velho demais para o papel, como também abatido e desinteressado – mas, sim, o que vemos são as mesmas sequências de sempre, relatadas sem nenhum toque de originalidade ou ousadia. Que saudades de Barbara Hershey e de Martin Scorsese!
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 2 |
Victor Hugo Furtado | 3 |
MÉDIA | 2.5 |
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