Marina
Crítica
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Sinopse
Após o final da Segunda Guerra Mundial, um pai se muda com sua família para trabalhar em uma mina de carvão na Bélgica. Ele deixa de lado sua paixão pela música, que continua presente na família na figura do filho Rocco (Matteo Simoni/Cristiaan Campagna). A nova realidade é um choque para o rapaz e ele encontrará refúgio na música e no amor.
Crítica
Diferente de muitas cinebiografias que trazem um músico como protagonista, as canções ou o processo criativo do italiano Rocco Granata não são o prato principal de Marina – filme que leva o nome do seu hit mais conhecido. Para o diretor Stijn Coninx, muito mais interessante é mostrar o background do protagonista, suas agruras quando criança, as dificuldades na adolescência e as barreiras pelas quais teve que passar na idade adulta. A música, lógico, está ali. Mas sempre em segundo plano. Revela-se mais importante sua relação com o pai, seu amor platônico por uma bela menina belga e os problemas com o preconceito em relação a sua ascendência italiana. Todo esse caldo o transformou no músico responsável pelo sucesso Marina, música lançada em 1959 e regravada inúmeras vezes desde então.
Com roteiro de Rik D’Hiet, o longa-metragem começa no apagar das luzes da década de 1940. Salvatore Granata (Luigi Lo Cascio) se vê obrigado a deixar para trás sua família quando a crise do pós-guerra atinge em cheio a economia da Itália. Como na Bélgica é necessária muita mão de obra para as minas de carvão, Salvatore parte para lá, prometendo voltar em apenas 3 anos. O tempo passa, a promessa não é cumprida. Pelo contrário, Granata chama sua esposa, Ida (Donatella Finocchiaro), e seus dois filhos para viverem com ele. O trio demora a se ambientar ao país estrangeiro, com Rocco se virando como pode para aprender a língua e os costumes do povo belga. Um de seus principais interesses, no entanto, é saber tocar acordeão como seu pai. Mais alguns anos se vão, Rocco (Matteo Simoni) consegue dominar o instrumento, mas não consegue driblar o temperamento forte do pai. Para Salvatore, a música só pode ser um hobby, nunca uma profissão. Ainda que tivesse reservas quanto a seu filho trabalhar nas minas, sua ideia é mudada quando percebe os sonhos do rapaz. Para piorar, Rocco se apaixona por uma garota belga (Evelien Bosmans), de quem ele não sabe o nome, mas que tem um pai severo e desejoso que a filha case com um homem rico. Quando surge um concurso buscando um novo talento musical, Rocco logo se interessa a participar, o que provaria ser o início de sua carreira.
A escolha em colocar o foco na trajetória de Rocco até sua ascensão como músico é acertada. Com uma história interessante e cheia de percalços, Granata tem a legítima “vida que daria um filme”. Como é um músico de basicamente um hit só, todo o caminho para chegar naquela canção é muitíssimo bem construído pelo cineasta Stijn Coninx. Viramos cúmplices do rapaz e torcemos pelo seu sucesso ao observar suas boas intenções. É verdade que falta um pouco de distanciamento em relação ao biografado, pintando o rapaz quase como um santo. Mas suas rusgas com o pai acabam por esconder um pouco este lado chapa branca da cinebiografia, colocando no velho Granata um lado severo que explica as reações do jovem Rocco.
É notável comparar as atitudes de Salvatore e seu filho. Ambos são sonhadores (cada um com seus próprios desejos), os dois sofreram com a mudança de país, tiveram de lidar com o preconceito, mas nem com uma trajetória parecida, conseguem se dar bem. São dois homens pontiagudos, com orgulho e certezas demais. Salvatore pensa que é necessário trabalhar duro para ganhar a vida. Rocco não discorda, mas acredita que seu lado musical tem mais chances de chegar a este objetivo. Enquanto isso, Ida fica em meio a esta guerra, lavando roupas para fora escondido (já que isto seria humilhação demais para o marido) para tentar ajudar nas economias da casa. Retratos de uma vida sofrida, de uma existência voltada apenas ao trabalho – labor este que pode tomar a vida de Salvatore. O personagem é defendido com dureza por Luigi Lo Cascio, destaque do elenco ao lado de sua esposa na tela, Donatella Finocchiaro, mulher que dá um toque harmonioso para a história. Matteo Simoni cativa com sua postura jovial, mas não é páreo para os intérpretes de seus pais no filme. Com Evelien Bosmans, sua parceira de tela, faz uma bela dobradinha.
Quando chega ao seu momento mais musical, Marina parece ter contado toda sua história. O terceiro ato, que teria tudo para ser mais animado dado seu destaque para as músicas de Rocco, acaba se mostrando melodramático demais. Isto e o ritmo lento do primeiro ato tiram muitos pontos do longa-metragem de Stijn Coninx. Chama a atenção também a ausência total da música original de Rocco Granata, que no filme aparece apenas na voz de Matteo. O músico, inclusive, aparece no longa, vendendo a gaita para sua versão cinematográfica. No entanto, nem nos créditos finais ouvimos sua voz cantando o hit Marina.
Por se tratar de um músico não muito conhecido pelas plateias mais novas, o filme se mostra bastante didático e um bom material de entrada para apresentar Rocco Granata. Com uma história de vida interessante, ainda que por vezes transformada em melodramática demais pelo cineasta, Rocco ganha uma merecida homenagem em formato cinematográfico. Poderia ser mais curta. Mas, ao menos, nunca entedia.
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