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Crítica

Mariposa, título que o diretor argentino Marco Berger (Havaí, 2013) pega de empréstimo do conhecido efeito borboleta, tem um início complicado. Somos levados para dentro de um carro atravessando um estrada isolada. Inesperadamente, uma tensão sexual toma conta da tela quando Romina (Ailín Salas) derrama água no colo de Germán (Javier de Pietro) que, irritado, joga a garrafa plástica pela janela do carro. Supomos se tratar de um casal de namorados em um dia ruim ou de amigos íntimos, mas depois descobrimos serem irmãos.

A diferença, perceberemos ao decorrer, não importa. Escrito e dirigido por Berger, o longa dialoga com uma perspectiva centrado na construção de tensões e a suspensão do clímax, como o trabalho de Michael Haneke, o filme brasileiro O Som ao Redor (2012) e boa parte do cinema argentino que tem em Lucrecia Mantel (O Pântano, 2001) o principal expoente.

O enredo traz uma série de jovens da mesma faixa etária e cidade em uma sequência de relações desencontradas, como a atração de Bruno (Julian Infantino) pelo irmão da sua namorada, ou o interesse de Germán por Mariela (Malena Villa). Ela, por sua vez, prefere o amigo gay de Germán, que aceita o envolvimento apesar da sua sexualidade. A situação, que mais se parece com a Quadrilha de Drummond (João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria…) molda um universo peculiar, movido por indecisões e surpresas.

Em um primeiro momento, pode parecer que Berger pretende fazer um panorama moderno dos relacionamentos. Contudo, à medida que a troca de casais e os desencontros se tornam regra, a câmera de Tomas Perez Silva impõe um estética definidora, infinitamente mais interessante do que os casos fortuitos.

O recorte visual de Mariposa é evidentemente sexual. Os corpos e os movimentos, registrados em planos fechados, atuam como personagens silenciosos e intensos. O resultado é a criação de uma atmosfera simbólica e que resulta em inúmeras insinuações. Neste aspecto, é possível afirmar que o corpo não é tão bem transformado em linguagem desde Bernardo Bertolucci e David Cronenberg.

A fragilidade de Berger está quando o diretor decide sair desse núcleo duro dos relações-corpos. Percebemos isso logo no início do longa, com as sequências da introdução, que não encontram lugar claro em nenhum ponto da narrativa. Dificuldade por que o final também passa, ao surgir como um desfecho indigno da tensão desenvolvida até então. Se tivesse conseguido unir à concepção cinematográfica uma trama mais sólida, com personagens e situações melhor amarradas, Mariposa certamente seria um dos grandes destaques do Festival de Berlim.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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