Sinopse
Crítica
Criado em 1954 pelo cartunista Brad Anderson, Marmaduke já foi publicado em mais de 600 jornais de cerca de 20 países. Mesmo assim, apenas em 2010 o personagem ganhou, enfim, um filme para chamar de seu. Marmaduke, no entanto, trata de minimizar a personalidade marcante do gigantesco dogue alemão que faz as vezes de protagonista, equiparando-o a muitos dos seus similares que, desde a virada do século, também passaram a ganhar as telas, como Scooby-Doo (2002) ou Garfield: O Filme (2004), por exemplo. Ou seja, é mais um animal de estimação que se mete em diversas confusões, levando consigo nestes imbróglios os seus donos, até que, mais adiante, duas ou três coisas acabem se ajeitando para tudo terminar da melhor maneira possível. Não sem antes, é claro, que algumas ‘lições de vida’ sejam transmitiras para a plateia incauta. Há um inegável prazer saudosista, principalmente para os fãs dos quadrinhos. Mas, além disso, pouco se salva.
Phil (Lee Pace, confortável ao aparecer com a cara limpa, sem as longas perucas de Thranduil da saga O Hobbit ou toda aquela tinta de Ronan de Guardiões da Galáxia, 2014) é um publicitário que mora em uma pequena cidade do interior com a esposa, Debbie (a geralmente ótima – e subestimada – Judy Greer, novamente sem muito o que fazer), os dois filhos e o enorme Marmaduke, o cão da família. Quando recebe a oportunidade de uma promoção, todos se mudam para Los Angeles, onde não apenas o pai, mas também o bicho, terão que se adaptar à nova realidade que estará os cercando. E se o cachorro é um perigo – não por sua (falta de) ferocidade, mas por não ter a menos noção das suas próprias proporções, que invariavelmente acabam por torná-lo responsável pelas mais diversas trapalhadas – a própria situação do patriarca também estará por um fio, uma vez que se verá muito mais pressionado por resultados neste novo trabalho.
Ao mesmo tempo em que Phil precisa descobrir como lidar com as expectativas e manias do chefe interpretado por William H. Macy (criando um tipo exagerado que cai bem ao tom cartunesco da narrativa), será em Marmaduke que as atenções estarão concentradas. Isso porque o patrão insiste em ter suas reuniões de trabalho no parque da cidade, onde pode, ao mesmo tempo, passear com o seu pet. Instigado a fazer o mesmo, Phil leva consigo Marmaduke. Este, por sua vez, irá se confrontar com uma outra realidade, bem distinta daquele pacato cenário ao qual estava acostumado. O que encontra ao chegar é uma sociedade canina muito bem organizada, com chefões e capangas, uma cadela cobiçada pelo valentão e até mesmo os excluídos, ao qual acaba se encaixando quase que involuntariamente.
Esse é o ponto que distorção que logo desperta estranheza. Tudo bem que Marmaduke seja um recém-chegado, porém ele é muito maior do que qualquer um dos outros cães ao seu redor. Ao menos pela sua estatura, seria de impor, senão medo, ao menos respeito. No entanto, ele se comporta como um tolo ingênuo, mais assustado do que um chihuahua. Já as características marcantes do personagem, como o caráter amoroso e a facilidade em se meter – e escapar – de bagunças terminam por ser diminuídas diante de uma imposição narrativa, em que uma série quase que desordenada de acontecimentos – luau noturno para cachorros na beira da praia? – serve para marcar o avanço da trama, mas não para diferenciar um tipo do outro. E assim, acabam todos muito similares, resguardando-se em suas características básicas – o que rosna, o que geme, a que tem fricotes, o preguiçoso – e menos no que poderiam de fato oferecer para tornar a história mais singular.
Um dos grandes charmes da produção é o elenco de vozes originais dos animais, composto por nomes como Owen Wilson, Emma Stone, Christopher Mintz-Plasse, Steve Coogan, Marlon Wayans e Sam Elliott. Essa atração, no entanto, se perde na versão mais difundida no Brasil, dublada em português e sem o mesmo cuidado de escolher nomes de destaque. Na tela grande, Marmaduke continua aprontando das suas, e se arrependendo logo em seguida. Julga apressadamente, e tal qual um vira-lata, parece estar sempre à procura de aprovação. No entanto, somente quando se dá conta da sua verdadeira estatura – seja ela física ou representativa – é que tanto o personagem quanto o filme adquirem, finalmente, o seu espaço. Pena que, quando isso acontece, há pouco ainda para ser aproveitado. E o que resta é uma oportunidade desperdiçada, que dificilmente será reprisada.
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