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Sinopse

Antes de se tornar o primeiro juiz afro-descendente da Corte Suprema Americana, Thurgood Marshall deve lutar num caso pode definir sua carreira: defender Joseph Spell. O réu é um homem negro que está sendo acusado de atacar uma socialite branca em seu quarto, mas ele jura não ser o culpado do crime.

Crítica

Chadwick Boseman pode dizer que viveu inúmeros heróis no cinema. O mais óbvio e conhecido atende pelo nome de Pantera Negra e faz parte do universo cinematográfico da Marvel. Mas ele também já foi o rei do soul James Brown em Get on Up: A História de James Brown (2014) e interpretou Jackie Robinson, o primeiro atleta negro a jogar na liga de beisebol norte-americana em 42: A História de uma Lenda (2013). Para fechar o quarteto de grandes nomes heroicos afro-americanos, Boseman cativa ao viver o lendário Thurgood Marshall nesta cinebiografia correta dirigida por Reginald Hudlin, intitulada simplesmente Marshall. Para nós, brasileiros, talvez o nome não seja facilmente reconhecido. Mas Marshall foi o primeiro advogado negro a se tornar juiz da Suprema Corte norte-americana, em 1967. Um nome importantíssimo e, portanto, mais do que justificável a realização deste longa-metragem, indicado ao Oscar de Melhor Canção Original.

O roteiro é de Jacob e Michael Koskoff que, em vez de se embrenhar no momento mais conhecido da vida do seu retratado, vai além no passado, mostrando os anos iniciais da carreira do advogado. Em 1940, Marshall foi a Nova York, em nome da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor), defender o acusado Joseph Spell (Sterling K. Brown) das acusações de estupro feitas por sua patroa branca Eleanor Strubing (Kate Hudson). Para que ele pudesse exercer sua profissão na cidade, Marshall precisava de um colega que pedisse sua inclusão. Contra a vontade, o advogado Sam Friedman (Josh Gad) aceita ajudá-lo, mas se vê envolvido irremediavelmente com o caso quando o juiz Foster (James Cromwell) permite a presença de Marshall apenas como consultor e espectador na mesa do réu. Isso poderia ser uma ótima notícia para o promotor Loren Willis (Dan Stevens), dada a inexperiência nessas questões criminais de Friedman. Mas Marshall tem o poder de cativar e ensinar rapidamente, além de ser um investigador de mão cheia.

Reginald Hudlin estava há 15 anos sem dirigir longas para o cinema – seu último havia sido o fraco À Serviço de Sara (2002), com Matthew Perry e Elizabeth Hurley. Desde então, ele estava trabalhando mais como produtor, tendo, inclusive, produzido a festa da Academia em 2016, além de ter sido um dos homens por trás de Django Livre (2012), de Quentin Tarantino. Sua ausência atrás das câmeras por tanto tempo é notável em Marshall. Hudlin tem uma ótima história nas mãos, mas ela patina com a sua indecisão a respeito do tom desse drama. Por vezes sério demais, por outras sucumbindo às caras e bocas de Josh Gad, sem sentido algum. Por sorte, temos Chadwick Boseman, Sterling K. Brown e Kate Hudson em ótimas atuações, desviando a nossa atenção da insegurança de Hudlin quanto ao tom de seu filme. Boseman e Brown são dois grandes atores de sua geração e cada vez que dividem a tela, existem faíscas. O primeiro, muito correto, deseja livrar o réu das acusações apenas se este realmente não for culpado. Brown se diz inocente, mas esconde alguns segredos que fazem a trama girar. Enquanto isso, Hudson vive uma mulher que notoriamente tem esqueletos no seu armário e acaba por usar um perigoso expediente para salvar sua pele.

Ambientado na década de 1940, Marshall é um daqueles clássicos filmes de tribunal, com Hudlin emulando o estilo de alguns inesquecíveis longas – e tomando o cuidado para que seu elenco mantenha aquele estilo de atuação um tanto empostado que tanto se usava na Hollywood da época. Isso ajuda no feeling de um filme histórico, que reconta uma passagem importante na trajetória do advogado Thurgood Marshall. O resultado é tão empolgante que seria fácil transformar este longa num primeiro capítulo de uma cinessérie estrelada por Boseman, nos mostrando os casos pelos quais o futuro juiz da Suprema Corte passou até chegar ao seu auge na carreira. Quanto à música indicada, Stand up for Something, de Diane Warren e Common, ela é poderosa e traz uma mensagem de quebra de paradigmas e de força de caráter: “Nada vale alguma coisa, se você não lutar por algo”. Letra mais do que verdadeira para a trajetória do protagonista desta história.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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