Crítica
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Sinopse
Martin Eden é um jovem pobre e ingênuo, que se apaixona perdidamente por Elena Orsini. Ela retribui o sentimento mas, por pertencer a uma classe mais abastada, é impedida de se casar com ele. Decidido a tê-la como esposa, Martin passa a se dedicar cada vez mais ao estudo do mundo à sua volta, passando a expressar a forma como vê o mundo através de contos realistas bem duros. Seu plano é que, em dois anos, ele consiga o sustento e o aprendizado necessários para se casar com Elena, sem imaginar que tal jornada lhe traria também muitos questionamentos sobre seu papel perante a sociedade.
Crítica
Por mais que não seja tão conhecido nos dias atuais, "Martin Eden" é daqueles livros que fizeram barulho ao ser lançado. Em parte pelos temas abordados em pleno início do século XX, quando o mundo ainda se acostumava com as ideais sedutoras do socialismo ainda sem vê-lo em prática, mas muito devido à ousadia de seu autor, Jack London, em criticar de forma veemente o preconceito já existente entre as diversas castas sociais. Soma-se a isto um aprofundado estudo filosófico que correlaciona felicidade e conhecimento, inserido em questões bem complexas envolvendo a função do homem perante a sociedade e sua estrutura de trabalho.
Só de ler no parágrafo acima os temas abordados, pode-se de imediato notar que esta é uma história bastante densa. De forma a torná-la mais acessível ao espectador, o diretor Pietro Marcello assume de imediato algumas concessões. A principal delas é em relação à beleza de Martin Eden em pessoa, aqui interpretado pelo galã Luca Marinelli, premiado no Festival de Veneza por seu desempenho neste filme. Tal escolha nem se deve tanto às características do personagem, mas ao inserir nele também tal fator consegue-se potencializar a transformação psicológica pela qual Eden enfrenta em decorrência de seu maior conhecimento sobre o mundo que o cerca, ao mesmo tempo em que cria um contraste visual em torno do personagem-título. Marcello, neste aspecto, se apropria do quesito beleza em contraponto ao conhecimento, de forma a embaralhar ambos à medida que a narrativa avança.
Outro facilitador entregue pelo diretor tem a ver com o visual. Rodado em Super 16mm, Martin Eden possui uma fotografia característica do formato, com a imagem um tanto quanto granulada, o que, de imediato, conduz o espectador a uma necessária viagem no tempo de forma que logo se ambiente com a variação temporal existente nesta história. Mais do que situá-la a fatos marcantes do período, tal transição é importante para também melhor absorver as mudanças de personalidade em torno de Martin Eden, pontuando sempre que o tempo também é um fator preponderante ao que acontece.
No mais, Martin Eden entrega com competência os questionamentos levantados pelo livro escrito por Jack London, no sentido de denunciar os interesses de uma elite econômica e a crescente insatisfação decorrente do anseio em conhecer mais o mundo em que está inserido. Aos poucos, o típico heroi romântico e ingênuo é desconstruído de forma a eclodir em seu lugar alguém raivoso e até cínico, transformação esta que oferece a Marinelli farto material para exercitar sua versatilidade. Em tal jornada, merece atenção não só o desejo incessante em se expressar, independente da qualidade do material produzido, como se esta fosse uma necessidade da alma e também a firme postura encampada em relação ao individualismo em contraposição ao ascendente socialismo.
Pelos temas abordados, Martin Eden é um filme que rende um bom debate após a sessão, seja pela trajetória retratada ou mesmo por uma análise histórica, levando-se em conta o mundo que nos cerca hoje. Incita, ao menos, uma reflexão.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Francisco Russo | 7 |
Chico Fireman | 8 |
Cecilia Barroso | 5 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
MÉDIA | 7 |
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