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Sinopse

A infância e adolescência do escritor Edward Louis, filho de uma família operária pobre em uma aldeia da Picardia, que enfrenta rejeição e humilhação num local tomado pela homofobia.

Crítica

Exibido no Festival de Veneza, de onde saiu com o Queer Lion, prêmio para filmes com temática LGBT, Marvin é um belíssimo trabalho da cineasta Anne Fontaine (de Coco Antes de Chanel, 2009). O roteiro, assinado por ela ao lado de Pierre Trividic, se baseia livremente na autobiografia En finir avec Eddy Bellegueule, de Édouard Louis. Balanceando bem a jornada do protagonista, entre a infância e a jovem vida adulta, Fontaine constrói uma história educativa sobre preconceito sexual e a reinvenção de um garoto após sofrer no colégio e em sua própria casa os efeitos da homofobia.

O protagonista é Marvin Bijoux (Finnegan Oldfield), jovem ator que tenta sobressair na profissão. Quando criança, Marvin (Jules Porier) sofreu com os maus tratos dos colegas, que o atacavam por conta de sua fragilidade, praticando abusos verbais e, inclusive, sexuais. Em casa, o garoto não tinha folga. De família operária, ele também ouvia dos familiares os piores impropérios, principalmente do irmão mais velho e do padrasto. Sua válvula de escape acabou sendo o teatro, onde encontrou uma forma de se expressar. Mais velho, buscou a carreira artística, reinventando-se, trocando de nome e tentando apaziguar seus sentimentos.

A jornada de Marvin, na infância e na vida adulta, não nos é apresentada de forma cronológica. Os momentos do menino e do homem são costurados na trama, o que dá ritmo à narrativa e nos faz entender as ações do adulto, tão logo vemos o que acontece com sua versão infantil. Fontaine foi feliz em encontrar dois atores parecidos e igualmente talentosos para viver seu personagem-título. Oldfield é muito contido, o que se mostra um paralelo interessante entre o Marvin do “mundo real” e o dos palcos, onde ele realmente consegue se soltar. É uma performance calculada e que dá conta das emoções que o personagem precisa expor para o espectador. Por esse trabalho, o intérprete foi indicado ao César como Revelação.

Jules Porier, por sua vez, cativa pela sensibilidade e a forma como revela, por meio do olhar, desejos e confusão. A dobradinha com a atriz Catherine Mouchet, que faz a encorajadora diretora do colégio, é emocionante, por ser a primeira vez que alguém lhe estende a mão em toda aquela história. Fechando os destaques do elenco, temos uma pequena participação de Isabelle Huppert, vivendo ela mesma. É a atriz quem dá uma força para Marvin quando este está iniciando, servindo de parceira para uma encenação teatral muito pessoal do protagonista, já adulto. Huppert teria aceitado o convite de sua amiga, a diretora Anne Fontaine, ao sentir-se intrigada por poder viver uma versão de si mesma na telona.

Marvin tem cenas fortes de abuso, mas não é um filme realizado para chocar. A cineasta faz uso dessas sequências para mostrar uma realidade, na esperança de que ela não se repita. Em dados momentos, o filme é bastante didático por apontar como o preconceito – sexual, neste caso específico – atinge a vítima. Em casa ou no colégio, Marvin era um alvo ambulante. Com a família, tudo é ainda mais forte devido aos laços que nunca se encerram. O personagem faz uso de sua realidade como estopim à sua arte, algo que não cai bem nos ouvidos da mãe, que não enxergava seu preconceito. “Você era meu favorito”, diz, sem perceber o que fazia no passado. Por essas e outras, Marvin pode despertar conversas sobre preconceito, trato familiar, questões sexuais, e até acerca do papel da escola neste assunto.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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