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Sinopse

Goldthwait pretende assaltar um cassino no sul dos Estados Unidos. Para isso, organiza um grupo de colaboradores e aluga o quarto de uma senhora bondosa que logo descobre o plano e, assim, precisa ser eliminada.

Crítica

O irmãos Joel Ethan Coen são, por si só, uma marca em Hollywood. Seus filmes são garantia de um cinema original e diferenciado. Eles abusam de uma fina ousadia para propor a um público sedento por novidades algo que aumente esta curiosidade, sempre respaldados por idéias inovadoras ou, ao menos, interessantes. E mesmo sem acertarem sempre, mostram até mesmo através dessa falibilidade o quão humanos e geniais são. Se podemos comparar a carreira dos dois a uma montanha-russa, cheia de altos e baixos, é fato afirmar que esse remake de O Quinteto da Morte (1955) se constitui em um dos picos dessa trajetória.

Tendo à frente do elenco um Tom Hanks irreconhecível, dono de um trabalho de composição de personagem muito superior ao visto, por exemplo, em O Terminal (2004), Matadores de Velhinha é uma irresistível comédia de humor negro, inspirada no longa de mesmo nome de 1955, que tinha como protagonistas os excelentes Alec Guiness e Peter Sellers. A comparação entre os dois é um pouco injusta – o original é muito superior – mas o que importa nessa nova proposta é a garantia de diversão com bastante perspicácia e sarcasmo. Trata-se, portanto, de obra independente, o que possibilita uma análise enquanto trabalho acabado e único. E é sob esta ótica que o filme dos Coen se torna uma pérola a ser descoberta.

Hanks e sua trupe formam um inusitado bando de ladrões, que pretendem assaltar um cassino flutuante. Para o absurdo plano dar certo, será preciso dissimular uma mentira para uma senhora idosa (Irma P. Hall, prêmio especial do júri por sua atuação no Festival de Cannes). Precisam convencê-la a alugar para eles o porão de sua casa – sob o pretexto de que o lugar será usado para o ensaio de um grupo musical religioso – para que este funcione como ponto de encontro estratégico. Como, previsivelmente, nada transcorrerá tão facilmente quanto o imaginado, a velha vai descobrindo tudo aos poucos até se colocar como uma barreira a ser vencida entre as intenções dos vilões e a sonhada fortuna.

Os Coen fazem de Matadores de Velhinha um dos seus mais inspirados momentos, ao lado dos igualmente subestimados Na Roda da Fortuna (1994) e O Grande Lebowski (1998). Se o anterior O Amor Custa Caro (2003), feito um ano antes, naufragou por ser pretensioso e falsamente refinado, agora eles apresentam um alívio e tanto para os fãs, pois todos os elementos que ajudaram a construir a fama dos irmãos está ali presente, e em grande estilo: fina ironia empregada na dose certa, uma graça cartunesca e um non sense implacável. Tudo sob uma ótica em que ninguém – absolutamente ninguém – está à salvo, e o melhor sempre fica reservado ao próprio espectador.

Matadores de Velhinha é um presente para qualquer um que souber apreciar uma trama leve e divertida, e que ainda tem o mérito de privilegiar a inteligência do espectador. É uma produção que propõe comunicação com seu público sob vários níveis, desde os diversos diálogos com a obra de Edgar Allan Poe até a simples comédia de erros, em que o engano de uns serve, acima de tudo, para garantir o riso de tantos outros. Trata-se, em suma, de um regalo para o cérebro.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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