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Sinopse

Na manhã do dia de seu casamento, na iminência de deixar para trás a vida de oficial da lei, um xerife é informado de que bandidos por ele encarcerados foram soltos e desejam vingança. Todos na cidade se negam a ajuda-lo.

Crítica

No dia do seu casamento, o xerife Wil Kane, prócere de uma pequena cidade no Velho Oeste norte-americano, recebe a notícia de que o bandido Frank Miller teve seus crimes perdoados, e que chegará em poucas horas para levar à cabo a vingança contra quem o expurgou da localidade. O principal alvo de Frank, e dos três comparsas que aguardam sua chegada no trem do meio-dia, é justamente Kane, que se recusa a fugir mesmo sob protestos da mulher e aconselhamentos dos moradores. Começa então uma verdadeira corrida contra o tempo,em que Kanetentará buscar a ajuda dos corajosos locais, a fim de que não padeça.

Em Matar ou Morrer, este célebre western de Fred Zinnemann, a jornada física e psicologicamente desgastante do xerife Kane, bem como a apatia do povo que não parece disposto a se arriscar por quem no passado restaurou a paz local, dão a tônica narrativa, que impressiona ainda pela precisão e poder de síntese. Em menos de 90 minutos, Zinemann cria uma obra marcada pela tensão crescente, assim como pela impossibilidade da inércia ante uma situação que conduz inevitavelmente à tragédia. Para Kane é matar ou morrer, não existem saídas diplomáticas no oeste de homens bravios que defendem suas honras pela lei do olho por olho, dente por dente.

Desencorajado por todos, acuado e dividido entre os sensos de justiça e sobrevivência, o xerife Kane, interpretado brilhantemente por Gary Cooper, experimenta a solidão que só se agrava pela proximidade da morte, também provando o gosto amargo da hipocrisia e covardia dos próximos, verdadeiras antíteses do tipificado cowboy americano. O próprio Kane fraqueja, transpira medo mesmo quando tenta, em vão, convencer homens de fé inabalável a largarem suas posturas individuais na defesa de suas terras e de quem já muito os ajudou. A memória do povo é curta, e a ingratidão está aí para provar isto.

A música desempenha papel fundamental em Matar ou Morrer, pois auxilia sobremaneira no desenho do turbilhão de sentimentos vividos pelo protagonista, pesaroso da ausência da mulher que ama, ao mesmo tempo em que precisa criar uma tática de sobrevivência. O clímax pode parecer apressado, até mesmo simplista se enxergarmos as etapas anteriores do desenvolvimento narrativo apenas como preparação para o derradeiro. Mas justamente pelo contrário - o clímax na verdade serve de amplificação dos temas abordados nas fases passadas, é que Matar ou Morrer se mostra poderoso em suas intenções incomuns. Um filme belissimamente fotografado em preto e branco, que desconstrói o homem do oeste que nada teme, mostrando que mesmo os mais intrépidos daquela época, tremiam internamente ante a possibilidade de terem ceifadas suas vidas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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