Crítica
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Sinopse
Roberta é uma policial dedicada que promete não sossegar enquanto não desvendar os mistérios por trás da morte da atriz Antuérpia Fox. Sua colega Isabela se infiltra numa clínica em busca de respostas e encontra algo maior.
Crítica
É provável que Hsu Chien não seja tão reconhecido pelo público brasileiro como talvez merecesse. Afinal, sua filmografia atesta envolvimento em não dois ou três, nem dez ou doze, mas dezenas e mais dezenas de filmes realizados no país nos últimos vinte anos ou mais. Títulos como Copacabana (2001), Xuxa Abracadabra (2003), Gaijin: Ama-me Como Sou (2005), De Pernas Pro Ar (2010), Assalto ao Banco Central (2011), Minha Mãe e uma Peça (2013), Chatô: O Rei do Brasil (2015) e Eduardo e Mônica (2022), entre tantos outros, possuem em comum o fato de terem contado com ele como assistente de direção. Sua competência nessa área é mais do que comprovada, e só o volume de profissionais que recorrem a ele a cada novo projeto é uma prova mais do que válida. Porém, a impressão que se tem a partir dos seus trabalhos solo é que talvez lhe seja necessário contar com um cineasta mais tarimbado ao lado para evitar excessos e caminhos desnecessários. A comédia Ninguém Entra, Ninguém Sai (2017) foi um início claudicante, a refilmagem Quem Vai Ficar com Mário? (2021) enterrou muitas das boas intenções do longa original, e este Me Tira da Mira se mostra o mais equivocado dos três, justamente pela falta de uma mão segura que conseguisse tirar de uma ideia genérica um resultado minimamente digno de nota.
A ideia por aqui parece ser aproveitar ao máximo o encontro da família Fábio Jr, e a trama que os envolve surge quase como um mero detalhe. O patriarca é um dos protagonistas de um clássico do cinema nacional – Bye Bye Brasil (1980) – mas essa é uma experiência única em sua jornada. Afinal, sua consagração enquanto artista se deu como cantor, e não atuando. Tanto é que, nas duas últimas duas décadas, sua única aparição no cinema como personagem – e não interpretando a si mesmo, como em Fala Sério, Mãe! (2017) – foi na comédia romântica Qualquer Gato Vira-Lata 2 (2015), na qual aparecia rapidamente em cena como pai da protagonista, vivida por... Cléo Pires (que agora assina apenas como Cléo). Bom, é exatamente o mesmo que faz por aqui. Jorge (aliás, nos dois filmes surge com o mesmo nome, que também é homônimo de Jorge Tadeu, o tipo sedutor que defendeu na novela Pedra sobre Pedra, 1992) é um diretor da polícia federal que, apesar de ter inspirado a filha a seguir na carreira, também precisa lidar com a rebeldia da garota, que prefere atuar de modo independente: trabalha na civil, para ficar longe do comando paterno.
Os paralelos entre vida real e ficção se intensificam com a entrada em cena do parceiro dela: Lucas, que ganha o rosto de Fiuk. Como se sabe, não é fácil fazer cinema no Brasil, ainda mais em tempos pandêmicos. Para um filme estrear no início de 2022, suas filmagens devem ter ocorrido no mínimo um ano antes, se não mais. Exatamente na época em que o rapaz estava em alta evidência por todo o país após ter encerrado sua participação do Big Brother Brasil (programa que nos últimos tempos tem se tornado reduto de subcelebridades e artistas atravessando baixos índices de popularidade em busca de novas chances de estrelato). Não é difícil imaginar que a aposta tivesse sido em angariar esse mesmo espectador do reality também no cinema, agregando a essa oportunidade um viés familiar, potencializando o caráter voyeurístico do conjunto. Mas nada disso se vê na tela. Os três possuem uma única cena juntos. Fábio Jr mal aparece – e, quando faz, é apenas para rir consigo mesmo, citando letras de suas velhas canções – e Fiuk é tão engessado e pouco natural que a narrativa ganha agilidade quando não está por perto.
Tudo termina recaindo sobre os ombros de Cléo, portanto. A atriz havia vivido uma personagem semelhante no superior Operações Especiais (2015), mas dessa vez parece interessada mais em deixar sua persona aflorar, sem preocupação em se fundir em uma construção ficcional. A Roberta que enverga é uma mulher que gosta de fazer as coisas do seu modo, e quando desconfia que o suicídio de uma famosa artista talvez seja, na verdade, um assassinato, parte numa investigação que não é apoiada nem pelo pai, muito menos pelo próprio chefe. Assim, acaba elencando parceiras ao acaso, como uma psicóloga iniciante, uma recepcionista atrapalhada e uma figurinista disputada. Figuras que servem apenas para que influenciadoras digitais como Viih Tube e GKay apareçam por alguns instantes, sem relevância para a trama, mas garantindo um interesse passageiro. Pior ainda é quando tentam encarar o argumento de modo sério, envolvendo padrões estéticos e tráfico internacional, destoando ainda mais de um propósito que deveria ser cômico desde o início.
Além do descuido no trato com atores veteranos, como Vera Fischer e Stênio Garcia (ambos com participações pontuais, porém descartáveis), Me Tira da Mira deixa claro possuir apenas dois intérpretes de verdade no elenco: Sergio Guizé, que por mais vontade que demonstre acaba sucumbindo ao estereótipo do galã da ocasião, e Julia Rabello. Essa, aliás, é a única razão pela qual o desastre não é completo. Se há passagens naturalmente engraçadas, todas são quando a atriz está presente. O dilema entre as irmãs gêmeas – uma piada recorrente com as icônicas Ruth e Raquel – e os ataques de estrelismo que frequentemente incorpora são sempre bem encaixados, evidenciando sua versatilidade e talento. Hsu Chien juntou um grupo enorme de amigos e conhecidos. A impressão é que a cada absurdo sugerido, um outro ainda maior era posto em discussão, e todos acabaram sendo abraçados e inseridos no enredo, sem muito critério ou propósito. É fácil imaginar que tenham se divertido com tanta falta de noção. Pena terem esquecido em dividir toda essa graça com quem se aventurar em assisti-los.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 3 |
Lucas Salgado | 3 |
Alysson Oliveira | 3 |
Victor Hugo Furtado | 3 |
MÉDIA | 3 |
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