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Sinopse
Jovem aspirante a escritor, Kai está aproveitando as últimas semanas de escola com seus amigos. Porém, quando um deles morre em virtude de um acidente, os rumos das coisas são modificados drasticamente a todos.
Crítica
As angústias de crescer são algumas das principais molas propulsoras dos chamados filmes de amadurecimento, também conhecidos pela expressão coming-of-age, nomenclatura utilizada em língua inglesa. Medo de Amar bebe abertamente nessa fonte, ao menos tentando preservar uma espécie de melancolia ao investigar a etapa intermediária feita de expectativas quanto à vida adulta e de equivalente medo diante das tantas responsabilidades iminentes. O cineasta Guy Davies procura manter visualmente latente uma sensação de prostração, vide contraluzes invadindo planos, tornando ofuscada a visualização dos personagens, e a bem-vinda vontade de integrar o cenário na construção emocional com ares bastante conhecidos. Ao mesmo tempo, investe num polo oposto feito de afetos igualmente prestes a serem afetados pela saída do ensino médio. Ao desenhar o vínculo do protagonista, Kai (Joshua Glenister), com os melhores amigos, o realizador privilegia pontuações quanto à força dessa ligação e como existe uma noção crescente de tristeza em virtude do fato dos jovens saberem que em breve as coisas vão mudar drasticamente para todos.
O título original diz respeito à fobia de apaixonar-se. A partir dele, bem como da adequada adaptação ao português – ainda que medo e fobia sejam diferentes – pode-se imaginar que o filme vai abordar um trajeto entravado justamente por essa condição. Pois, não é bem o que acontece. Ainda que sofra por conta da dificuldade para chegar ao coração de Grace (Kim Spearman), a vizinha entalhada com base no arquétipo da bad girl autodestrutiva que implora para ser amada por alguém nobre e de bom coração, Kai não é destituído de determinação e/ou valentia para correr atrás da sua paixão. Todo esse envolvimento deles é também convencional, com o menino inteligente enredado pela mulher quase inatingível, pois namorada do valentão mais perigoso da escola. Gradativamente, o filme vai deixando de lado o que poderia lhe garantir singularidade e se apega aos chavões do filão, além disso, tentando condensar muitos deles em pouquíssimo tempo, assim gerando uma sobrecarga. Os conflitos do coração e da alma digladiam por atenção, não se complementam.
Medo de Amar é, apesar da celeridade para resolver certas questões, um filme prolixo. Guy Davies se demora em pontos pacíficos – vistos em várias produções similares – não demonstrando semelhante atenção às particularidades. Por exemplo, o imbróglio sentimental, que ainda conta com o surgimento de uma alternativa menos inatingível do que Grace, ocupa grande parte da extensão da trama. Kai espia a amada pela janela (mas desvia o olhar quando ela está prestes a ficar nua, afinal de contas é um cavalheiro sensível), é intimidado pelo “concorrente” e praticamente ignora as investidas sutis da colega novata por ele interessada. Já a ligação do protagonista com as palavras, motivo pelo qual frequentemente alguém lhe prenuncia um futuro brilhante longe daquela cidadezinha interiorana, é tratada superficialmente. Pontualmente, a narração em off sublinha esse talento. Ocasionalmente, vemos o garoto circulando expressões importantes. Porém, não passa tanto disso. Há uma frouxidão significativa na costura das diversas e fortes questões propostas pelo roteiro.
Ainda que apresente personagens interessantes e indagações pertinentes, Guy Davies coloca nas pouco mais de duas horas as principais características do filme de amadurecimento. Testemunhamos o ímpeto transgressor; a insatisfação com a vida doméstica; a falta de perspectivas; a noção exagerada de que os amores podem arder até provocar combustões emocionais absolutamente definitivas; a importância dos amigos; a relação com os pais (estranhamente entre o distanciado e o carinhoso); além de mestres sensíveis o suficiente para entender tudo isso. Não há qualquer problema em querer abordar a amplitude desse conjunto. O que faz Medo de Amar deixar a desejar é o fato de não dar conta de gerar uma imagem densa e, tendo isso em vista, estabelecer um painel realmente consistente. Somente no fim Kai age verdadeiramente na contramão do senso comum da bondade, algo que desafia os preceitos dos caminhos prodigiosos aos quais fora direcionado até ali. É pouco, inclusive como algo abrupto, nesse filme que mira em muitas direções, mas que hesita em puxar os gatilhos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Alysson Oliveira | 2 |
MÉDIA | 3 |
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