Crítica
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Sinopse
Sandra, uma adolescente de 16 anos, passa por um momento difícil. Sua mãe está desaparecida há dias e, por isso, a garota passa as tardes varando a cidade de bicicleta, atrás do seu paradeiro. Quando começa a perder as esperanças, decide pedir ajuda ao seu meio irmão, com quem cultiva uma relação distante. Ele, que também enfrenta problemas, não sabe como colaborar.
Crítica
São as circunstâncias extremas, muitas vezes trágicas, que geralmente impulsionam as jornadas adolescentes de amadurecimento forçado e a consequente perda da inocência. No caso de Sandra (Natália Molina), protagonista de Meio Irmão, é o abandono da mãe, desaparecida há dias, que funciona como gatilho para o seu rito de passagem. Ainda que, a princípio, encare a situação com certa naturalidade – ao longo da projeção, diversos personagens afirmam que essa não é a primeira vez que algo do tipo ocorre – buscando manter sua rotina normal por conta própria, Sandra vê as coisas ganharem ares mais preocupantes com o passar do tempo, com seu estoque de alimentos se extinguindo ou a água da casa acabando – levando-a a tomar banho com baldes de água furtada de um vizinho. Obrigada a procurar auxílio, e sabendo que não pode contar com pai, a primeira representação do abandono em sua vida, a garota se volta, então, a Jorge (Diego Avelino), o meio irmão do título, fruto de um relacionamento anterior de sua mãe.
O rapaz, que trabalha com o pai (Francisco Gomes) instalando câmeras de segurança, também tem seus conflitos particulares, como o sentimento reprimido em relação a um amigo, vítima de um ataque homofóbico registrado pela câmera de seu celular. Ato flagrado pelos agressores, que passam a ameaçar a vida de Jorge. Leva algum tempo até que a diretora Eliane Coster, em seu primeiro longa, entrelace estas jornadas até então paralelas, ambientadas no cenário urbano da zona leste de São Paulo e povoadas pela classe média baixa que vislumbra a possibilidade de ascensão social – caso do pai de Jorge, que sonha em abrir a própria empresa. Dentro deste contexto, Coster traz a visão de uma juventude marginalizada e desesperançosa, que vaga sem rumo em busca de uma válvula de escape da realidade sufocante da grande metrópole. E é em um tom de urgência e realismo que essa visão parece se apresentar inicialmente, algo presente na captação dos detalhes do universo da dupla principal.
Na conversa de Sandra com as colegas de classe sobre a gravidez precoce de uma das garotas, no diálogo entre Jorge e o pai durante o almoço sobre os programas policiais sensacionalistas ou nas fofocas entre as clientes do salão de beleza. Através de cenas como estas, Coster estabelece um retrato tangível, contando também com a desenvoltura de seus jovens atores para transmitir de modo natural – na maior parte do tempo - a angústia, insatisfação e mesmo a raiva acumuladas de seus personagens. Tendo este tom bem estabelecido, as constantes quebras do mesmo, propostas pela cineasta, acabam soando desconexas e sem um propósito definido. Sejam as sequências que pendem para o humor, como o pai de Jorge ouvindo a conversa sobre as aventuras sexuais de duas frequentadoras de uma igreja evangélica, Sandra sendo convidada e prontamente dispensada de um teste para atriz ou a amiga da mãe que surge para buscar um vestido e diz “adorar uma frase de efeito”.
Sejam os acenos quase oníricos a um elemento fantástico nas aparições capturadas pelas câmeras de segurança, no supermercado e no bordel, de uma figura vestindo uma máscara de touro. Ou ainda na cena em que Sandra perambula bêbada pela cidade buscando pela imagem da mãe em todas as mulheres da rua. Todos estes momentos terminam por desconectar o espectador da realidade até então apresentada, sem um motivo que não soe meramente estilístico/estético, consumindo ainda um tempo que poderia ser direcionado ao aprofundamento no desenvolvimento dos personagens e de suas relações. Além dessa variação tonal, Coster também demora a imprimir uma atmosfera real de ameaça em torno da história do vídeo feito por Jorge, algo que só ganha alguma densidade, de fato, já próximo ao desfecho.
Ainda tratando dos fatores que provocam um ruído na abordagem narrativa de Meio Irmão, temos puerilidade de boa parte dos diálogos, especialmente aqueles que tratam das questões contextuais – caso do citado desejo do pai de Jorge em abrir seu próprio negócio, e o desdém contido na reação do jovem, ou quando a dupla principal discute com seus respectivos confidentes/interesses amorosos a possibilidade de fuga e busca por um futuro diferente. Cenas como estas, em particular, refletem a impressão geral de uma obra que detém um potencial nunca plenamente atingido. Uma obra que possui fragmentos isolados de inspiração e sensibilidade, revelando um olhar interessante, mas ainda a ser lapidado de sua realizadora, bem como a capacidade para a composição de planos visualmente atrativos e o empenho dos jovens intérpretes principais, mas que, no todo, se mostra meio desajeitada em abraçar uma grande quantidade de temas, navegando entre estes de forma vacilante.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Leonardo Ribeiro | 5 |
Bruno Carmelo | 5 |
Robledo Milani | 6 |
Cecilia Barroso | 7 |
MÉDIA | 5.8 |
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