Crítica
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Sinopse
Crítica
O falecimento do avô faz com que o garoto Jake (Theo Taplitz) se mude para o Brooklyn. Somada à sua dificuldade de fazer amigos, essa novidade não se apresenta como algo efetivamente favorável. Contudo, já na chegada, ele recebe a atenção de Tony (Michael Barbieri), filho da locatária de um imóvel agora de seu pai. Melhores Amigos poderia ser mais um daqueles filmes completamente fundados numa relação estabelecida em meio às questões inerentes ao crescimento, com dois meninos aprendendo mutuamente. Também é, mas não só. O diretor Ira Sachs, em parceria novamente com o roteirista brasileiro Mauricio Zacharias, cria uma narrativa leve, mas que nem por isso se furta de tocar assuntos espinhosos, sem direcionamentos forçados aos famigerados finais conciliatórios. A amizade de Jake e Tony, mais que elemento central, é catalisadora das demais abordagens, que envolvem a frustração de um homem e a teimosia desesperada de uma mulher que insiste em permanecer.
Leonor, a mãe de Tony, é interpretada por Paulina Garcia. Essa imigrante chilena mantém a pequena loja de roupas com muita dificuldade e se vê acuada quando os herdeiros ensaiam aumentar consideravelmente o aluguel. Já o pai de Jake, vivido por Greg Kinnear, é um ator que não consegue sustentar a família, para isso apelando aos ganhos da esposa. Pressionado pela irmã, ele concorda em endurecer as coisas para a inquilina, mesmo que no fim das contas a atitude signifique despejar alguém que foi bastante próxima de seu recém-falecido genitor. É claro que essa briga respinga nos garotos, eles que fazem o possível para continuar juntos. Ira Sachs conduz Melhores Amigos sem pesar a mão, distribuindo entre os personagens bons momentos solo, nos quais eles conseguem se tornar simpáticos ao espectador. Disso decorre a sensação de inexistirem certos ou errados. O que há são pessoas lutando para afastarem seus fantasmas. Diante da celeuma de gente grande, a imaturidade juvenil é bem-vinda.
Na medida em que a trama avança, Melhores Amigos traz certo desencanto à afinidade dos garotos. Eles entendem que nada podem fazer para resolver o imbróglio dos pais, mas não se resignam sem lutar. Um longo período de silêncio é a melhor maneira que encontram para fazer frente às constantes discussões acerca de dinheiro e de outros temas que ainda lhes soam mesquinhos. Como o filme é filtrado pela experiência dos jovens, ou seja, não adquirindo os traços mais marcadamente dramáticos que as situações poderiam apresentar, caso fossem observadas do ponto de vista dos adultos implicados, o resultado é agridoce, com uma grande propensão a esperança. Estão presentes, também, boa parte dos elementos corriqueiros nos filmes de formação, como o aparecimento do primeiro amor, a busca pela vocação e as dificuldades de entendimento entre gerações distintas, algo utilizado de maneira ordinária por Sachs, ainda que com transparente ternura.
Em Melhores Amigos, a dramaturgia está a serviço de uma valorização dos afetos, sejam eles de que naturezas forem. O grande trunfo do filme é que, mesmo instaurando-se num filão – o dos exemplares fundados na amizade entre duas pessoas que tateiam do mundo à procura de identidades próprias –, não se restringe a ele, abrindo o foco para os outros personagens em cena que, a despeito de já terem crescido, não adquiram as respostas para todas as perguntas ou mesmo a capacidade de enfrentar problemas sem provocar danos. Ira Sachs não se preocupa em aparar eventuais arestas, em tornar alguém melhor que os demais ao espectador, lançando um olhar carinhoso aos participantes dessa ciranda emocional por vezes edificante, noutras pesada e, por fim, otimista. Crescer faz parte da vida, mas amadurecer nem sempre é uma consequência óbvia do processo, custando tempo e esforço.
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