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Crítica


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Sinopse

Num processo de dúvida e bloqueio criativo, um cineasta famoso começa a observar suas vida e obra de modo retrospectivo. Ao questionar a carreira, ele pensa se não deveria ter feito mais dramas do que comédias.

Crítica

Em momentos de completa crise existencial e criativa é bem comum diretores criarem filmes metalinguísticos, colocando suas próprias obras em análise. Woody Allen, como bom neurótico e tido como um autor exageradamente criativo, obviamente passa volta e meia por momentos assim. No final dos anos 1970, o motivo não era pela falta de qualidade ou como seu cinema havia desandado, como acontece nesses anos 2010. Allen estava à beira de um ataque de nervos quanto a se integrar em um gênero cinematográfico. Conhecido pelas comédias, o diretor fez sua primeira empreitada no gênero dramático com Interiores (1978), um filme que ainda divide opiniões entre a crítica.

Mesmo negando os traços autobiográficos, logo após essa experiência e apoiado nos comentários que diziam que deveria se ater às comédias, o diretor realizou Memórias. A história é sobre Sandy Bates, um cineasta em crise que faz um retrospecto de seus trabalhos, inspirações e pessoas que passaram pela sua vida através de uma mostra de seus trabalhos. Apesar de óbvia, a comparação com 8 ½ (1963) é rejeitada pelo próprio Allen. Em entrevistas, sempre que esse assunto aparecia, ele comentava que mesmo tendo colocado como título de trabalho "Woody Allen 4", essa comparação seria absurda já que não era nem metade de um Federico Fellini.

Se baseando no mesmo conceito explorado pelo mestre italiano para um realizador em crise, o norte-americano traz aqui sua insatisfação mais com os críticos de cinema de seu país do que com o público. Fazendo uso de suas musas e de todas as burocracias das realizações cinematográficas com muito bom humor, Allen mescla, como sabe muito bem fazer, a comédia e o drama. A produção é uma dramédia metalinguista e existencialista, sim. Mas, bem além disso, é o retrato de um apaixonado.

Como sempre interpretando um romântico de um jeito bem peculiar e azedo, Allen faz de Bates um personagem repleto de neuroses, porém inegavelmente apaixonado pelo cinema e pelas mulheres. Como uma das musas, a ex-mulher dele, Dorrie, é interpretada pela sempre excepcional Charlotte Rampling. Uma das ex-namoradas francesas surge na pele de Marie-Christine Barrault, uma das grandes atrizes inspiradoras do cinema de Eric Rohmer, vista em filmes como Minha Noite com Ela (1969) e Amor à Tarde (1972).

Lançado após Manhattan (1978), um verdadeiro clássico de Allen e do cinema, Memórias acabou à sombra. Longe de ser uma obra superior ao longa pregresso – definitivo para elevá-lo ainda mais como um grande autor americano, e sem dúvidas o que melhor retrata Nova York – este trabalho seguinte acabou caindo no esquecimento, apesar de trazer novos apontamentos sobre o subconsciente, neuroses e a beleza da vida em meio ao falso pessimismo e momentos de crise. Deveria ser redescoberta e, quem sabe, revisitada tanto pelo público quanto pelo cineasta, que anda perdido em filmes insossos.

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é graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e mestrando em Estudos de Arte pela Universidade do Porto, em Portugal.
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